Conservação do palmito é fundamental para reconstrução da Mata Atlântica, no litoral do Paraná

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O palmito não é apenas um alimento saboroso, ele é cheio de benefícios à saúde, como a ajuda ao controle da pressão arterial, a atuação contra a retenção de líquidos e contribuição para um excelente funcionamento do intestino. Além disso, o palmito é rico em cálcio e ferro – importantes para a formação dos tecidos e para a manutenção dos ossos.

Como se ainda não bastasse, a palmeira (planta de onde é extraído o palmito) é importante para a manutenção da biodiversidade de vários ecossistemas. Mas, apesar de todos estes pontos positivos, o palmito também é a causa da depredação de uma espécie de palmeira: a juçara.

importância dessa palmeira para a Mata Atlântica é da maior relevância, e os danos que a extração do palmito causam comprometem sua existência. A população dessa palmeira tem diminuído drasticamente com o processo de fragmentação de florestas, além de sua regeneração estar fortemente reduzida pela intensa exploração, decorrente do alto valor alimentício e comercial do palmito.

Diante desse cenário, esforços têm sido empregados na promoção de sua preservação, sendo que alguns se destacam por sua abrangência e envolvimento de comunidades que residem nas proximidades. Alguns dos trabalhos desenvolvidos para a preservação da palmeira-juçara giram em torno do extrativismo, uma vez que, em muitos lugares, as comunidades se utilizam da venda do palmito para sobreviverem. Sendo assim, os projetos estimulam o manejo sustentável dos frutos da planta – que lembra muito o açaí, mas difere em fatores como o tipo de crescimento (que é menor) e a área de ocorrência natural da planta (que ocorre do Rio Grande do Sul até a Bahia, enquanto o açaí na Amazônia) – para evitar que a extração do palmito seja a única forma de se obter renda da palmeira.

“A proposta na qual acreditamos e trabalhamos, juntamente com a Rede Juçara, fundamenta-se na produção de frutos de juçara em sistemas agroflorestais. Atualmente, os quintais agroflorestais com juçara no Litoral do Paraná, são uma das principais formas de conservação de material genético da espécie”, afirma Francisco Paulo Chaimsohn, pesquisador do Instituto Agrônomo do Paraná. “O rendimento de trabalho é um dos fatores essenciais para expansão da atividade (produção de açaí de frutos de juçara) e pode ser entendido facilmente: imagine um homem coletar 100 kg de frutos em um hectare ou mais de 1000 kg de frutos no mesmo hectare. Como a mão de obra é um dos principais fatores de custo, o rendimento do trabalho é fundamental”, complementa (veja aqui alguns dos usos dos frutos da palmeira). 

No entanto, ainda existem outras razões para se apostar no manejo dos frutos, “Além da conservação de material genético e aumento no rendimento do trabalho, a produção de frutos em sistemas agroflorestais e seu processamento geram uma quantidade importante de sementes com alto poder germinativo, que pode ser disponibilizada para o repovoamento, inclusive e principalmente em áreas de floresta”. Porém, Francisco ressalta que “também é importante observar que estudos de impacto, tanto negativo quanto positivo, são importantes para expansão e consolidação da atividade e os efeitos que o extrativismo puro e simples de frutos de juçara pode determinar sobre a fauna”.

Imagem redimensionada de Valentin Salja, está disponível no Unsplash

Não se compara

O manejo dos frutos, portanto, apresenta impacto extremamente inferior àquele causado pela extração do palmito da palmeira juçara. Por outro lado, tais frutos são importantes na composição da dieta de herbívoros, vertebrados e invertebrados, que por sua vez contribuem para a disseminação das sementes pela mata. Dados de estudo da bióloga Marina Corrêa Côrtes conferem a dimensão do desafio ao aferir que apesar da frutificação abundante da planta (cerca de três mil sementes/ano), apenas cerca de 20% desse total se transforma em árvores.

Dentro desse contexto, surge a importância das reservas naturais, a exemplo da Reserva Natural Salto Morato. Por se tratar de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), seu objetivo precípuo se orienta à conservação da biodiversidade e esse trabalho é desenvolvido pela Fundação Boticário, que realiza pesquisas com a palmeira juçara na análise do status de conservação da espécie. A proposta está no Plano de manejo da Reserva, ou seja, a preservação da planta faz parte do estatuto que rege a reserva.

Para que isso fosse feito, um levantamento da estrutura populacional da espécie foi realizado em 2011 e, entre as ações prioritárias de conservação desdobradas, foram empregados esforços no envolvimento da comunidade local, parceiros e profissionais da Fundação Grupo Boticário em campanhas de semeadura de palmeiras juçara.

O resultado foi que, em 2012, foram realizadas semeaduras de 2,5 mil kg de sementes (cerca de 3,5 milhões de sementes), segundo dados divulgados pela instituição. Em 2013, ainda será realizado um esforço para acompanhar o desenvolvimento populacional da espécie a partir do monitoramento das parcelas amostradas em 2011. Com relação ao trabalho em conjunto com as comunidades, a fundação financia projetos de conservação em todo o país, dentro e fora de unidades de conservação (como a Reserva Salto Morato). Neste caso, o envolvimento das pessoas e comunidades é direto.

Além dos esforços na Reserva Natural do Salto Morato, a Fundação Grupo Boticário, em parceria com a Fundação Araucária, apoia um projeto que visa a estabelecer políticas de conservação baseadas em estudos ecológicos para a extração do açaí, com a finalidade de conservar populações com alta variabilidade genética, o que motivará o incremento de sistemas de produção que, indiretamente, contribuirão para a regeneração natural da espécie em ecossistemas naturais.

Contudo, a realidade é que é praticamente impossível impedir que as pessoas consumam o palmito juçara sem um profundo trabalho de conscientização sobre os problemas associados à prática. Neste sentido cada um pode contribuir para a mudança do quadro. Portanto, na hora de comprar palmitos, verifique se está adquirindo o palmito do tipo pupunha (e não juçara), pois este leva muito menos tempo para se formar (18 a 24 meses após plantio), além de apresentar várias outras características que o tornam mais atraente para o cultivo, como não apresentar a necessidade de replantio. Dessa forma, sua atitude também contribuirá com o valioso trabalho desempenhado nas iniciativas que aqui descrevemos, projetos sérios e de grande importância que visam a redução dos danos do extrativismo predatório e a preservação da biodiversidade, tão ameaçada em nossos tempos.

Equipe eCycle

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