O desaparecimento das abelhas é um fenômeno que pode acabar não somente com as abelhas, mas também com a espécie humana. Isso porque esses pequenos seres polinizam mais da metade dos nossos alimentos, sendo cruciais para a manutenção da vida no planeta da forma como a conhecemos.
Além de esforços individuais, é preciso realizar ações coletivas para institucionalizar mundialmente a proteção às abelhas.
Entre essas medidas, podemos citar a proibição de pesticidas nocivos, a adaptação às mudanças climáticas, o incentivo à agroecologia, a criação e o resgate de abelhas em situação de vulnerabilidade. Além disso, outras formas sustentáveis de proteção devem ser decididas por meio de democracia direta. Mas, individualmente, você também pode fazer sua parte com algumas dicas.
Os insetos, incluindo as abelhas sem ferrão (jataí e arapuá, por exemplo) cumprem um papel importante no ecossistema, assim como em nossas vidas.
Elas são os agentes polinizadores mais eficientes da natureza, além de serem responsáveis pela reprodução e perpetuação de milhares de espécies vegetais, produzindo alimentos, conservando o meio ambiente e mantendo o equilíbrio dos ecossistemas. Estima-se que o valor econômico da polinização seja de 12 bilhões de dólares.
A polinização feita por elas garante a alta produtividade e qualidade dos frutos. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), 70% das culturas de alimentos depende das abelhas.
Mas a eficácia delas não para por aí! Ao transportar o pólen entre as plantas, elas garantem a importante variação genética das espécies para o equilíbrio dos ecossistemas e a reprodução das espécies. Ou seja, sem abelhas, não temos alimentos na mesa (seja vegetal ou animal) e muito menos oxigênio.
No Brasil, as plantações de maracujá, melancia, acerola e melão dependem 100% da polinização. Enquanto culturas de maçã, pera, ameixa, pêssego, abacate, goiaba, girassol e tomate dependem de 40% a 90%. Para as culturas de café, canola, algodão e soja, estima-se que essa dependência seja de 10% a 40%; já para as culturas de feijão, caqui e laranja, esse índice fica entre 0% a 10%.
Os dados diferem de acordo com cada ecossistema. Nos EUA, por exemplo, a produção de maçã depende 90% da polinização. Mas, em todos casos, os alimentos produzidos em ambientes sem a polinização apresentam deformações e baixo valor econômico.
Nos últimos anos, os apicultores perceberam a morte massiva de abelhas em apiários, após um grande número de espécies polinizadoras desaparecerem em um fenômeno chamado de “Síndrome de Colapso de Colônias”.
Os culpados? Eles são muitos, e nós já falamos de pelo menos um deles. Entre os especialistas, parece haver um consenso sobre os vilões do desaparecimento das abelhas polonizadoras: pesticidas, aquecimento global e desmatamento.
Esse último, por exemplo, traz diversas consequências ruins. Para as abelhas, significa a perda de seu lar e dos frutos que as alimentam, tornando difícil sua sobrevivência. Já o uso de químicos, como pesticidas e agrotóxicos, causa problemas na memória da abelhas, fazendo com que elas se desorientem e percam a habilidade de retornar à colmeia; razão esta que torna impossível para os apicultores encontrarem as abelhas desaparecidas.
Quando as abelhas entram em contato com os neonicotinoides, elas perdem o senso de direção, não conseguindo voltar à colmeia. A água exudada das plantas, que é uma fonte de hidratação para pequenos insetos, contém altas quantidades de veneno, e mata não só abelhas, mas também besouros, borboletas, mariposas, entre outros.
Esses agrotóxicos intoxicam não só os alimentos vegetais e os polinizadores, mas também peixes, aves e mamíferos. Uma vez na cadeia alimentar, podem causar câncer de tireoide em humanos e outros quadros graves.
O problema não é somente a morte das abelhas, pois elas não são as únicas polinizadoras, mas sim que o seu desaparecimento iria desencadear uma reação em cadeia no meio ambiente que iria afetar cada ser vivo da natureza.
