Setembro de 1993, numa limpeza de praia na Ilha de Man, Richard Thompson, biólogo que há 30 anos identificou pela primeira vez os microplásticos, presenciou uma cena alarmante. Enquanto seus colegas recolhiam itens como pacotes de batatas fritas, cordas de pesca e garrafas, Thompson se deparou com milhares de fragmentos multicoloridos aos seus pés, tão pequenos que escapavam das categorias usuais.
Essas partículas, agora conhecidas como microplásticos, tornaram-se o foco principal do professor Thompson após uma década de estudos e pesquisas. Em um estudo de 2004, ele e a professora Andrea Russell identificaram pela primeira vez essas partículas, desencadeando uma onda de consciência e ações em todo o mundo.
A designação de “padrinho dos microplásticos” não foi apenas uma honra simbólica; Thompson fundou a Unidade Internacional de Investigação do Lixo Marinho em Plymouth, tornando-se uma voz respeitada na Câmara dos Comuns para discutir os perigos do lixo marinho.
Hoje, enquanto lidera as negociações internacionais para um tratado global sobre poluição por plásticos, Thompson destaca a urgência da situação. Em suas palavras, o tratado é uma “oportunidade única no planeta”. No entanto, ele adverte contra soluções simplistas.
O entusiasmo de Thompson contrasta com a preocupação. Ele rejeita a ideia de que a simples limpeza dos oceanos ou o uso de plásticos biodegradáveis são soluções eficazes. Em uma crítica direta, ele questiona a eficácia dessas abordagens, alertando que seguir ideias erradas só agravará a crise.
Thompson é cético em relação ao plástico biodegradável, destacando que a solução não está em substituir a fonte de carbono, mas em redesenhar a relação linear que temos com o plástico. Ele alerta contra a armadilha do “tecno-otimismo”, enfatizando que soluções sistêmicas são necessárias.
O tratado da ONU sobre plásticos, segundo Thompson, depende da amplitude de sua abrangência. Ele destaca a importância de abordar a fonte do problema, reduzindo o uso de plásticos desnecessários e problemáticos, especialmente embalagens de uso único.
No cerne da questão, Thompson aponta para a necessidade de repensar o design de produtos plásticos. Apenas 10% do plástico é reciclado globalmente, e ele atribui isso à falta de consideração na fase de design, apontando para a necessidade de reduzir aditivos químicos durante a fabricação.
Em suas recentes contribuições para a Coligação de Cientistas para um Tratado Eficaz sobre Plásticos, Thompson destaca a importância de evidências científicas atualizadas. Ele expressa frustração pela falta de um mecanismo da ONU para comunicar pesquisas sobre plásticos aos governos.
À medida que as negociações se desenrolam, Thompson olha para trás com emoção, reconhecendo que sua pesquisa desempenhou um papel crucial na conscientização global sobre a poluição por microplásticos. No entanto, ele permanece focado no desafio contínuo de repensar nossa relação com o plástico e buscar soluções sustentáveis.
O relógio avança, mas para Thompson, o tempo de agir é agora.
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