A evolução da vida através da seleção natural pode dar entender que estamos fadados ao conflito incessante. Entretanto, segundo o biólogo evolucionista Jonathan Silvertown, em sua obra “Selfish Genes to Social Beings“, essa visão simplista está longe de ser verdade. Silvertown argumenta que a cooperação é uma força muito mais poderosa do que a competição na natureza, permeando desde fenômenos biológicos cotidianos até complexas interações entre espécies.
Ao longo do livro, Silvertown utiliza uma gama diversificada de exemplos, desde genes e bactérias até plantas e animais, para ilustrar a onipresença da cooperação na natureza. Por exemplo, bactérias conhecidas como rizóbios estabelecem uma simbiose com as raízes de leguminosas, transformando nitrogênio atmosférico em uma forma utilizável pelas plantas.
Além disso, certos besouros trabalham em conjunto para enterrar cadáveres, reduzindo o risco de roubo de comida e provendo um ambiente favorável para suas famílias.
A cooperação também se manifesta em níveis microscópicos, como no caso das bactérias que se comunicam através de sinais químicos para coordenar suas ações quando agrupadas. Esse fenômeno, conhecido como “quorum sensing“, permite uma expressão genética coordenada em benefício do grupo, evidenciando a vantagem adaptativa da cooperação.
Contrariando a visão predominante na década de 1970, segundo a qual a cooperação e a competição seriam incompatíveis, Silvertown destaca a complexidade dessas interações. Um exemplo fascinante é o dos líquenes, organismos compostos por fungos que abrigam algas em seu interior.
Embora inicialmente interpretados como uma relação parasitária, os líquenes representam, na verdade, uma forma de cooperação simbiótica onde ambas as partes se beneficiam mutuamente.
A obra também aborda a antropomorfização dos fenômenos biológicos, alertando para os riscos de atribuir valores humanos a processos naturais. Silvertown ressalta que a cooperação na natureza não é motivada por um altruísmo desinteressado, mas sim pelo interesse próprio de maximizar os benefícios individuais.
Essa perspectiva, embora possa parecer desumana, nos permite compreender melhor a complexidade e a imparcialidade dos processos evolutivos.
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