Etiópia e Moçambique enfrentam as piores estiagens em décadas. Cerca de 6 milhões crianças etiopianas vão precisar de assistência alimentar em 2016. Nos próximos 12 meses, 190 mil crianças moçambicanas deverão sofrer malnutrição aguda
Imagem: Unicef / Ayene
Embora o ciclo de um dos El Niños mais intensos já registrados tenha chegado ao fim, mais de 25 milhões de crianças devem continuar sofrendo as consequências do fenômeno climático pelos próximos meses em comunidades vulneráveis de países como Angola, Lesoto, Moçambique, Zimbábue, Etiópia e Suazilândia.
O alerta é de um estudo divulgado em 8 de julho pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Segundo a agência da ONU, as graves secas e inundações provocadas pelo El Niño têm agravado a fome, a desnutrição e a proliferação de doenças entre milhões de menores — que poderão ser afetados ainda por um outro evento climático, o La Niña.
A Etiópia, por exemplo, está enfrentando a pior estiagem dos últimos 50 anos. No país, 10,2 milhões de pessoas — das quais 6 milhões são crianças — vão precisar de assistência alimentar em 2016.
As consequências da desnutrição para o futuro dos jovens, principalmente os menores de cinco anos, incluem riscos mais altos de doenças, de morte prematura e de prejuízos para o desenvolvimento mental.
Moçambique também passa por um período excepcional de secas, que já são as piores verificadas em 30 anos. Cerca de 1,5 milhão de indivíduos enfrentam insegurança alimentar e previsões indicam que 190 mil crianças sofrerão malnutrição aguda pelos próximos 12 meses.
Em Angola, 1,4 milhão de pessoas, incluindo 756 mil crianças, estão sendo afetadas por estiagens. Do contingente de meninos e meninas, quase 96 mil foram diagnosticados com malnutrição aguda severa. A nação africana também enfrenta um surto de febre amarela que já matou mais de 340 pessoas de dezembro de 2015 a junho de 2016.
Na Suazilândia, 300 mil pessoas — quase um quarto da população do país — também sofrem os impactos de estiagens prolongadas. Em Lesoto, são 310 mil crianças em situação de insegurança alimentar. Pouco mais de 12% dos jovens do país têm de lidar com subnutrição crônica.
Segundo o relatório do Unicef, além de passarem fome, crianças estão com o futuro em risco, pois o clima extremo interrompeu a frequência escolar, aumentou o número de doenças e deteriorou os meios de subsistência de suas famílias.
A ausência escolar muitas vezes aumenta o risco das crianças de sofrerem abuso, exploração e, em algumas áreas, estarem sujeitas ao casamento infantil.
“Além disso, precisam de ajuda para acelerar a redução do risco de desastres e se adaptarem às alterações climáticas, que estão causando eventos mais intensos e mais frequentes “, explicou a diretora dos Programas de Emergência do Unicef, Afshan Khan. “As mesmas crianças que são afetadas pelo El Niño e ameaçadas pelo La Niña estão na linha de frente da mudança climática.”
A agência da ONU destacou ainda que o acesso à água potável ficou escasso em muitos países, levando a uma elevação no número de casos de dengue, diarreia e cólera — enfermidades que são as principais causas de mortes das crianças.
Risco de HIV pode aumentar
Em seu relatório, o Unicef também manifestou forte preocupação com a possibilidade dos impactos do El Niño levarem a um aumento dos casos de HIV, em especial no sul da África, que é o epicentro da epidemia.
A insegurança alimentar prejudica os pacientes portadores da doença, que acabam não tomando o antirretroviral de estômago vazio e usam os recursos limitados para comprarem comida, em vez de pegarem o transporte até o posto de saúde.
Segundo a agência da ONU, a mortalidade de crianças que vivem com o HIV é de duas a seis vezes maior em desnutridos.
El Niño favorece proliferação de zika, dengue, febre amarela e chikungunya
O Brasil e a América do Sul também foram citados no estudo do Unicef sobre as consequências do El Niño, pois o fenômeno climático teria criado condições favoráveis para a reprodução do mosquito Aedes aegypti — transmissor da zika, da dengue, da febre amarela e da chikungunya — no país e na região.
Fonte: ONUBr
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