Culpabilização da vítima: o que é victim blaming?

Compartilhar

O termo “culpabilização da vítima” é usado para descrever o ato de desvalorizar uma vítima de um crime, considerando-a responsável pelo acontecido. Ele é a tradução literal do termo victim blaming, do inglês, que ganhou tração dentro da discussão de casos de assédio e abuso sexual.

Grande parte da atitude contra as vítimas de crimes sexuais e domésticos é uma consequência direta de uma sociedade patriarcal. Nessa em que as mulheres são constantemente vulneráveis às ações dos homens e ainda lutam pelo direito de serem ouvidas de forma justa e igualitária. 

Mesmo sendo muitas vezes não intencional, o ato de culpar a vítima pode causar danos graves aos sobreviventes de violência sexual e doméstica, fazendo com que se sintam responsáveis ​​pelas ações dos seus agressores. Além disso, visto que a maioria das pessoas que sofrem com esses crimes são mulheres, a culpabilização da vítima também pode contribuir para a regressão do movimento feminista, que luta pelo direito das mulheres. 

Antídotos contra o assédio

Exemplos de culpabilização da vítima

Alguns dos exemplos de comentários usados na culpabilização da vítima incluem: 

  • “Você devia saber que isso iria acontecer.” 
  • “Por que você saiu à noite?”
  • “Ela deve ter provocado ele.”
  • “Por que você não disse algo antes?”
  • “Você não deveria estar bebendo.”
  • “Mas que roupa você estava usando?”
  • “Bem, eles deveriam ter saído do relacionamento mais cedo.”

Todos esses comentários decorrem da crença de que existem coisas específicas que as pessoas podem fazer para evitar serem machucadas, abusadas ou simplesmente prejudicadas. 

É importante notar que as pessoas têm o direito de fazer o que querem para garantir a sua própria segurança. Porém, nunca se deve esperar que elas limitem suas próprias ações em antecipação à ação de outra pessoa. 

Por que culpamos a vítima? 

Além da prevalência da ação patriarcal na sociedade, alguns especialistas acreditam que o ato de culpar a vítima pode ser explicado através da psicologia. Esse é o caso de uma pesquisa publicada no jornal Evolution and Human Behavior, que tentou explicar o motivo desse tipo de comportamento e porque ele é compartilhado por muitas pessoas. 

Para o estudo, pesquisadores apresentaram aos participantes uma variedade de notícias fictícias descrevendo casos de infortúnio, como alguém em um acidente de carro enquanto enviando mensagens de texto e dirigindo, alguém baleado por uma arma e alguém atacado por um urso durante uma caminhada.

Depois de ler cada história, os participantes do teste foram solicitados a avaliar o caráter das vítimas e seus níveis de culpa pelo acidente.

Em alguns testes, foi oferecida aos participantes a oportunidade de doar a sua compensação total pela participação no estudo, até 60 centavos, para ajudar a vítima. Em outros, os pesquisadores os perguntaram se os participantes estariam dispostos, hipoteticamente, a ajudar as vítimas com o seu próprio dinheiro.

Ao final dos testes, os pesquisadores notaram um padrão comum: a falta de generosidade. Por exemplo, os participantes ofereceram doar uma média de apenas 15 centavos às vítimas. 

Além disso, foi observado que quanto mais falhas de caráter os participantes observavam em uma vítima, menos dinheiro era doado. 

Foi concluído que as pessoas, muitas vezes, se esforçam para encontrar falhas nas vítimas – quase como uma justificativa pela falta de empatia.  

“Se eu lhe disser que uma pessoa foi queimada em um incêndio na cozinha, você inicialmente será solidário, mas é muito provável que você ou outra pessoa em algum momento sugiram que ela deve ter feito algo estúpido”, disse o antropologista Pascal Boyer, co-autor do estudo. 

Foto de Kristina Flour na Unsplash

O impacto negativo da culpabilização da vítima

Além de terem que lidar com o trauma do crime que sofreram, as vítimas também sofrem emocionalmente através da resposta do público sobre os atos cometidos contra elas. Desse modo, a culpabilização da vítima agrava os sentimentos de culpa e vergonha do indivíduo, podendo contribuir negativamente para possíveis condições de saúde mental que foram desenvolvidas do trauma inicial. 

Outros possíveis efeitos negativos dessa culpabilização incluem: 

  • Desencoraja as vítimas a procurarem ajuda.
  • Foca nos comportamentos das vítimas em vez das ações dos agressores, potencialmente minimizando o próprio crime cometido.
  • Silencia sobreviventes.
  • Agrava problemas de saúde mental da vítima, incluindo depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e pensamentos suicidas. 

Receber uma resposta negativa aos crimes sexuais e domésticos é um medo comum que muitos sobreviventes têm, resultando em uma das muitas razões pelas quais a maioria das agressões sexuais não são denunciadas às autoridades. 

No entanto, é importante lembrar que as ações da vítima nunca devem ser usadas para justificar o crime cometido contra ela. Os crimes acontecem porque a pessoa que pratica esses atos escolheu ter comportamentos violentos e nocivos, e não porque a vítima estava vestindo determinada peça de roupa, disse determinada coisa ou esteve em determinado local.

É de interesse público mudar a narrativa que possibilita a culpabilização da vítima. Assim, criando uma sociedade segura e capaz de punir, apropriadamente, os responsáveis pelas ações criminosas e não as suas vítimas. 

Todo e qualquer ato criminoso deve ser denunciado às autoridades. Confira alguns números de apoios disponibilizados pelo governo: 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais