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Pesquisa mostra que os projetos de preservação para espécies terrestres protegem apenas 20% das espécies de água doce

Imagem de Milada Vigerova por Pixabay

Apesar de cobrir menos de 1% da superfície da Terra, os ecossistemas de água doce abrigam mais de 10% de todas as espécies conhecidas. No entanto, esses ecossistemas vêm sofrendo um declínio catastrófico da biodiversidade uma vez que, desde 1970, mais de 80% de suas populações de vertebrados foram perdidas devido às ações humanas. Essas perdas são duas vezes maiores do que as perdas sofridas em ecossistemas terrestres, que acabam mesmo assim recebendo mais atenção das ações de conservação. Um novo estudo, publicado na revista Science, avaliou mais de 1.500 espécies de água doce e terrestres na Amazônia brasileira e investigou se a conservação direcionada às espécies terrestres garante proteção às espécies de água doce.

A primeira autora do estudo, Cecília Gontijo Leal, realiza seu pós-doutorado no Laboratório de Hidrologia Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. Cecília explica que “os projetos de conservação geralmente se concentram na proteção de espécies terrestres sob o pressuposto de que as espécies de água doce serão automaticamente protegidas”. No entanto, o estudo mostra que as iniciativas de conservação baseadas em espécies terrestres protegem apenas 20% das espécies de água doce que teriam sido protegidas a partir de ações de conservação com essa finalidade. “Para enfrentar a crise da biodiversidade de água doce, essas espécies precisam ser explicitamente incorporadas ao planejamento da conservação”, complementa a pesquisadora.

Equipe internacional

A pesquisa realizada pela Rede Amazônia Sustentável – uma iniciativa envolvendo cientistas do Brasil, Europa, EUA e Austrália – considerou o quanto a proteção da biodiversidade de água doce poderia ser aumentada por meio de ações de conservação que considerassem simultaneamente espécies de água doce e terrestres.

As descobertas foram descritas pelo cientista Gareth Lennox, da Lancaster University, coautor principal: “Por meio do planejamento integrado que incorpora informações sobre as espécies de água doce e terrestre, descobrimos que a proteção da água doce pode ser aumentada em até 600% sem redução na proteção das espécies terrestres. Esta é uma situação rara em que todos ganham na conservação, ou seja, a proteção de um grupo de espécies não requer perdas de proteção para outros ou aumento significativo de financiamento”. Em outras palavras, a preservação das espécies de água doce seria imensa diante de ações específicas para este fim e isso exigiria um aumento ínfimo no investimento de conservação de espécies terrestres.

Dado que as espécies terrestres geralmente são mais conhecidas pela ciência, as informações sobre a distribuição das espécies de água doce são escassas para muitos lugares, especialmente em países megadiversos como o Brasil. Assim os pesquisadores questionavam se isso representa um problema para a conservação e como proteger as espécies se não sabem exatamente onde elas estão?

Metodologia

Para proteger as espécies de água doce em tais circunstâncias, os pesquisadores desenvolveram um novo método. O professor Silvio Ferraz, do Departamento de Ciências Florestais da Esalq, explica que “o aumento do desmatamento na Amazônia frequentemente nos remete mais à biodiversidade terrestre, mas a conservação da água e das espécies aquáticas depende da floresta e da conectividade dos rios”. Para Ferraz é fundamental considerarmos a conexão entre os ambientes terrestres e aquáticos. “Ao planejar redes de reservas de conservação que levam essa conectividade em consideração, descobrimos que a proteção da água doce poderia ser duplicada mesmo sem se conhecer totalmente as espécies aquáticas. Isso mostra que podemos melhorar a conservação da biodiversidade de água doce, sem reduzir a proteção das espécies terrestres, sem aumentos significativos no investimento em conservação e mesmo em regiões do mundo onde a biodiversidade é pouco conhecida”, pondera o docente.

O professor Jos Barlow, da Lancaster University, resume as implicações do estudo. “A urgência da crise da biodiversidade que a humanidade enfrenta significa que não podemos mais ignorar espécies criticamente importantes e ameaçadas de extinção, como aquelas que habitam os ecossistemas de água doce. Nossas descobertas mostram que a conservação que pensa nos ecossistemas de forma integrada pode fornecer resultados substancialmente melhores em comparação com esforços com foco mais restrito.”

Acesse o artigo na íntegra.



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