Por Ricardo Moura, da Embrapa.
Um sistema de cultivo protegido de tomate desenvolvido pela Embrapa tem apresentado produtividade surpreendente na região da Serra da Ibiapaba, zona norte do Ceará. “A produtividade de tomate cereja obtida foi de 166 toneladas por hectare ao ano, levando em consideração os dois ciclos de cultivo de 180 dias por ano. Os frutos produzidos foram de excelente qualidade, sendo comercializados na sua totalidade com preços acima dos obtidos com o tomate produzido no sistema tradicional”, comenta o pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) Fábio Miranda. Ele considera os resultados bastante satisfatórios, pois são muito superiores à produtividade média de tomate da região (63 t/ha), além de gerar com boa aceitação no mercado.
Nos experimentos, realizados nos municípios de Guaraciaba do Norte e São Benedito, as plantas foram cultivadas em sacos de cultivo (slabs), contendo substrato de fibra de coco, sendo avaliados vários híbridos de tomate tipo salada, modos de condução das plantas e o controle automatizado da irrigação. Os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da produção de tomate em cultivo protegido e sem solo na região da Ibiapaba se iniciaram em 2009.
Localizada na Serra da Ibiapaba, na zona norte do Ceará, Guaraciaba do Norte tornou-se um importante polo de produção de hortaliças da Região Nordeste. Conforme a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município obteve o maior volume de produção do estado naquele ano, com R$ 286,1 milhões, seguido por duas cidades vizinhas: Tianguá (R$ 229,7 milhões) e São Benedito (R$ 158,9 milhões).
A cultura do tomate ocupa um papel importante nesse resultado. Em 2020, foram produzidas 59.250 toneladas no município, ficando atrás apenas da cana de açúcar. Por isso, as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, como a do cultivo protegido de tomate sem solo, abrem perspectivas para que essa atividade se torne ainda mais sustentável tanto econômica quanto ambientalmente.
Em 2020, a Embrapa Agroindústria Tropical foi demandada por uma empresa de produção de mudas de hortaliças de Guaraciaba do Norte para realizar uma parceria com o objetivo de validar, em escala comercial, o cultivo protegido e sem solo do tomate cereja na região. Dois ciclos de cultivo do tomate cereja híbrido “Sweet Heaven” foram realizados em uma estufa com 2,5 mil m2 e em vasos contendo substrato de fibra de coco fertirrigados com uma solução nutritiva.
No cultivo sem solo do tomateiro, as plantas desenvolvem-se em vasos ou sacos de cultivo contendo um substrato. Suas necessidades hídricas e nutricionais são providas por meio de uma solução nutritiva. Podem ser usados como substratos materiais como fibra da casca de coco, considerada como ideal para a Região Nordeste, areia, vermiculita, casca de arroz carbonizada, casca de pinus e outros.
Conforme Miranda, são esperados vários benefícios com a adoção da técnica: melhor controle da irrigação e da nutrição, resultando em maior produtividade da cultura; redução do uso de defensivos agrícolas (herbicidas, nematicidas, fungicidas e inseticidas); maior eficiência do uso da água e de fertilizantes; obtenção de frutos mais uniformes, com maior qualidade e maior valor comercial; e redução de custos com mão de obra em virtude da eliminação ou redução de práticas culturais como capinas e pulverizações.
Além disso, o cultivo pode ser feito em qualquer época do ano e em locais com solos salinizados ou afetados por patógenos de solo, como nematoides, fungos ou bactérias. Na região da Serra da Ibiapaba, as colheitas de tomate tipo salada ou cereja produzido em substrato de fibra de coco iniciam entre 55 e 60 dias após o transplantio das mudas para os vasos ou sacos. Dependendo dos tratos culturais, estendem-se até 160 a 180 dias após o transplantio, podendo ser feitos até dois plantios por ano. A produção comercial pode alcançar cerca de 160 toneladas de tomate cereja por ha/ano ou 280 toneladas de tomate salada por ha/ano.
A região da Serra Ibiapaba possui uma área de cultivo de tomate estimada em torno de 1,8 mil hectares, segundo o IBGE. De acordo com Lindemberg Mesquita, entomologista e pesquisador da Embrapa, os cultivos de tomate em campo aberto enfrentam graves problemas de incidência de pragas e de doenças de solo, comprometendo a produção em várias propriedades. A solução tradicional tem sido a aplicação intensiva de defensivos químicos para manter a produção, com riscos ao meio ambiente e à saúde de trabalhadores e consumidores.
No cultivo em estufa e sem solo, o uso de nematicidas e herbicidas é desnecessário; já o uso de fungicidas pode ser reduzido em mais de 90% em relação ao cultivo em campo aberto. Ainda assim, Mesquita ressalta a importância do monitoramento de pragas e doenças no cultivo protegido. “Mesmo com todas as precauções, algumas espécies de insetos ainda são encontradas no interior da estufa, e uma das maneiras de se constatar a ocorrência de pragas é por meio da utilização de armadilhas”, relata.
São utilizadas armadilhas com feromônios específicos para espécies como a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), a broca-pequena-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis) e armadilhas adesivas amarelas e azuis para mosca-branca (Bemisia tabaci, biótipo B), pulgões (Myzus persicae) e para tripes (Frankliniella schultzei e Thrips palmi).