Tome a produção agrícola no Brasil como exemplo. Colmeias são alugadas para polinizar culturas em fazendas por todo o país. Em 2011, não havia abelhas para polinizar culturas de maçã, pepino, melão e melancia.
Por falta de polinização suficiente, os frutos nascerem com sabor e formato adulterado. Houve perda de produção de outros alimentos, como laranja, algodão, soja, abacate e café, segundo David De Jong, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, em entrevista à Revista Planeta.
A campanha “Sem Abelha, Sem Alimentos”, sugere os seguintes passos para aqueles que interessados em como ajudar as abelhas:
O aplicativo Bee Alert é uma plataforma de registro do desaparecimento ou morte de abelhas em apiários para fins científicos.
Dê preferência aos produtos orgânicos: são mais saudáveis por não conterem agrotóxicos, e não contaminam o meio ambiente em sua produção, além de essa ser uma medida de apoio à produção local orgânica.
Plante em sua casa, nos parques e nos bosques de sua cidade, espécies da flora apícola; flores com pólen e néctar fornecem o alimento natural das abelhas.
As abelhas precisam do néctar e das proteínas presentes no pólen das flores para se manterem vivas e darem origem a novas gerações de abelhas. Elas desempenham um papel-chave na manutenção dos ecossistemas. Por isso, contribuir com a existência desses pequenos seres é optar por uma atitude sustentável.
Então, que tal espalhar flores pelo condomínio, casa, ruas? As abelhas gostam bastante de plantas aromáticas que dão flor, como margaridas, manjericão, orégano, girassol, hortelã, alecrim, dente-de-leão, tomilho, entre outras. Da categoria das árvores, elas gostam de goiabeira, jabuticabeira, abacateiro, lichia etc.
Elas também necessitam de um item essencial: a água. Mas, nesse último caso, cuidado com o mosquito da dengue, faça a troca diária da água. Cuidado também com a aplicação de inseticidas (mesmo os naturais) e algumas espécies de árvores nocivas a abelhas, como a árvore de neem, pois os inseticidas e algumas árvores podem reduzir significativamente as populações de abelhas.
Cultive uma colmeia de abelhas nativas sem ferrão em seu jardim – um movimento cada vez mais universal, e de ampla recomendação para os amantes da natureza.
O Brasil possui mais de três mil espécies de abelhas, sendo sua maioria de abelhas nativas sem ferrão. Espécies como a jataí, iraí, jandaira ou mandaçaia, entre outras, são abelhas dóceis e que podem fazer parte de seu jardim. Só assim podemos admirar e preservar estes maravilhosos polinizadores.
Para saber mais sobre como criar sua colmeia em casa, confira a To-Bee ou a BeeHive.
Não utilize pesticidas que sejam tóxicos às abelhas, particularmente os sistêmicos (neonicotinoides); dê preferência às práticas agroecológicas.
Todos nós temos o direito a um ambiente sadio. Entretanto, o Brasil tem fama pela sua permissividade com substâncias nocivas que já foram proibidas em várias regiões do mundo. É preciso uma mudança urgente nesse cenário.
E a sociedade civil, que é o elo mais prejudicado, precisa estar ciente dos trâmites políticos do cotidiano e pressionar por uma economia e uma política justas (isto pressupõe a sustentabilidade socioambiental) e democráticas.
Devemos reivindicar que sejam implementadas técnicas de cultivo menos nocivas e realizadas com o objetivo de alimentar a população, e não para serem usadas como commodities voltadas para o lucro de poucos privilegiados.
Entenda melhor esse tema no livro gratuito para download: “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia“.
Confira um vídeo (em inglês) do canal do Youtube da BBC que retrata as possíveis consequências da extinção das abelhas.
Confira também um vídeo de 15 minutos da apicultora Marla Spivak para o TedxGlobal, com legendas em português.
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