O chamado cyberbullying político reverbera discursos de ódio já existentes em nossa sociedade, como comenta a pesquisadora Hannah Maruci, da FFLCH
Por Fernanda Real, do Jornal da USP | Passível de punição por meio do Código Penal, tanto a prática de cyberbullying quanto a do cyberstalking está detalhada na Lei de Nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Ela é caracterizada pela intimidação, humilhação, exposição vexatória, difamação, perseguição e calúnia. E, só no Brasil, a quantidade de violência vivida por meio da internet coloca o País como tendo o segundo maior número de casos de cyberbullying no mundo, como consta de uma pesquisa do Instituto IPSOS.
Com a facilidade com que discursos políticos são distribuídos no mundo atual, com as mídias digitais, o cyberbullying político acabou ampliando os debates e polarizando ainda mais os vieses políticos no âmbito da internet. Isso tem ocasionado a expansão dos casos de violência política no Brasil, em um dos principais momentos da corrida eleitoral de 2022.
A intimidação sistemática por meio das redes sociais é um mecanismo de violência que pode se desenvolver de diversas formas. Assim como o cyberbullying comum é desenvolvido nas redes, baseado no direcionamento de agressões, por meio das interações na internet, a violência política nas redes tem uma organização mais direcionada.
Grupos específicos
No cyberbullying político, a identificação da violência ocorre a partir da verificação de grupos específicos, que têm como alvo indivíduos cujo posicionamento político diverge do defendido por eles. A pesquisadora Hannah Maruci Aflalo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, explica de que forma esse tipo de violência se dá: “Ele [cyberbullying político] acontece em forma de massa. Uma organização de pessoas que se sente ofendida com algum tipo de posicionamento político envia mensagens ameaçando, ou fazendo comentários difundindo um discurso de ódio”. Dessa forma, ocorre não somente a intimidação da pessoa, como também a geração do “medo por se posicionar”.
Vale ressaltar que a violência política também pode ocorrer no ambiente extracibernético, mas esses ataques são ampliados com a facilidade com que a internet veicula informações e discursos. Sobre isso, Hannah comenta: “Acredito que a internet é uma forma de expressão, que repercute uma estrutura que já temos em nossa sociedade, machista e racista”. Ao amplificar tais assuntos e reverberar de forma mais intensa discursos já enraizados em nossa sociedade, esse tipo de violência acaba tendo como alvo grupos delimitados, como é visto no silenciamento de mulheres, pretos e pardos, grupos LGBTQIA+ e indígenas.
Repercussão política
Com a velocidade com que os discursos vão se disseminando nas redes sociais, as mídias acabam cedendo brechas para potenciais violências. Hannah comenta que, com esse mecanismo, a internet é capaz de ampliar discursos extremistas que podem ser “extremamente perigosos”, não somente no âmbito das eleições de 2022, como também na política brasileira como um todo. Ela explica que isso decorre em função de uma “educação política baixíssima no Brasil”, que é ampliada no contexto da utilização de informações falsas para a construção da violência política.
E mesmo com a implementação de leis que impedem, em teoria, que a violência política ocorra, a pesquisadora ressalta que algumas falhas e mecanismos nas próprias plataformas poderiam ser cruciais na questão envolvendo o combate ao cyberbullying político. Assim, Hannah diz ser ser necessário não apenas denunciar os casos, como também agilizar os processos de identificação de violência e de discursos de ódio no ambiente cibernético.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.