Cientistas apontam que é improvável que níveis voltem a cair novamente abaixo da marca de simbólica ultrapassada pela primeira vez em 2013
O ano de 2016 está quase consolidado como aquele em que a concentração de dióxido de carbono no globo ultrapassou oficialmente a barreira simbólica de 400 partes por milhão. Valores diários e semanais da medição do Observatório do Mauna Loa (Havaí) durante setembro, mês característico por ser um dos mais baixos em concentração de CO2, têm se mantido acima de 400 ppm, e cientistas preveem que devem finalizar o mês em 401 ppm. Os valores de setembro costumam estar entre os mais baixos do ano devido ao crescimento de plantas que, na primavera e no verão do hemisfério Norte, auxiliam na absorção do gás ao fazer fotossíntese. Já no outono (estação que começa em setembro no norte do planeta), pico sazonal do ciclo, as mesmas plantas perdem suas folhas, que se decompõem e liberam o carbono absorvido para a atmosfera.
De acordo com Ralph Keeling, cientista do Instituto Scripps de Oceanografia, responsável por medir a variação na concentração do principal gás de efeito estufa no Mauna Loa, evidências das últimas duas décadas apontam que os níveis de concentração até podem diminuir em outubro, mas não o suficiente para que fiquem abaixo de 400 ppm. E, até novembro, quando o ciclo retorna a valores tradicionalmente mais elevados, a previsão é de um novo recorde e uma possível quebra de outra barreira: a de 410ppm. “É possível que vejamos breves retornos a valores mais baixos, mas parece seguro concluir que não veremos um valor mensal abaixo de 400 ppm neste ano, ou novamente por um futuro indefinido”, escreveu Keeling no site do instituto.
A informação é preocupante: nos últimos 800 mil anos, os níveis de concentração jamais ultrapassaram 280 a 300 ppm, tendo atingido 400 ppm pela primeira vez no ano de 2013, durante o pico sazonal do outono. Em 2015, o planeta fechou o ano com valores de 400,9 ppm. Trazendo estes números para a realidade de nossa rotina, eles representam um aumento cada vez maior no aquecimento do planeta. Modelos climáticos sugerem que atingir algo em torno de 550 ppm faria o planeta esquentar 3 graus Celsius. Nem precisamos ir tão longe: para manter a temperatura em limites nos quais a humanidade possa se adaptar, é preciso limitar a concentração a, no máximo, 450 ppm.