A contaminação por mercúrio é um problema global que afeta tanto a saúde pública quanto o meio ambiente. A exposição ao mercúrio pode levar a danos no sistema nervoso e no desenvolvimento infantil, além de afetar a vida selvagem e a qualidade dos recursos hídricos e do solo. Neste sentido, compreender como essa contaminação ocorre é essencial para tomar as medidas necessárias de prevenção e controle.
O mercúrio, representado pelo símbolo Hg, é um metal pesado de cor prateada, sendo o único metal que se encontra em estado líquido em condições normais de temperatura e pressão. Este elemento químico possui baixa reatividade, o que o torna imune à maioria dos ácidos, exceto aqueles altamente oxidantes, como o ácido sulfúrico e o ácido nítrico [1]. Além disso, ele é um bom condutor de corrente elétrica e de calor, por isso ainda é comum encontrá-lo em termômetros.
Na natureza, o mercúrio é encontrado principalmente em três formas: metálico, orgânico e inorgânico. O mercúrio metálico é o tipo mais comum, sendo utilizado como matéria-prima em diversos produtos e atividades, como mineração, fabricação de termômetros e barômetros, catalisadores em processos químicos, eletrodos de baterias, pigmento em tintas, amálgamas dentárias e fabricação de lâmpadas fluorescentes [2].
Já o mercúrio orgânico é formado quando o elemento se liga a compostos orgânicos. O metilmercúrio é o exemplo mais comum de mercúrio orgânico. Estes compostos orgânicos de mercúrio são os mais importantes sob o ponto de vista toxicológico, uma vez que podem se ligar a proteínas importantes no organismo, como a hemoglobina, e comprometer o transporte de oxigênio pelo sangue, a regulação do pH e a atividade enzimática [3].
Por fim, o mercúrio inorgânico pode ocorrer naturalmente no meio ambiente, mas geralmente é produzido em ambientes industriais, principalmente quando combinado com outros elementos, como enxofre e oxigênio. Além disso, após um descarte inadequado, o mercúrio pode se acumular nas cadeias alimentares por meio de microrganismos no solo e na água, quando estes convertem o metal em metilmercúrio [4].
O mercúrio é um metal que ocorre naturalmente na crosta terrestre e pode ser encontrado tanto na forma de minério como em estado líquido. No entanto, a contaminação por mercúrio pode acontecer de várias maneiras, por fontes naturais ou antrópicas.
Os vulcões, durante suas erupções, liberam na atmosfera o mercúrio que estava contido no magma [5]. Além disso, a erosão das rochas que contêm mercúrio também contribui para sua disseminação, especialmente quando a água da chuva transporta esse metal para camadas mais profundas do solo e para corpos d’água [6].
As atividades sísmicas, como terremotos, podem desencadear a liberação de mercúrio presente nas rochas e no solo, enquanto processos de desgaseificação da crosta terrestre também podem emitir o metal na atmosfera [7].
Adicionalmente, os ventos, ao suspenderem partículas do solo que contêm mercúrio, ajudam a espalhá-lo por vastas áreas. Por fim, os incêndios florestais podem ser fontes de mercúrio, já que as plantas absorvem esse metal do solo e, ao serem queimadas, liberam-no de volta ao ar [8].
No entanto, apesar da importância dessas fontes naturais, é preciso reconhecer que as atividades humanas têm desempenhado um papel significativo no aumento da quantidade de mercúrio emitido no ambiente.
As atividades humanas são responsáveis por uma grande parte da contaminação por mercúrio. Dentre as fontes antropogênicas desse metal, as indústrias, especialmente as relacionadas à produção de cloro, soda cáustica e seus derivados, e as áreas de garimpo de ouro possuem um papel importante [9]. Em relação ao garimpo de ouro, estudos mostram que populações indígenas são as mais vulneráveis à exposição ao mercúrio [10].
Além disso, a queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, também contribui para a liberação de mercúrio na atmosfera [11].
