Contaminantes emergentes, ou contaminantes de preocupação emergente, são substâncias químicas ou materiais que representam uma potencial ameaça à saúde humana ou ao meio ambiente, sobretudo aqueles que não possuem padrões de saúde estabelecidos [1].
Esses compostos podem entrar no ciclo da água quando são descartados como resíduos, seja por meio do escoamento que os leva aos rios, pela descarga direta de efluentes, ou pela infiltração no solo, eventualmente alcançando os sistemas públicos de abastecimento de água.
A contaminação por estas substâncias muitas vezes exige uma resposta imediata das agências reguladoras e requer um procedimento claro sobre como identificar, avaliar e gerenciar seus possíveis riscos à saúde [2].
Os insumos farmacêuticos ativos (IFA) são contaminantes emergentes que estão presentes no ambiente em todo o mundo. Eles são encontrados principalmente em águas superficiais, efluentes e águas residuais tratadas.
Dentre estes produtos farmacêuticos, há uma variedade de medicamentos, como analgésicos e anti-inflamatórios. Alguns destes, como a carbamazepina e o etinilestradiol, foram encontrados em concentrações elevadas em alguns países, como o Brasil [3].
Os contaminantes emergentes também incluem diferentes produtos químicos usados no dia a dia. Estes se encontram em produtos de higiene pessoal, limpeza doméstica, cuidado com o gramado e agroquímicos, sucralose e outros adoçantes artificiais [4, 5].
Os hormônios são substâncias produzidas por organismos vivos ou sintetizadas em laboratório, que regulam funções fisiológicas e comportamentais, e que podem ser liberadas no ambiente por excreções humanas ou animais, ou pelo uso de contraceptivos. Estas substâncias podem interferir no sistema endócrino de organismos aquáticos e terrestres, causando efeitos como feminização, masculinização, redução da fertilidade e alterações no desenvolvimento [5].
Estas são substâncias psicoativas proibidas por lei, que podem ser consumidas por via oral, nasal, inalatória ou injetável, e que podem ser detectadas em esgotos domésticos e águas tratadas. Estes contaminantes podem afetar o sistema nervoso central de organismos expostos a eles, causando efeitos como alterações comportamentais, neurológicas e imunológicas [5].
Os pesticidas são substâncias químicas usadas para controlar pragas agrícolas ou vetores de doenças, que podem ser transportadas pelo ar, solo ou água. Eles são encontrados em águas subterrâneas, superficiais e tratadas, e possuem o potencial de causar efeitos como bioacumulação, biomagnificação, toxicidade aguda e crônica, e alterações hormonais [5].
Diversos processos industriais utilizam substâncias químicas que podem ser classificadas como contaminantes emergentes. Estas incluem plastificantes, retardantes de chama bromados, surfactantes, percloratos, dioxinas, compostos perfluorados, siloxanos, benzotriazóis, ácidos naftênicos, líquidos iônicos, microplásticos, nanomateriais, toxinas de algas e alguns microrganismos [5].
Os contaminantes emergentes podem ter efeitos adversos significativos na saúde humana. A exposição a esses contaminantes pode levar a uma série de problemas, incluindo distúrbios endócrinos, imunotoxicidade e transtornos neurológicos [6]. Além disso, mutações genéticas, alterações no desenvolvimento do feto e câncer são problemas que podem ser gerados tanto em humanos quanto em outros animais [7].
Vale ressaltar que uma exposição a longo prazo também pode causar doenças crônicas como Doença de Crohn, Colite Ulcerativa, Insuficiência Renal Crônica e uma série de inflamações crônicas no corpo [8].
Adicionalmente, estudos indicam que a exposição a pesticidas tem sido associada a várias doenças humanas, como mal de Alzheimer, doença de Parkinson, asma, bronquite, infertilidade, defeitos congênitos, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), autismo, diabetes, obesidade, doenças respiratórias e falhas de sistemas [9].
Os problemas dos contaminantes emergentes também se estendem aos ecossistemas aquáticos. Eles podem gerar impactos no desenvolvimento de moluscos e anfíbios, causar o decréscimo de fertilidade de aves e provocar a feminização de peixes [10].
Além disso, mesmo em concentrações pequenas, da ordem de nanograma a picograma por litro, os contaminantes emergentes podem gerar impactos negativos na fauna aquática, causando problemas no sistema reprodutor, doenças renais e distúrbios hormonais nestes seres [5].
