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Metas da indústria fóssil estão “profundamente desalinhadas com os padrões de credibilidade da ONU”, diz relatório

Por Nayara Machado em Agência EPBR | Levantamento divulgado nesta segunda (12/6) pelo Net Zero Tracker (NZT) mostra que os compromissos com emissões líquidas zero de gases de efeito estufa estão cada vez mais comuns no setor de combustíveis fósseis, mas as metas estão “profundamente desalinhadas com os padrões de credibilidade da ONU”.

Atualmente, 75 das 114 maiores empresas de óleo, gás e carvão do mundo têm metas de zero líquido, ante 51 em junho de 2022. No entanto, nenhuma delas tem “metas específicas destinadas a acabar com o uso e/ou apoio a combustíveis fósseis”.

Diz muito sobre a credibilidade. Ter compromissos claros com a transição completa da extração ou produção de combustíveis fósseis é um dos parâmetros da ONU para avaliar a aderência dos planos de descarbonização com o objetivo global de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100.

É também um dos objetos de negociação das conferências climáticas anuais, as COPs. A deste ano, aliás, será sediada nos Emirados Árabes Unidos, presidida por um CEO do O&G, e com poucas chances de avançar nesse tema.

O setor está apostando na diversificação de portfólio e em estratégias para descarbonizar a produção, de forma a prolongar a vida dos ativos, sob o argumento da segurança energética. Entre os exemplos estão os investimentos em captura de carbono e hidrogênio.

Analisando os compromissos divulgados pelas empresas, o NZT também constatou que a maioria das 75 metas líquidas zero não cobre totalmente ou não esclarece seus planos em relação às emissões do Escopo 3.

Por tratar das emissões da cadeia, inclusive o uso dos combustíveis produzidos por essas empresas, o Escopo 3 é justamente o que concentra o maior problema.

Ou seja, não tratar dele torna os compromissos “amplamente sem sentido”, dizem os pesquisadores do NZT.

A plataforma é financiada pelas fundações European Climate, ClimateWorks e IKEA Foundation e administrada pela Unidade de Inteligência de Energia e Clima da Grã-Bretanha e pela Universidade de Oxford.

Para dar uma ideia da dimensão: o escopo 3 responde por 80 a 95% do total de emissões de carbono das empresas de petróleo e gás.

Segundo um estudo da Wood Mackenzie, neste segmento, apenas dez produtores têm metas para zerar emissões de escopo 3. São as majors europeias bp, Eni, Equinor, Shell e TotalEnergies, além de Repsol, OMV, Oxy, Denbury e CRC.

Enquanto isso, o planeta aquece

A previsão é de calor e secas no Hemisfério Sul, com o Brasil entre os mais afetados, pela combinação de mudança climática e El Niño.

Na última semana, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, em inglês) emitiu um aviso de que, pelos próximos meses, o padrão climático El Niño – mais quente – deve ser sentido fortemente na região, com secas intensas.

Na última vez em que houve um El Niño, em 2016, o mundo teve o ano mais quente já registrado. Juntamente com o aquecimento causado pelas atividades humanas, 2023 e/ou 2024 podem atingir novas máximas. G1

Uma década perdida

Cientistas da Universidade Dartmouth (EUA) calculam que a atividade econômica global nas décadas seguintes ao fenômeno tem uma característica comum: desaceleração do crescimento que se prolonga por mais de cinco anos. Países equatoriais como o Brasil, Equador e Indonésia perderam entre 5% a 19% de seus PIBs após o fenômeno registrado entre 1997 e 1998, diz a pesquisa. CNN

E vem mais investimento fóssil

O novo CEO da Shell, Wael Sawan, está colocando a empresa de volta na direção de uma maior produção de petróleo até o final da década, tentando fortalecer a confiança dos investidores devido aos fracos retornos das renováveis, relata a Reuters.

Segundo a agência internacional, a petroleira anunciará, na quarta (14/6) o cancelamento da meta de reduzir a produção de petróleo em 1% a 2% ao ano.


Este texto foi originalmente publicado pela Agência epbr de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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