Crise climática cria mercado clandestino de água potável na Jordânia

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A Jordânia é o quinto país com maior escassez hídrica no mundo. Para racionar a água, o país introduziu interrupções programadas no fornecimento de água canalizada em 1987. Desde então, o acesso médio à água pública caiu de sete para apenas um dia e meio por semana., de modo que o jordaniano médio tem acesso a água canalizada apenas por um dia e meio por semana.

Quando as torneiras secam, cidadãos e empresários recorrem aos telefones para encomendar água e preencher os tanques de armazenamento nos telhados. Contudo, os caminhões-pipa, responsáveis por transportar a água, frequentemente não são enviados pela concessionária de água local. São operados por vendedores individuais que obtêm água de poços privados, com ou sem licença.

Este é o retrato do crescimento dos mercados ilegais de água no Oriente Médio, impulsionado pela crise climática que intensifica e frequenta as secas. Em muitos países com escassez, caminhoneiros e proprietários de poços operam sem licença para escapar das penalidades e ocultar suas atividades. Se esses mercados aliviam ou agravam o estresse hídrico é uma questão ainda não está totalmente esclarecida.

Estudos mostram que os caminhões-tanque desempenham um papel muito maior no abastecimento de água da Jordânia do que se imaginava. Um em cada seis a sete litros no país é transportado por via rodoviária, indicando uma grave escassez de água nas cidades jordanianas. Mais da metade da água utilizada por empresas, incluindo hotéis, lojas e restaurantes, é fornecida por caminhões-cisterna.

A maior parte da água dos caminhões-cisterna na Jordânia é obtida ilegalmente. O volume bombeado dos aquíferos para entregas de caminhões é dez vezes maior que o permitido pelas licenças de poço. Essa captação ilegal dificulta os esforços para aplicar regras de conservação das águas subterrâneas. Monitorar um grande número de poços dispersos é complicado, e um estudo de 2015 encontrou provas de intimidação de funcionários públicos por proprietários de terras.

Isso é particularmente problemático porque os níveis das águas subterrâneas da Jordânia estão diminuindo rapidamente. A quantidade total de água vendida por caminhões-cisterna anualmente equivale a 34% das águas subterrâneas captadas além dos rendimentos sustentáveis, exacerbando o esgotamento dos recursos.

No futuro, espera-se que a dependência de famílias e empresas jordanianas no fornecimento de água aumente substancialmente. A população do país continuará a crescer rapidamente enquanto seus recursos hídricos diminuem.

A instabilidade regional agrava a escassez e impede projetos promissores, como a dessalinização da água do Mar Vermelho. Prevê-se que a população da Jordânia duplique até 2050, enquanto os níveis das águas subterrâneas diminuem cerca de um metro por ano e os recursos hídricos superficiais devem reduzir-se em 20%. Isso tornará cada vez mais difícil para as empresas de abastecimento fornecer água suficiente.

Consequentemente, a dependência no fornecimento de água por caminhões aumentará 2,6 vezes até meados do século, a menos que a situação melhore. As vendas totais no mercado de água crescerão mais de 50%, aumentando a pressão sobre os recursos subterrâneos. Muitas famílias, que hoje compram água de caminhões-cisterna quando recebem menos de 40 litros por pessoa por dia, podem perder esse acesso devido ao aumento dos custos, estimado em um terço até 2050.

Além disso, o transporte de água por caminhões-cisterna causa emissões excessivas. Mitigar captações descontroladas de águas subterrâneas seria uma das soluções. Contudo, fechar poços ilegais para caminhões não reduzirá a demanda urbana insatisfeita. Em vez disso, essa política pode impedir o acesso das famílias a uma fonte essencial de água.

A Jordânia deve complementar investimentos no aumento do abastecimento com melhorias nas redes urbanas. Isso resolveria a escassez e o acesso desigual à água, causas subjacentes ao surgimento dos mercados ilegais. Um estudo recente sobre investimento em abastecimento urbano mostrou que é difícil conseguir melhorias nos horários de abastecimento.

Até que se garanta acesso equitativo e confiável à água canalizada, a legalização do abastecimento por caminhões pode ser uma solução promissora para reduzir captações descontroladas, salvaguardando o acesso essencial.

Fonte: The Conversation

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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