Wagner Costa Ribeiro detalha os motivos pelos quais cidades vêm sofrendo com o fenômeno e quais são os ampliadores do processo de afundamento
Por Fernanda Real, do Jornal da USP | Cidades costeiras no mundo inteiro estão sofrendo com a possibilidade de afundarem inteira ou parcialmente. Para além das alterações climáticas, o motivo por trás é o conceito de subsidência. A ideia ilustra a incapacidade das cidades de sustentarem o próprio peso, enquanto vão crescendo a indicadores descontrolados. A níveis comuns, o fenômeno ocorre de forma lenta e quase imperceptível.
No quadro de geodinâmica, o fenômeno de subsidência pode ser considerado natural pela movimentação de camadas no substrato terrestre, ou mesmo pelo deslocamentos de falhas geológicas e dissolução de materiais rochosos na superfície. Esse processo é agravado pela ação antrópica. À medida em que se aceleram as interferências humanas no local, os impactos do problema são observados em níveis geofísicos e antropológicos.
O processo possui diversas causas, dentre elas estruturais e geofísicas. A edificação em áreas como reservatórios de água ou sobre bolsões de ar subterrâneos, por exemplo, é um dos potencializadores que ocasionam a situação de vulnerabilidade geofísica encontrada nessas cidades. O quadro também é observado no Brasil, em que Estados como São Paulo, Santa Catarina e Fortaleza concentram áreas em processo de afundamento.
A atividade humana desmedida, que está ligada à falta de planejamento e à ocupação irregular dessas áreas é um dos principais pontos levantados pelo professor Wagner Ribeiro. Em um estudo publicado na Advances, revista da União Geofísica Americana (AGU), foi constatado que esse descontrole tem gerado uma sobrecarga nas áreas litorâneas, que, quando somada à elevação de nível dos oceanos, resulta em um índice de afundamento de mais de um centímetro por ano, cinco vezes a taxa de aumento do nível do mar.
Em complemento a ela, Ribeiro não descarta a exploração direta de áreas na faixa litorânea: “Essas causas estão relacionadas à extração de recursos sem maiores cuidados, que acaba fazendo com que ocorra a acomodação do terreno”, adiciona o professor.
Possíveis soluções
Para reverter a situação, o professor defende ser necessário uma regulamentação mais incisiva. E afirma: “Falta planejamento e, principalmente, leis que regulam o acesso do capital da edificação junto às faixas costeiras”, e sugere ainda que é preciso rever o modelo de ocupação das faces litorâneas, haja vista os desdobramentos do problema nos níveis socioeconômicos e antropológicos.
Ainda que existam diversas redes de monitoramento para o controle do afundamento, em países como Turquia e Estados Unidos, o problema continua acendendo um alerta para os limites naturais das áreas litorâneas. As medidas paliativas se concentram no controle da especulação imobiliária dessas zonas, em conjunto com um estudo mais detalhado de toda a matriz geológica das áreas afetadas. Assim, será possível identificar o que deve ser feito e trabalhar em cima de soluções mais particulares e efetivas.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.