Países deverão fortalecer as metas de redução de emissões para 2030 e os recursos financeiros fornecidos aos países em desenvolvimento
Por Aniruddha Dasgupta em WRI Brasil GLASGOW (13 de novembro de 2021) —As negociações climáticas da ONU (COP26) foram concluídas. Os 151 novos compromissos climáticos nacionais apresentados antes e durante a COP26 não conseguiram colocar o mundo no caminho certo para limitar o aquecimento a 1,5° C. No entanto, depois de duas semanas de negociações, os delegados chegaram a um consenso de que os países devem fortalecer ainda mais suas metas de redução de emissões para 2030 no próximo ano, fornecer mais recursos financeiros aos países em desenvolvimento e tomar medidas para ajudar os países vulneráveis a lidar com as perdas e danos causados pelos impactos climáticos.
Leia, a seguir, a declaração de Ani Dasgupta, Presidente e CEO do World Resources Institute:
“Em um ano marcado por incertezas e desconfianças, a COP26 afirmou a importância da ação global coletiva para enfrentar a crise climática. Embora ainda não estejamos no caminho certo, o progresso feito no ano que passou e na cúpula da COP26 ofereceu uma luz no fim do túnel e uma base sólida para continuarmos avançando. O verdadeiro teste agora é se os países vão acelerar seus esforços e transformar os compromissos em ações.
“Os negociadores encontraram consenso em questões-chave e concordaram em fortalecer ainda mais as metas para 2030, a fim de manter a meta de 1,5° C ao alcance, intensificar e acelerar o apoio financeiro aos países em desenvolvimento, estabelecer um espaço dedicado para finalmente resolver perdas e danos permanentes causados pelos impactos climáticos e finalizar as regras para implementar o Acordo de Paris. Um dos destaques da COP26 foi a eficácia dos países vulneráveis, jovens e ativistas climáticos de exigir mais ação e responsabilidade. Além disso, pela primeira vez, os negociadores concordaram explicitamente em acelerar a ação para reduzir gradualmente a energia gerada por carvão e eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis — um passo importante à frente.
“Vários grandes emissores têm planos fracos para 2030 e precisarão propor metas mais agressivas para reduzir as emissões ainda nesta década. O fato de os países terem concordado em voltar no próximo ano para apresentar metas mais fortes para 2030 e propor estratégias de longo prazo que visam a uma transição justa para emissões líquidas zero por volta da metade do século foi muito encorajador. Se o mundo quer vencer a crise climática, ninguém pode ficar pra trás.
“Não existe desculpa para o fato de os países desenvolvidos não terem cumprido seu compromisso de entregar 100 bilhões de dólares anuais a partir de 2020. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que eles fornecem centenas de bilhões de dólares em subsídios para combustíveis fósseis. É bastante significativo que o resultado final da COP26 coloque os países desenvolvidos na obrigação de relatar seu progresso em direção à meta de 100 bilhões de dólares. Os países também avançaram no desenvolvimento de uma nova meta financeira que vai além de 2025. Ademais, as nações também concordaram em pelo menos dobrar o financiamento para a adaptação até 2025. Isso significa um montante de, pelo menos, 40 bilhões, o que é um progresso muito importante.
“A COP26 finalmente colocou a questão crítica das perdas e danos sob os holofotes. As mudanças climáticas já estão causando perdas devastadoras de vidas, terras e meios de subsistência. Alguns danos são permanentes. Eles vão desde ilhas desaparecendo sob as ondas até recursos hídricos que estão secando. Em Glasgow, os países concordaram com uma nova assistência técnica para perdas e danos para ajudar as nações vulneráveis e estabelecer um diálogo sobre o financiamento de perdas e danos. Para atender às necessidades das nações vulneráveis, é essencial que os diálogos estabelecidos em Glasgow sejam mais do que conversa e resultem em recomendações sobre a escala de financiamento necessária.
“Um dos resultados mais preocupantes da COP26 são as regras para os mercados internacionais de carbono. Embora os negociadores tenham concordado que a contagem dupla das mesmas reduções de emissões é inaceitável, é lamentável que os países tenham concordado em permitir o uso de antigos créditos de emissão para cumprir seus novos compromissos climáticos. Na COP27, é vital que os negociadores estabeleçam diretrizes rigorosas para minimizar o uso desses créditos e para garantir que representem reduções reais de emissões.
“Os grandes anúncios, fora das negociações formais, foram encorajadores. Coletivamente, eles sinalizam a decisão do mundo de realizar a mudança sistêmica necessária em setores-chave para nos colocar em um caminho mais sustentável. Países, empresas e investidores anunciaram planos para acelerar o abandono da energia a carvão, cortar drasticamente as emissões de metano, parar e reverter a perda florestal e alinhar os investimentos privados para emissões líquidas zero. A iniciativa Science Based Targets (Metas Baseadas na Ciência) ofereceu um novo padrão para as empresas verificarem seus compromissos de emissões líquidas zero. O valor da natureza foi proeminente em Glasgow, incluindo a necessidade de expandir rapidamente as soluções baseadas na natureza e a restauração de paisagens e florestas, tornar a agricultura mais sustentável e proteger os oceanos. Muito mais precisa ser feito para converter rapidamente essas iniciativas promissoras em ações no mundo real e garantir que sejam justas e inclusivas.
“O trem está partindo, e todos os países precisam embarcar. À medida que a atenção muda para além da COP26, é fundamental que todos intensifiquem seus esforços e transformem os compromissos em ações reais de maneiras que beneficiem todas as pessoas.”
Este texto foi originalmente publicado por WRI Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original.