Crise climática: especialista do PNUMA explica estilo de vida 1,5°C

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A especialista em estilos de vida sustentáveis do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Garrette Clark, destaca em entrevista como mudanças no estilo de vida podem ajudar no combate à crise climática.

A mudança de hábitos de consumo nas áreas de alimentação, mobilidade, moradia e lazer, destaca, podem ajudar a reduzir significativamente as emissões de gases do efeito estufa, inclusive ajudando a limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Clark ressalta, contudo, que também é necessário que os cidadãos pressionem os grandes propulsores do consumo, como governos e empresas, para alcançar as mudanças sistêmicas e estruturais que são necessárias para conter as mudanças climáticas.

Por Nações Unidas Brasil | Para combater a crise climática e garantir um futuro seguro limitando o aumento da temperatura global a 1,5°C, o mundo precisa reduzir em 50% as emissões de gases de efeito estufa ainda nesta década.

Para muitos, metas tão ambiciosas como esta podem induzir uma sensação de pavor e paralisia. Mas especialistas dizem que há muito que podemos fazer como indivíduos para combater a mudança climática.

Pesquisas mostram, por exemplo, que mudanças no estilo de vida poderiam ajudar a reduzir as emissões do planeta em até 70% até 2050. Nesta entrevista, a especialista em estilos de vida sustentáveis do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Garrette Clark,  explica como as pessoas e os legisladores podem tomar decisões sustentáveis que ajudam a garantir um planeta mais saudável.

Por que é importante que as pessoas considerem seu impacto individual no planeta?

Garrette Clark (GC): Estamos enfrentando uma tripla crise planetária que ameaça nossa sobrevivência, portanto nosso impacto sobre o meio ambiente é uma preocupação óbvia. Muitas pessoas sabem disso, mas tendem a evitar agir, pois o problema pode parecer abstrato, não sabem o que fazer, e têm prioridades mais imediatas

Como nossas escolhas como consumidores afetam o planeta?

GC: Primeiro, precisamos entender que consumidores não são apenas indivíduos. Os grandes propulsores do consumo são as empresas e os governos, que estruturam e influenciam os sistemas que atendem às nossas necessidades. Portanto, é importante que as pessoas tomem decisões mais informadas e peçam aos governos e às empresas que tomem medidas. O PNUMA lançou recentemente o “Act Now: Speak Up”, uma campanha que mostra como os cidadãos podem obrigar os governos e as empresas a melhorar a situação climática.

Como seria um estilo de vida sustentável em 2022?

GC: Hoje em dia, acho que ouvimos a palavra sustentável em todos os lugares. Pensamos em viver de forma sustentável como as coisas positivas que podemos fazer em nosso cotidiano para viver melhor. Dadas as emergências climáticas, da biodiversidade e da poluição, precisamos ser claros sobre o que são essas ações e assegurar que todos estejam tomando-as.

Se alguém quiser viver de forma mais sustentável, por onde pode começar?

GC: O PNUMA tornou isso super fácil com a “Anatomia das Ações”, uma ferramenta online de mídia que traduz a ciência em ações. Tudo se resume a cinco domínios: alimentação, mobilidade, bens, dinheiro e diversão. Em cada uma dessas áreas, as três principais coisas a serem feitas pelas pessoas são destacadas. Atualmente, elas podem ser diferentes dependendo de sua localização, modo de vida e dos recursos disponíveis, porém, nestas três ações prioritárias, existem oportunidades para as pessoas agirem.

Pessoas ao redor do mundo estão falando sobre o “estilo de vida 1,5°C”, um modo de vida que visa manter vivos os objetivos do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C, o que é considerado uma linha vermelha para o planeta. Você pode nos dizer mais sobre esse conceito?

GC: A ideia do “estilo de vida 1,5°C” está ligada à evidências, bem como ao que sabemos a respeito de como indivíduos, governos e empresas consomem. Sabemos que temos que mudar nosso consumo nas áreas de alimentação, mobilidade, moradia e lazer, além de precisarmos mudar de forma rápida e drástica. O “estilo de vida 1,5°C” é um bom guia para as mudanças.

Como convencer alguém a mudar seu estilo de vida?

GC: Em geral, as pessoas não pensam em como elas impactam o planeta – tanto positiva quanto negativamente – e tendem a agir se for algo fácil, acessível e atraente. Por isso, o governo e as empresas, estão se posicionando melhor para promover mudanças sistêmicas que são fundamentais para fazer da vida sustentável o padrão.

O que é preciso para que o estilo de vida sustentável se torne o padrão?

GC: Além da viabilidade econômica, acessibilidade e atratividade de bens e serviços sustentáveis é preciso haver uma integração mais ampla da vida sustentável nas normas culturais para que as pessoas não pensem nisso como sendo especial, mas apenas como a realidade. Se as práticas de vida sustentável fossem apresentadas mais nos relatos da mídia a que estamos expostos, elas se tornariam o padrão.

Qual seria um exemplo disso?

GC: Se em séries de TV e filmes víssemos mais protagonistas vegetarianos comendo refeições de bom tamanho com pratos saborosos à base de plantas, a troca de proteínas seria normalizada e desejável. Tornar a vida sustentável o novo normal significa olhar para as forças que influenciam e moldam nossas aspirações e comportamentos e integrar a sustentabilidade neles.

Algumas pessoas podem se perguntar: “Por que eu deveria fazer sacrifícios se meu vizinho não faz?”

GC: Para neutralizar a atitude “os outros não agem – por que eu deveria?”, todos os agentes envolvidos – empresas, governos e a sociedade civil – deveriam estar alinhados com as ações de impacto a serem tomadas. As evidências estão claras. O desafio é aumentar a compreensão e tecer juntos a multidão ações de forma conjunta para aproveitar o poder das pessoas em prol da mudança.

Este texto foi originalmente publicado por Nações Unidas Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Vitor Barreiros

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