Cientistas alertam que o aquecimento global pode liberar bactérias, vírus e fungos antigos de lagos congelados, geleiras e do permafrost (chamado de pergelissolo em português). Se isso acontecer, os seres humanos podem ficar expostos a vírus e doenças que não deram as caras nos últimos milhares de anos.
Uma prévia aconteceu em 2016, numa parte remota da Sibéria, no Ártico. Como relata a BBC, um verão excepcionalmente quente em 2016 descongelou uma camada de permafrost, revelando a carcaça de uma rena infectada com antraz cerca de 75 anos antes. A doença chamada de antraz ou carbúnculo é causada por uma bactéria, Bacillus anthracis. No caso citado, a bactéria se espalhou pelos suprimentos de água e de comida da região e também chegou ao solo. Um menino de 12 anos morreu da infecção, assim como 2,3 mil renas; dezenas de pessoas ficaram doentes e hospitalizadas.
“O permafrost é um bom conservante de micróbios e vírus porque é frio, não há oxigênio e é escuro”, disse à BBC o biólogo evolucionário Jean-Michel Claverie, da Universidade de Aix-Marseille, na França. “Os vírus patogênicos que podem infectar seres humanos ou animais podem ser preservados em velhas camadas de permafrost, incluindo algumas que causaram epidemias globais no passado.”
O professor da Universidade Estadual de Montana, nos EUA, John Priscu, disse à Scientific American: “Se você põe algo na superfície do gelo, em um milhão de anos essa coisa volta”.
Cientistas de todo o mundo têm estudado gelo ártico e antártico há anos. Pesquisadores encontraram o vírus da gripe espanhola de 1918, que matou 20 a 40 milhões de pessoas em todo o mundo, intacto em cadáveres congelados no Alasca. E cientistas que estudam o surto de antraz na Sibéria acreditam que a varíola está congelada na mesma área. Um estudo de 2009 dos lagos de água doce congelados da Antártida revelou DNA de quase dez mil espécies de vírus, incluindo muitos que não tinham sido previamente identificados pela ciência.
Os vírus congelados poderiam eventualmente voltar ao meio ambiente mesmo sem o aquecimento global. Os cientistas teorizam que os lagos do Ártico, que derretem periodicamente, liberam vírus da gripe previamente congelados, que são capturados por aves migratórias e transportados para as populações humanas.
Um vírus parece ter reaparecido na década de 1930, de 1960 e mais recentemente em 2006, quando um lago siberiano derreteu. “Esse fenômeno pode ocorrer regularmente, muito além do que testemunhamos”, disse Dany Shoham, pesquisador da Universidade Bar-Ilan, em Israel. Muitos vírus não permanecerão viáveis após o congelamento, mas outros são mais adaptáveis.
O gelo não é o único repositório de doenças. Muitos também são transportados por insetos, alguns dos quais estão a expandir a sua gama devido ao aquecimento global. Os seres humanos não serão os únicos afetados. A mudança climática vai estressar alguns organismos, como o coral, deixando-os mais vulneráveis a novos vírus. “É realmente um duplo golpe, não só os afetados ficam mais estressados e suscetíveis, mas também os patógenos estão crescendo mais rápido”, disse Drew Harvell da Universidade de Cornell à LiveScience. “Essa é a chave para o porquê de um mundo mais quente pode ser um mundo mais doente.”
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