As tecnologias de tratamento de água e efluentes são de suma importância para a remoção dos contaminantes emergentes. Diversas técnicas têm sido estudadas e aplicadas, incluindo processos de oxidação avançada, adsorção com carvão, filtragem por membrana, fotocatálise baseada em dióxido de titânio (TiO2) e tratamento biológico [11, 12, 13].
A ozonização, por exemplo, é uma tecnologia promissora que utiliza o ozônio (O3), um gás oxidante, para decompor os contaminantes emergentes, sobretudo de águas residuais. Outro método, mais comum, é a adsorção com carvão ativado, que pode filtrar e absorver alguns contaminantes de forma efetiva.
No entanto, a purificação de recursos hídricos apresenta desafios importantes, como os altos custos, geração de subprodutos e a necessidade, muitas vezes, de aplicação de diferentes soluções para uma remoção mais abrangente dos variados tipos de contaminantes emergentes. Além disso, os tratamentos convencionais ainda não conseguem remover completamente os micropoluentes, permitindo com que alguns deles sejam dispersos nos reservatórios de água para consumo humano.
Neste sentido, o investimento em técnicas avançadas de tratamento de água é uma medida essencial e com potencial para garantir a sustentabilidade do abastecimento global de água, com qualidade e segurança.
No âmbito internacional, uma das principais iniciativas relacionadas aos contaminantes emergentes é a Rede Norman, um conjunto de laboratórios, centros de pesquisa e organizações que buscam a padronização de métodos de medição e monitoramento de contaminantes emergentes, bem como a posterior regulamentação destes. Ela conta com o apoio da Comissão Europeia e conta com cerca de 19 países-membros [14].
Já no Brasil, embora ainda haja poucos dados sobre a detecção e o monitoramento desses contaminantes em comparação com outros países, a questão dos contaminantes emergentes está cada vez mais em pauta [15]. Além disso, estudos realizados em ambientes aquáticos brasileiros têm detectado a presença dessas substâncias, embora seus efeitos sobre os ecossistemas ainda sejam, em grande parte, desconhecidos [16].
A Resolução Conama Nº 420, uma norma brasileira que regula, dentre outros aspectos, a presença de substâncias químicas no solo, estabelece alguns critérios relacionados a alguns componentes que podem ser considerados contaminantes emergentes. Dentre eles estão pesticidas, como aldrin, dieldrin, endrin, heptacloro e lindano, e alguns compostos químicos de uso industrial, como o chumbo e o arsênio, que são metais pesados.
Além disso, a Portaria Nº 888, do Ministério da Saúde, que define os padrões para água potável destinada ao consumo humano, é considerada o marco regulatório da inclusão de substâncias tóxicas, algumas das quais contaminantes emergentes, entre seus parâmetros. Atenção especial é dada aos agrotóxicos, um dos tipos de contaminantes emergentes presentes nas águas naturais, devido ao seu uso intensivo na agricultura e à sua persistência no ambiente [17].
Contudo, boa parte dos contaminantes emergentes são assim classificados por não possuírem regulamentação e dermandarem ações urgentes por conta de seu potencial toxicológico, e ainda há muito o que ser feito em termos de detecção, monitoramento e remediação de áreas contaminadas com esses tipos de substâncias.
A prevenção da contaminação é fundamental para a sustentabilidade dos ecossistemas, e a preservação da qualidade da água e do solo são essenciais para a sobrevivência e o bem-estar de todas as espécies [18].
Além disso, um ambiente mais limpo e saudável traz benefícios econômicos e sociais significativos [19]. A redução da poluição por contaminantes emergentes pode levar a uma maior produtividade agrícola, a menos gastos com saúde e a um aumento do turismo e das atividades recreativas [20, 21].
As medidas de controle de contaminantes emergentes têm um impacto direto na qualidade de vida das populações. A redução da exposição a esses contaminantes pode levar a uma maior expectativa de vida. Além disso, a promoção e a prevenção de doenças relacionadas à exposição a contaminantes emergentes são fundamentais para a sustentabilidade dos sistemas de saúde [22].
Os contaminantes emergentes representam um desafio significativo para a saúde humana e a sustentabilidade ambiental. No entanto, com a implementação de medidas de controle eficazes, o desenvolvimento de tecnologias de tratamento de água e efluentes e a adoção de políticas públicas e regulamentações adequadas, é possível mitigar os impactos dessas substâncias. Por fim, a cooperação internacional e a troca de informações são, também, cruciais para lidar com essa questão global, e podem contribuir para a construção de um futuro mais sustentável para todos.
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