Por Transparência Internacional Brasil – Desde o dia 31 de outubro, representantes de todas as partes do mundo, reunidos na COP 26, na cidade escocesa de Glasgow, vêm discutindo as saídas para evitar que o mundo aqueça em mais de 1,5 ºC. As mudanças climáticas têm impactado pessoas de todo o planeta, mas os mais pobres (particularmente os povos indígenas, mulheres, jovens e outras populações minorizadas), que praticamente não contribuíram para causar essas alterações no clima, são e continuarão sendo os mais impactados.
Colocar as pessoas e o bem-estar coletivo no centro de discussões como a COP 26 é fundamental para promover a justiça climática. No entanto, atores poderosos buscam e continuarão perseguindo seus próprios interesses acima de uma ação climática global eficaz e a corrupção poderá ser um dos grandes obstáculos para a sustentabilidade climática.
A corrupção socioambiental* pode afetar as políticas climáticas de diferentes formas. Uma delas acontece quando atores dificultam o cumprimento ou a negociação dos acordos internacionais (como o Acordo de Paris), por meio de lobby e influência indevida. Outra, por exemplo, acontece quando a execução eficiente das políticas, planos e projetos nacionais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas são afetadas por práticas como suborno, conluio e favorecimento indevido.
Por isso, os esforços de mitigação e adaptação ao clima realizados por instituições públicas, privadas, organizações da sociedade civil e ativistas precisam considerar os riscos de corrupção e o seu impacto na agenda climática. A influência e os prejuízos causados pela corrupção podem ocorrer tanto no âmbito internacional, quanto no nacional e até local.
No âmbito internacional, a corrupção pode afetar o cumprimento ou as negociações internacionais climáticas de distintas maneiras e em diferentes etapas do processo. De acordo com o documento Conflicts of Interest and Undue Influence In Climate Action, elaborado pela Transparência Internacional, foram encontradas falhas de governança dentro da própria UNFCCC.
Ainda segundo o documento, a presidência da COP26, exercida pelo Reino Unido, enfrentou várias acusações sobre conflito de interesses e influência indevida, como a realização de reuniões privadas com representantes de empresas de combustíveis fósseis, trocas de e-mails onde empresas sondaram sobre a possibilidade de pagamento para serem favorecidas na COP e lobby para um maior reconhecimento do gás natural como um combustível de transição.
Na esfera nacional, podemos listar diferentes riscos e práticas de corrupção nas diversas fases do ciclo das políticas climáticas ou no mercado de carbono:
Apesar dos vários elementos apontando para a importância da agenda anticorrupção para a adequada, eficiente e justa transição do sistema atual para um de baixo carbono, o tema será pouco debatido na COP 26. Somente para ilustrar, as palavras “corrupção” e “transparência” não aparecem nenhuma vez na programação oficial da COP26.
Para buscar o combate à corrupção associado à formulação, implementação e avaliação das políticas climáticas, será necessário fazer uso de um mosaico de estratégias, tradicionais e inovadoras, de conhecimento e elaboração científico, social, político e econômico.
Esse mosaico inclui estratégias de fortalecimento das instituições e de regulamentação, aumento da participação social, aperfeiçoamento ou proposição de medidas de integridade e anticorrupção voltadas às questões ambientais e climáticas, articulação e mobilização social e local, e do desenvolvimento e uso de mecanismos internacionais.
A busca por justiça climática é essencial para o futuro da nossa sociedade. Porém, se fóruns como a COP 26 não se debruçarem e encaminharem políticas efetivas de combate à corrupção, grande parte desse esforço estará em risco.
*Corrupção Socioambiental: abuso de poder confiado a alguém, visando a obtenção de ganho privado, causando degradação ambiental, enfraquecimento da governança ambiental ou injustiça socioambiental.
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