Cresce o protagonismo feminino na liderança de agtechs

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Por Valéria Cristina Costa, da Embrapa | No primeiro semestre de 2022, a América Latina registrou um aumento de 100% no índice de venture capital destinado a empresas lideradas por mulheres, na comparação com dados de 2019. Tais empreendimentos ficaram com um terço dos investimentos. Apesar do avanço indicado pela pesquisa da Associação de Capital Privado da América Latina (LAVCA) referida no capítulo, o segmento feminino continua sub-representado nos empreendimentos rurais no Brasil, inclusive.

É o que indica o primeiro levantamento de gênero feito a partir da base de dados do Radar Agtech Brasil 2022, que identificou menos de 30% das startups sob comando de mulheres: 520 entre as 1.703 catalogadas. O capítulo 3 do Radar Agtech Brasil 2022 traz uma análise quantitativa da composição societária das empresas fundadas por mulheres, localizando também a posição dessas startups na cadeia produtiva (antes, durante e depois da fazenda).

Além dos dados, o capítulo discute o protagonismo feminino nas ciências agrárias e no empreendedorismo agtech, destacando aspectos relacionados à desigualdade de gênero neste meio histórica e majoritariamente masculino. A seção apresenta, ainda, resultados de consulta realizada pelas autoras do capítulo sobre a percepção de um grupo de mulheres sobre os desafios e as perspectivas para cientistas e empreendedoras atuantes no setor agropecuário.

Entre as fundadoras de agtechs entrevistadas para a consulta esteve Priscilla Veras, citada este ano entre as 20 mulheres inovadoras pela ForbesAgro. Ela está à frente da empresa Muda Meu Mundo – plataforma que conecta o pequeno produtor com o varejo, por meio de inteligência de dados para uma alimentação sustentável. Também foi ouvida Gabriela Silva, da empresa Agribela, criada em 2016 e ganhadora de três prêmios internacionais, atuando com produtos voltados à redução de uso de insumos agrícolas.

Os números da participação feminina

Dados mapeados em parceria com o Sebrae mostraram que existem 520 empresas (28,7% do total de startups) com ao menos uma sócia em sua estrutura de comando entre as startups identificadas na base de dados do Radar Agtech 2022. O levantamento apontou que empresas com uma única sócia somam 407, a maior porcentagem (78%); com duas sócias são 93 (18%), sendo que apenas 20 (4%) têm três sócias ou mais.

A análise mostra ainda que empresas com uma fundadora e com apenas fundadoras são em número de 59 e 56 (11%), respectivamente. Com uma fundadora e um fundador o número sobe para 211 (41%), maior que aquelas catalogadas em outras composições, que totalizam 194 (37%).

Segundo o estudo feito na base de dados da última edição do Radar Agtech, a presença feminina acontece principalmente nos empreendimentos direcionados para o segmento “depois da fazenda”, elo que envolve as atividades de pós-produção, com a atuação de 50% (260) das agtechs.

Na sequência, estão as empresas que desenvolvem atividades voltadas à etapa da produção agropecuária, ou “dentro da fazenda”, com 34% (175) das agtechs com presença de mulheres no quadro societário.

No segmento “antes da fazenda”, caracterizado pelo fornecimento de insumos, serviços financeiros e equipamentos, a presença feminina soma 16%, totalizando  81 agtechs.

Segundo Fabiane Astolpho, Co-Fundadora da Fruto Agrointeligência e Consultora Associada da Homo Ludens Inovação e Conhecimento, estes números só tendem a crescer. “Enquanto o número de agtechs tende a estacionar ou diminuir, em decorrência de fusões, aquisições e consolidações, as agtechs fundadas por mulheres tendem a aumentar”. A empreendedora já estava com idade acima dos 50 anos quando fundou a agtech e observa a necessidade de mais iniciativas de apoio às mulheres. Em especial, frentes de investimento e financiamento, que se configuram como o motor que impulsiona os negócios junto ao segmento feminino.

Aplicativo de startup fundada por mulheres ajuda agricultores familiares

Em 2016,três mulheres fundaram em Florianópolis (SC) a startup ManejeBem, voltada ao segmento da agricultura familiar do País. O aplicativo ManejeChat, desenvolvido pela empresa, auxilia na implementação de projetos e metas nas dimensões ambiental, social e governança (ESG na sigla em inglês).

A agtech que conecta grandes e pequenos empreendimentos rurais é uma das 520 catalogadas pelo Radar Agtech Brasil 2022. Em seis anos, a empresa computa 15 projetos com os quais alcançou mais de um milhão de acessos por agricultores/as familiares e técnicos/as agrícolas, em dez estados brasileiros.

A comunicação rural é a chave para impulsionar a agricultura sustentável e o desenvolvimento humano nas comunidades rurais, afirmam as empreendedoras, na apresentação do site da ManejeBem.

Sexta colocada na categoria agtech da última edição do Ranking 100 Open Startups, a empresa foi finalista na edição 2019 do programa Pontes para Inovação promovido pela Embrapa tendo passado também pela fase de pré-aceleração do programa da Embrapa Agricultura Digital (Campinas, SP), TechStart Agro Digital. Atualmente, desenvolve colaborativamente com a Embrapa o projeto  “Desenvolvimento do Barômetro da Sustentabilidade do Cacau”.

A ferramenta utilizará técnicas de inteligência artificial para auxiliar o produtor na avaliação da sustentabilidade da produção do cacau na região Sul da Bahia.

História inspiradora

Juliana Mattana (foto) é a diretora de inovação da jovem empresa, que ajudou a fundar ao lado de Caroline Luiz Pimenta e Juliane Lemos Blainski. 

“Nunca tinha pensado em empreender”, conta a bióloga mestre em Biotecnologia que apostava na carreira acadêmica. A empresária de 34 anos deixou a estabilidade do emprego público para abrir o próprio negócio. O papel da família e das parcerias nos desafios impostos às mulheres têm destaque na fala da empresária, cuja trajetória se assemelha a de outras mulheres dispostas a enfrentar riscos e desafios em busca da realização pessoal e profissional.


Este texto foi originalmente publicado pela Embrapa de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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