“Como resultado, temos registrado uma infestação baixa da praga. Há, no máximo, 3% de frutos atacados pela traça-do-tomateiro, o que é considerado um percentual baixo”, declara.
João Victor de Souza Soares é estudante de Agronomia, mas já ajuda o pai na gestão do cultivo protegido. Cabe ao jovem a responsabilidade de acompanhar o monitoramento diário e semanal da presença de pragas no tomateiro. O resultado desse esforço tem sido recompensador. “Como o nome já diz, cultivo protegido é um cultivo em que as plantas estão protegidas, ou seja, a incidência de pragas vai ser bem menor por causa de o ambiente estar fechado. O inseto só entra se eu deixar as portas abertas ou se tiver algum furo na tela da estufa. E, no caso de ele entrar, fica bem mais fácil de adotar o manejo integrado de pragas (MIP), ou seja, todas as ações de medida de controle que se precisa tomar”, descreve.
“No cultivo tradicional, em campo aberto, há muitas intempéries que interferem negativamente na produção, como mudanças no clima. O resultado principal da adoção do cultivo protegido é a possibilidade de planejar melhor o manejo, adotando as melhores medidas de controle, com foco no fruto. Com isso podemos economizar bastante em relação aos gastos com defensivos”, completa o produtor.
Na propriedade em que trabalha, Soares realiza dois monitoramentos: um diário e outro semanal. “O monitoramento é um dos pontos mais importantes porque, a partir dele, você pode tomar a sua decisão. Semanalmente, contamos o número de frutos atacados e lagartas nas folhas para ter uma ideia da eficiência dos produtos aplicados. Baseados no monitoramento diário dos adultos por meio das armadilhas, tomamos as medidas de controle e decidimos qual o período. O índice de ataque é muito baixo. Além disso, os danos causados aos frutos foram muitos superficiais”, explica.
Produtor de tomate e proprietário da Estufa Timbaúba, localizada em Guaraciaba do Norte, Julião Soares trabalha com a hortaliça desde 1995, após o falecimento do pai. “Ele tomava conta do sítio e eu assumi a administração para dar sequência ao seu trabalho. Iniciamos com pouco fluxo de caixa e preços instáveis. Nos três primeiros anos, tive muitas frustrações por causa disso. O começo foi muito difícil. Demos a volta por cima quando começamos a adotar as novas tecnologias como irrigação por gotejo e telado, otimizando a produção”, comenta.
Com a mudança para cultivo em estufa, os tomates produzidos deixaram de ser os tradicionais para dar lugar a um tomate especial, conhecido como grape. A produção é vendida e levada para os centros de abastecimento de Tianguá e Fortaleza, de onde seguem para o consumidor final.
Soares buscou apoio da Embrapa para dar um novo direcionamento ao seu negócio. Foi então que ele começou a adotar o cultivo protegido e sem solo. “Nós plantávamos antes, em campo aberto, em grande quantidade de terra e com pouca produtividade. Vimos, a partir da visita a feiras do setor, que seria possível plantar em um espaço mais compacto com maior produtividade. Isso nos chamou atenção. Apostamos e deu certo”, conta o agricultor.
Em abril deste ano, um dia de campo foi realizado na propriedade de Soares, na Estufa Timbaúba. Técnicos, produtores e estudantes puderam conhecer em detalhes o sistema de produção.
Antonio Albuquerque, coordenador de um curso Técnico de Agropecuária, levou seus alunos para conhecerem a novidade. Ele pontua a importância do evento para a formação dos jovens estudantes da região e para o desenvolvimento da tomaticultura: “Esse é um experimento que vai muito além da profissionalização dos jovens. A gente espera que isso mude a forma de produzir na Serra da Ibiapaba. Os tomates estão melhorando a vida do produtor, ao mesmo tempo que estão conseguindo alavancar a formação dos nossos jovens.”
Seja in natura ou processado, o tomate é uma das hortaliças mais consumidas no Brasil, podendo ser usada em molhos para massas, sucos e saladas. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), publicado pelo IBGE em janeiro de 2022, foram produzidas no País, entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022, um total de 3,6 milhões de toneladas de tomate em uma área de 51,6 mil hectares.
Nacionalmente, Goiás foi o estado com maior produção, com 971.432 toneladas. Já no Nordeste, a Bahia se destaca com 178.004 toneladas por ano. No Ceará, por sua vez, a produção de tomate chegou a 141.186 toneladas anuais. Embora tenha produzido menos, em números absolutos, o rendimento da produção versus área apresenta números favoráveis ao estado (veja tabela abaixo).
O LSPA ressalta a necessidade de cuidados permanentes com a cultura, uma condição que o sistema de cultivo protegido oferece aos produtores. “O tomateiro é muito sensível ao clima e seus frutos não permitem armazenamento prolongado, sendo sua oferta ajustada à demanda, já que é um produto basicamente destinado ao consumo interno. Dessa forma, qualquer problema climático nas zonas produtoras desencadeia grandes variações nos preços de comercialização”, descreve a publicação.
O controle de insetos e ácaros do tomateiro não se restringe apenas ao controle químico ou biológico. Um manejo eficiente é obtido com a adoção das seguintes recomendações:
Este texto foi originalmente publicado pela Embrapa de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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