O uso de mercúrio em dispositivos eletrônicos, como telas LCD, interruptores elétricos e lâmpadas fluorescentes, é outra fonte importante de contaminação [12]. Ademais, o mercúrio é utilizado em termômetros devido à sua condutividade e expansão térmica uniforme e previsível, ideal para uma medição mais precisa, mas que pode gerar o risco de contaminação após sua quebra [13].
Já na agricultura, a aplicação de pesticidas contendo mercúrio pode causar um aumento significativo na concentração desse metal no ambiente, especialmente na água e no solo [14]. Além disso, o descarte inadequado de produtos contendo mercúrio, como o lixo eletrônico, pode contaminar solos, lençóis freáticos e organismos da fauna e flora [12].
Existem várias maneiras pelas quais os seres humanos podem entrar em contato com o mercúrio, e cada uma dessas rotas de exposição pode ter consequências distintas para a saúde.
A inalação de vapores de mercúrio é uma das formas mais comuns de exposição. Isso geralmente ocorre em ambientes de trabalho, como em indústrias de mineração ou na fabricação de produtos que contêm mercúrio. Os sintomas decorrentes da inalação desses vapores podem variar, incluindo disfunção neurológica, distúrbios gastrointestinais, fraqueza muscular, perda de memória, insônia, perda de peso e anorexia [15].
Outra rota de exposição comum é a ingestão de alimentos contaminados, especialmente peixes e frutos do mar. O metilmercúrio se acumula nos tecidos desses animais e pode ser ingerido pelos seres humanos, resultando em problemas neurológicos, imunológicos e renais [16].
Além disso, a água contaminada por mercúrio também pode representar uma rota de exposição. Isso pode ocorrer quando o metal é liberado no meio ambiente por meio de atividades industriais ou naturais, contaminando as fontes de água [17].
O contato direto com mercúrio ou produtos que o contenham pode levar à absorção do metal pela pele, através da epiderme, glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas e folículos capilares, causando irritação e inchaço no local [18].
O mercúrio pode se concentrar na mucosa bucal, glândulas salivares, aparelho respiratório e pulmões, sangue, fígado, rins, cérebro, ossos e medula óssea. Este metal tem a capacidade de danificar o sistema nervoso central, resultando em mudanças frequentes de humor, alterações na memória, dor de cabeça e enxaqueca, tontura, delírios e alucinações, problemas cognitivos, como dificuldade de concentração e perda de memória, bem como anormalidades nos reflexos e funções motoras [16, 19].
Além disso, o mercúrio pode causar problemas graves e permanentes, como bronquite, edema pulmonar, salivação excessiva, gosto metálico na boca, dor abdominal, vômito, diarreia, coma e morte. Este metal também possui a capacidade de atravessar a barreira placentária e atingir fetos em desenvolvimento em mulheres gestantes, causando grandes danos a ambos, mãe e bebê [19].
Por fim, ele pode afetar o sistema cardiovascular, levando a problemas como hipertensão e doenças cardíacas.
O mercúrio também tem um impacto significativo no meio ambiente. Este metal pode se acumular em organismos aquáticos, especialmente peixes, por meio de um processo conhecido como bioacumulação. Isso pode levar à contaminação de toda a cadeia alimentar [20].
Adicionalmente, o metal pode contaminar solos e corpos hídricos, afetando a qualidade destes recursos naturais e impactando os ecossistemas locais. Neste contexto, a contaminação por mercúrio gera um impacto importante na vida selvagem, podendo afetar a saúde e sobrevivência de várias espécies [21].
Uma das formas de reduzir a contaminação por mercúrio é a implementação de regulamentações e legislações, como a Convenção de Minamata, adotada em 2013, para controlar a emissão do metal no ambiente. Esta convenção, firmada por cerca de 140 países, busca regular mundialmente o ciclo de vida do mercúrio, determinando o fim da produção, importação e exportação de uma série de produtos que o contêm.
