Entenda o que o termo cruelty-free significa e como ele é utilizado na indústria cosmética
O termo cruelty-free, de origem inglesa, significa “livre de crueldade”, e é utilizado como um método de rotulagem para a comercialização de produtos confeccionados sem a realização de testes em animais. Ele deriva da história da militância humana em prol aos direitos animais — que remonta ao movimento de proteção animal da Inglaterra vitoriana.
Desde então, inúmeras organizações foram fundadas com o propósito de limitar o sofrimento animal dentro da humanidade. Uma delas, conhecido como Cruelty-Free International, foi estabelecida em 1898 para desafiar as práticas de testes em animais. Em 1978, foi criado o logo do movimento, um coelho saltando, que é usado por diversas instituições a fim de determinar produtos livres desses testes.
Entretanto, é importante notar que, no Brasil, a rotulagem cruelty-free não é regulamentada pela Anvisa, e sim por ONGs voltadas à causa animal que autorizam as empresas a usarem o selo. Isso, em consequência, abre espaço para métodos de greenwashing, cujo principal objetivo é a comercialização de produtos a partir da manipulação do consumidor.
Cruelty-free e vegano são as mesmas coisas?
Muitos consumidores acreditam que o selo cruelty-free significa que um produto não possui nenhum ingrediente de origem animal. No entanto, ambos os termos não devem ser usados de forma intercambiável.
Um produto cruelty-free, em geral, apenas não é testado em animais em sua forma final. Consequentemente, ele pode conter produtos de origem animal, como a cera de abelha, mel ou lanolina. Além disso, a falta de regulamentação dentro do selo significa que as suas matérias-primas dentro dos processos de produção podem ter sido testadas em animais.
Por outro lado, um produto vegan, ou vegano, é livre de crueldade animal em qualquer forma — incluindo a falta de testes ou o uso de ingredientes de origem animal.
Embora não possuam o mesmo significado, existem produtos que são, ao mesmo tempo, veganos e cruelty-free.
Como saber se um produto é cruelty-free?
Normalmente, um produto cruelty-free é caracterizado pelo selo do movimento. Contudo, muitas vezes, grandes corporações utilizam desse termo como um método de greenwashing — uma estratégia de marketing caracterizada pela promoção de discursos, anúncios, ações, documentos, propagandas e campanhas publicitárias sobre ser ambientalmente/ecologicamente correto, green, sustentável, verde e eco-friendly, mas que não necessariamente constam com ações que visam a sustentabilidade.
Adicionalmente, muitas empresas que disponibilizam a certificação do selo cruelty-free não fazem uma investigação precisa ou análise de todo o processo de produção de um produto. Portanto, para que um produto seja considerado livre de crueldade por uma certificação confiável, eles devem atender aos seguintes critérios:
A empresa não deve:
- Testar os seus produtos acabados em animais;
- Testar nenhum de seus ingredientes em animais;
- Contratar outras empresas para testar seus produtos, ou seus ingredientes, em animais.
Os ingredientes não devem:
- Ter sido testados em animais nos últimos 10 anos (este último depende do organismo de certificação).
Por fim, é importante notar que o uso de animais em pesquisas científicas de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes foi proibido no Brasil através da Resolução nº 58, de 24 de fevereiro de 2023, como publicado no Diário Oficial da União.
Quais são as alternativas aos testes em animais?
Existem diversos tipos de testes cosméticos realizados em animais, o mais conhecido sendo o teste Draize. Nesse caso, uma quantidade medida de uma substância é aplicada ao olho ou à pele do animal consciente e em cativeiro, deixada por um período de tempo específico e, em seguida, os efeitos são registrados.
Quando não são mortos pelos efeitos das substâncias, muitos desses animais passam a conviver com uma dor intensa, o que resulta em sua eutanásia ou “reutilização”, como divulgado pela indústria cosmética.
Subsequentemente, muitos dos testes realizados nessas instalações são vistos como inconclusivos e não confiáveis. De fato, uma análise publicada pelo portal The Conversation comprovou que, através dos maus tratos dentro dessa indústria, o bem-estar físico e mental dos animais pode influenciar nos resultados dos testes.
Ao todo, os testes em animais não são essenciais na indústria cosmética. Segundo o Ethique, “a segurança e a eficácia dos ingredientes foram determinadas há muitos anos, portanto o uso dos ingredientes em uma formulação típica requer simplesmente testes em humanos durante a formulação”.
Indústrias que trabalham no desenvolvimento de novos ingredientes e produtos, por outro lado, podem investir em outros métodos de testagem, como culturas de células e tecidos, modelagem computacional ou sistemas bioquímicos in vitro. Cada vez mais, muitas companhias investem em produtos cruelty-free e em novas técnicas de testes que não resultam no sofrimento animal.
Qual é a importância do movimento cruelty-free?
Dados da Cruelty Free International indicam que, só em 2015, 192 milhões de animais foram usados para fins científicos em todo o mundo. Além da questão ética que faz parte do movimento em prol ao bem-estar animal, existem diversas outras questões que ressaltam a importância do movimento cruelty-free, como:
- Conscientização e influência: a partir do consumo de produtos cruelty-free, o consumidor inconscientemente cria um efeito cascata na indústria, resultando na influência de outras pessoas e empreendimentos a investirem em práticas mais sustentáveis e éticas, como a erradicação dos testes em animais.
- Métodos alternativos: ao não testar em animais, indústrias impulsionam o desenvolvimento de métodos alternativos mais conclusivos, eficientes, éticos e com maior custo-benefício — o que, consequentemente, leva produtos mais seguros ao consumidor.
- Impactos ambientais: os testes em animais podem contribuir com diversos impactos ambientais, incluindo a destruição de habitats e a poluição resultantes dos resíduos de laboratório. Assim, apoiando marcas com o selo cruelty-free, o consumidor ajuda na redução desses impactos, enquanto impulsiona técnicas sustentáveis.
- Saúde humana: muitos produtos veganos e cruelty-free geralmente contêm menos substâncias químicas nocivas e ingredientes sintéticos do que produtos convencionais. Assim, esses produtos podem causar menor risco de irritação da pele, reações alérgicas e outros possíveis problemas de saúde da pele.