Imagem de Juliana Romão no Unsplash
As chuvas extremas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 não foram apenas mais um evento climático — foram uma catástrofe sem precedentes, deslocando 2,3 milhões de pessoas e alterando drasticamente a paisagem do estado. Um estudo recente, liderado pela Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), utilizou dados de satélite para mapear a extensão do desastre e analisar os fatores meteorológicos e sociais que agravaram seus efeitos.
A pesquisa, publicada na Geophysical Research Letters, empregou informações do satélite SWOT da NASA, capaz de medir o volume de água mesmo sob densa cobertura de nuvens. Os resultados apontam que o pico das inundações atingiu 1,5 bilhão de metros cúbicos, volume suficiente para abastecer uma cidade como Nova York por mais de um ano. Esse número supera em mais do que o dobro os registros históricos de eventos extremos na região.
Além da dimensão física do desastre, o estudo destacou o perfil socioeconômico das populações afetadas. Cerca de 16% dos 420 mil deslocados eram considerados socialmente vulneráveis, segundo critérios do Instituto Brasileiro de Economia Aplicada. A inundação também devastou aproximadamente metade das terras agrícolas do estado, impactando não apenas a segurança alimentar local, mas também regiões que dependem da produção gaúcha.
Os pesquisadores identificaram uma combinação de fenômenos atmosféricos como responsável pela tragédia. A Oscilação Madden-Julian, um sistema de convecção tropical que se forma a cada um a três meses, intensificou-se sobre o Oceano Índico em abril de 2024. Seu deslocamento para leste contribuiu para a formação de um bloqueio atmosférico que estacionou uma frente fria sobre o sul do Brasil, resultando em chuvas torrenciais e localizadas.
Passado quase um ano, muitas comunidades ainda lutam para reconstruir suas vidas. O estudo não prevê se eventos dessa magnitude se tornarão mais frequentes, mas oferece dados essenciais para políticas de mitigação e preparação para desastres. Compreender a distribuição da água e os grupos mais afetados pode ajudar a reduzir os danos em futuras crises climáticas.
A pesquisa reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura resiliente e sistemas de alerta precoce, especialmente em regiões com populações vulneráveis. Enquanto o mundo enfrenta mudanças climáticas cada vez mais intensas, o caso do Rio Grande do Sul serve como um alerta sobre os riscos de subestimar a força da natureza.
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