Cordyceps é um gênero de aproximadamente 400 espécies de fungos ascomicetos, que crescem em insetos e outros artrópodes. O gênero ganhou tração na mídia através da série da HBO Max, The Last of Us — uma adaptação do vídeo game do mesmo título lançado em 2013. Na série, assim como no jogo, o mundo foi tomado por uma pandemia de uma doença fúngica, que torna os hospedeiros, chamados de “infectados”, em zumbis.
Similarmente, as espécies do gênero Cordyceps são conhecidas por infectar hospedeiros, tomando conta dos seus corpos para disseminar seus esporos. No entanto, embora o gênero tenha sido popularizado por infectar seres humanos no jogo, esses fungos, na verdade, só são evoluídos o bastante para afetar insetos.
Quando instalado no hospedeiro, o Cordyceps afeta o sistema nervoso, substitui o tecido e brota caules longos e finos que crescem fora do corpo da presa. Ao longo de 24 a 48 horas de que o parasita se instala no organismo infectado, ele começa a se espalhar pelo corpo inteiro do inseto, envolvendo seus músculos e afetando seus neurônios motores e tornando o hospedeiro uma “marionete”.
A primeira fase da infecção é caracterizada pelo comportamento errático da espécie contaminada. E, enquanto ela progride, o hospedeiro é obrigado a deixar seu habitat por um microclima mais úmido que é favorável ao crescimento do fungo.
Após o inseto contaminado finalmente morrer, o fungo é responsável pelo crescimento de um corpo estranho que nasce da cabeça da presa. Esse corpo, por sua vez, libera esporos que são usados para infectar outros hospedeiros.
Apesar de ser o fungo que inspirou um cenário pós-apocalíptico, o Cordyceps, na verdade, possui benefícios à saúde humana. De acordo com o WebMD, por exemplo, o fungo foi usado por séculos como parte da medicina tradicional chinesa.
Entre as mais de 400 espécies de Cordyceps analisadas cientificamente, acredita-se que duas são mais exploradas por seus benefícios à saúde e ao sistema imunológico: o Cordyceps sinensis e o Cordyceps militaris.
De fato, os fungos dessa espécie já foram comprovados cientificamente por fornecer energia ao corpo, ajudando contra a fadiga. Em um estudo específico sobre o poder do fungo em conjunto com o exercício físico, os participantes receberam 3 gramas por dia de uma cepa sintética de Cordyceps chamada CS-4 ou uma pílula de placebo por seis semanas.
Foi comprovado que os adultos que receberam o CS-4 tiveram um aumento de VO2 máx em 7% — uma medida usada para determinar o nível de condicionamento físico. Em comparação, os que receberam placebo não apresentaram nenhuma modificação.
Além disso, acredita-se que os fungos dessa espécie também podem oferecer propriedades antienvelhecimento através de sua concentração de antioxidantes. Diversos estudos, por exemplo, mostraram que os Cordyceps aumentam os antioxidantes em camundongos idosos, ajudando a melhorar a memória e a função sexual dos animais. (Veja pesquisas a respeito: 1, 2, 3)
Nenhum estudo comprovou o efeito do Cordyceps em seres humanos. No entanto, o seu histórico na medicina tradicional chinesa sugere que os fungos não são tóxicos. De fato, o governo chinês já aprovou o uso da cepa CS-4 em hospitais e o reconhece como um medicamento seguro e natural.
Adicionalmente, o Cordyceps é comercializado em forma de suplementos, que potencialmente oferecem benefícios à saúde. Entretanto, assim como qualquer outro tipo de suplemento, é importante notar que o seu consumo deve ser feito através da recomendação médica.
Após o lançamento do jogo The Last of Us, novos questionamentos sobre o Cordyceps foram levantados, principalmente sobre o seu potencial de infectar seres humanos, criando um tipo de ameaça zumbi. Supostamente, Neil Druckmann, o criador do jogo, se inspirou em um fungo real para criar o universo — a espécie Ophiocordyceps unilateralis, um tipo de fungo patogênico de insetos conhecido por infectar formigas e controlar seu cérebro.
Levando a teoria além do jogo, a abertura da série contém informações similares, com uma justificativa um tanto plausível para um cenário pós-apocalíptico em que fungos podem infectar o cérebro humano a partir de mutações genéticas impulsionadas pelas mudanças climáticas. E, embora seja inspirado pelo gênero Cordyceps, que é conhecido por propriedades similares, especialistas acreditam que um apocalipse zumbi impulsionado por uma doença fúngica esteja longe de acontecer.
De acordo com João Araújo, especialista em fungos parasitas do Jardim Botânico de Nova York, levaria milhões de anos de mutações genéticas para que um fungo similar ao Ophiocordyceps unilateralis pudesse infectar mamíferos. Isso se dá ao fato de que cada espécie de fungo parasita evoluiu para corresponder a um inseto específico.
“Se um salto de uma espécie de formiga é difícil, pular para humanos – isso é definitivamente ficção científica”, diz Ian Will, geneticista de fungos da University of Central Florida.
Mesmo com o efeito das mudanças climáticas, que podem alterar a temperatura do planeta assim como dos organismos que vivem nela, especialistas acreditam que essa mudança não será dramática o suficiente para que os fungos possam se adaptar para uma infecção em seres humanos.
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