Deixar as florestas envelhecerem é crucial para reduzir mudanças climáticas

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A luta contra a crise climática pode encontrar um aliado poderoso na conservação florestal, conforme revela um estudo recente publicado na revista Nature. No entanto, o sucesso dessa abordagem está intrinsecamente ligado à redução das emissões de gases do efeito estufa. O relatório destaca que permitir que as árvores existentes envelheçam em ecossistemas saudáveis e restaurar áreas degradadas poderia sequestrar impressionantes 226 gigatoneladas de carbono, equivalente a quase meio século das emissões dos EUA até 2022. Contudo, a plantação em massa de monoculturas de árvores não contribuirá para desbloquear todo o potencial das florestas.

A devastação humana já consumiu metade das florestas do planeta, com regiões cruciais como a Amazônia e a bacia do Congo sendo continuamente destruídas, desempenhando papéis vitais na regulação atmosférica global. A pesquisa, fruto da colaboração entre centenas de destacados ecologistas florestais, propõe que áreas fora de ambientes urbanos e agrícolas, onde as florestas existem naturalmente, têm o potencial de extrair grandes volumes de carbono.

Surpreendentemente, 61% desse potencial pode ser desbloqueado pela proteção de florestas maduras, permitindo que amadureçam em ecossistemas antigos, como a floresta Białowieża na Polônia e Bielorrússia, ou os bosques de sequóias na Califórnia, que resistiram ao teste do tempo por milênios. Os restantes 39% podem ser alcançados através da restauração de florestas fragmentadas e áreas previamente desmatadas.

No cenário atual, onde o greenwashing suscita dúvidas sobre o papel da natureza na mitigação climática, os pesquisadores enfatizam a importância da biodiversidade para desbloquear o potencial de redução de carbono das florestas. Alertam que a plantação massiva de espécies únicas não é benéfica e instam a cortes urgentes nas emissões provenientes de combustíveis fósseis.

Os incêndios florestais em ascensão e as temperaturas crescentes, consequências diretas da crise climática, ameaçam reduzir esse potencial. Lidong Mo, autor principal do estudo, destaca: “A maioria das florestas do mundo está altamente degradada. Muitas pessoas nunca experimentaram uma das poucas florestas antigas que ainda restam na Terra. Para restaurar a biodiversidade global, acabar com o desmatamento deve ser uma prioridade máxima.”

Na COP26 em 2021, líderes mundiais comprometeram-se a deter e reverter a desflorestação até o final desta década, apesar de dados indicarem que os países estão atualmente fora do caminho. Cumprir essa meta, juntamente com os acordos climáticos e de biodiversidade da ONU, é crucial para as florestas atingirem seu pleno potencial.

Tom Crowther, chefe do Laboratório Crowther da ETH Zurique, destaca a necessidade de uma reformulação na conservação florestal. Ele aponta que conservar florestas, encerrar o desmatamento e empoderar comunidades locais podem capturar 61% do potencial, oferecendo uma redução massiva de carbono. Crowther sublinha a diversidade de projetos necessários, desde agrossilvicultura até regeneração natural, enfatizando que o sucesso está intrinsecamente ligado à natureza se tornar uma escolha econômica.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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