Durante a Quinta Conferência das Partes (COP5) da Convenção de Minamata, em Outubro de 2023, foi estipulado um limite de 15 mg/kg (miligramas por quilograma) de mercúrio permitido em produtos importados e exportados pelos Estados-membros.
No Brasil, a Resolução RDC Nº 145 é um documento normativo que proíbe a fabricação, importação e comercialização de termômetros e esfigmomanômetros contendo mercúrio, sobretudo para uso em serviços de saúde, em todo o território nacional. Além disso, a Resolução RDC Nº 173 proíbe, nas mesmas condições da RDC 145, o mercúrio e pó para liga de amálgama dentária na forma não encapsulada.
Adicionalmente, a Resolução RDC Nº 306, que regula o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, determina que os resíduos contendo mercúrio devem ser acondicionados e encaminhados para locais especializados em sua recuperação. Estes precisam ser classificados no Grupo B (resíduos químicos com risco à saúde e ao meio ambiente), e identificados pelo símbolo de risco associado.
A adoção de tecnologias alternativas em processos industriais que utilizam mercúrio é uma medida importante para reduzir a emissão deste metal. Em um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Técnica Chalmers, na Suécia, foi apresentado um método para recuperar mercúrio de soluções aquosas por meio de processos eletroquímicos. Esta tecnologia utiliza a platina para se ligar com o mercúrio, e pode ser aplicada em diferentes faixas de pH, permitindo o processamento de águas industriais, naturais e de uso comum.
A educação do público sobre os riscos associados ao mercúrio e como evitar a contaminação é crucial. Isso pode incluir informações sobre como o metal contamina o meio ambiente e quais as consequências dessa contaminação, além de orientações sobre o que fazer em caso de acidentes com termômetros ou lâmpadas que contêm mercúrio.
Por exemplo, a Resolução RDC Nº 222, que regula as questões sanitárias de serviços de saúde, levanta algumas medidas de contenção em casos de acidentes envolvendo mercúrio. Caso ocorra a quebra de termômetros, lâmpadas fluorescentes ou frascos contendo o metal, é preciso ventilar o ambiente e interditar o local até que todo o mercúrio seja removido. Em seguida, utilize luvas para evitar o contato da pele com o metal e fita adesiva para recolher os cacos de vidro, os adicionando em um recipiente lacrado e devidamente rotulado.
O mercúrio não deve ser despejado na pia ou vaso sanitário, pois isso contribui para a contaminação de corpos hídricos. Lavar o piso com água também não é aconselhável, pois o metal atinge o meio ambiente e o contamina. Além disso, vale ressaltar que o mercúrio pode aderir à sola dos sapatos, podendo ser transportado para outros locais e expor outros indivíduos aos seus efeitos nocivos. Neste sentido, todo cuidado é importante.
Para remover o mercúrio do piso, use um papel resistente, como papel cartão ou papelão para reunir as gotas de mercúrio. Logo após, use uma seringa (sem agulha) ou conta-gotas para sugar as gotas do metal, ou folha de papel cartonado. Deposite o metal e os utensílios utilizados em um recipiente resistente a quebra e que possa ser lacrado, para evitar vazamento durante o manuseio. Adicione um rótulo ou aviso de “resíduo de mercúrio” no recipiente para informar quem irá realizar o manejo.
Os recipientes com mercúrio devem ser entregues a empresas especializadas em manejo e reciclagem de materiais tóxicos. Apesar de não haver um procedimento oficial para o descarte de mercúrio ou termômetros de mercúrio quebrados, os mesmos locais que recebem pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes contendo metais pesados estão aptos para destinar corretamente este material. Para encontrar os locais mais próximos, consulte o buscador gratuito do Portal eCycle e ligue para os postos para saber quais deles aceitam receber o resíduo.
A toxicidade do mercúrio e suas diversas fontes de contaminação demonstram a complexidade do problema e a urgência de soluções. Neste sentido, a adoção de medidas eficazes de prevenção e controle não só protege o meio ambiente e as espécies que nele habitam, mas também garante a segurança e o bem-estar das gerações presentes e futuras.
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