Elas podem funcionar como fertilizantes – e vários países já fazem uso de técnicas
Imagem: CIAT|Flickr
Os 330 quilômetros cúbicos de águas residuais (popularmente conhecidas como a parte líquida do esgoto) municipais produzidos globalmente a cada ano são suficientes para irrigar 40 milhões de hectares – o equivalente a 15% de toda a terra irrigada atualmente – ou para alimentar 130 milhões de lares através da geração de energia por biogás, concluiu relatório da ONU.
O relatório, intitulado “Saneamento, Gestão de Águas Residuais e Sustentabilidade: da Eliminação de Resíduos à Recuperação de Recursos”, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, na sigla em inglês), dá uma visão geral do atual conhecimento e prática na gestão de águas residuais e demonstra as oportunidades de recuperação e reutilização dos recursos encontrados nos fluxos de resíduos domésticos: na agricultura, na produção de energia e outras aplicações.
As águas residuais municipais produzidas no mundo todo contêm o equivalente a 25% do nitrogênio e 15% do fósforo aplicados como fertilizantes químicos. Também podem transportar grandes quantidades de ferro, cloreto, boro, cobre e zinco. Em apenas um dia, uma cidade com 10 milhões de habitantes libera nitrogênio, fósforo e potássio suficientes para fertilizar cerca de 500 mil hectares de terras agrícolas.
Uma abordagem mais circular para essa questão contribuiria significativamente para a conquista da recentemente adotada Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030. Além de acelerar o progresso rumo ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 6, que é garantir água e saneamento para todos, o reúso e a recuperação dos recursos de águas residuais poderiam trazer vastos benefícios sociais e econômicos, avançando em muitos outros ODS.
Por exemplo, na Índia, o Banco Mundial estima que o saneamento adequado poderia gerar uma economia de US$ 54 bilhões por ano, através do corte de custos com saúde e abastecimento de água. Na capital da República do Laos, Vientiane, as águas residuais poderiam produzir biogás suficiente para permitir 10 mil quilômetros de viagens de ônibus por dia.
O valor diário de nutrientes das águas residuais produzidas por cidades da costa da Índia foi estimado em US$ 17,5 milhões. Outro estudo calculou que os elementos encontrados nas águas residuais urbanas nos Estados Unidos, incluindo prata e outro, tiveram um valor econômico de US$ 280 por tonelada de lodo.
O relatório PNUMA/SEI recomenda que seja criado um sistema de gerenciamento sustentável para o saneamento e para as águas residuais, que seja técnico, cultural e institucionalmente apropriado, viável economicamente e resistente a desastres.
O estudo também demonstra como os desafios culturais podem ser resolvidos. Por exemplo, em Ouagadougou, Burkina Faso, a urina recebe outro nome e é “reembalada” depois do armazenamento, para mostrar claramente que o produto se transformou de um resíduo para um fertilizante. Em El Alto, na Bolívia, ervas foram adicionadas para tratar a urina como medida de coloração e desodorização.
Em Holo, na Suécia, a baixa densidade populacional tornou o tratamento centralizado de efluentes inviável financeiramente, portanto, uma cooperação única entre a concessionária, as autoridades locais, a sociedade de pesquisa e a comunidade agrícola desenvolveu uma política de reciclagem de baixo custo que produz fertilizantes e reduz a poluição, usando uma mistura de infraestrutura, tecnologia patenteada de água negra, consciência social e certificação.
Fonte: Pnuma
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