Descoberta envolvendo proteínas reforça necessidade de se fazer pesquisa biomédica com ambos os sexos

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Variação dos níveis das proteínas PTEN e Klotho de acordo com o sexo dos animais pode estar ligada ao desenvolvimento de doenças e resposta a tratamentos

Foto de Travis Grossen no Unsplash

do realizado no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP com camundongos machos e fêmeas revelou diferenças como cada sexo expressa duas proteínas importantes para o sistema nervoso central, responsáveis pelo controle de diversas funções celulares: PTEN e Klotho. A descoberta, publicada em artigo na revista Scientific Reports, mostra que a variação dos níveis das proteínas de acordo com o sexo pode estar relacionada ao desenvolvimento de doenças e até mesmo à resposta a tratamentos. Para a professora Elisa Mitiko Kawamoto, que conduziu o estudo, a descoberta evidencia a importância de se fazer pesquisa com ambos os sexos e não concentrar apenas em animais machos, como ocorre em grande parte dos trabalhos. Isso ajudaria a pensar em tratamentos personalizados, adequados para cada indivíduo.

A pesquisa fez parte da dissertação de mestrado da pesquisadora Natália Prudente de Mello, do Laboratório de Neurobiologia Molecular e Funcional do Departamento de Farmacologia do ICB.

Segundo os pesquisadores, o sexo pode ser considerado um fator preditivo para uma série de doenças neurológicas – o autismo, por exemplo, é quatro vezes mais comum em meninos do que meninas, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

A equipe busca novos tratamentos para doenças, com ênfase em doenças neurológicas – neste caso, as proteínas PTEN e Klotho foram estudadas como alvos farmacológicos. Ao analisarem a expressão dessas duas proteínas em camundongos saudáveis de ambos os sexos, os cientistas verificaram que a PTEN estava aumentada nas fêmeas, enquanto a Klotho era mais expressa nos machos. “Isso indica que essas duas sinalizações atuam de forma a manter o equilíbrio do organismo”, afirma Kawamoto.

A PTEN é uma proteína supressora de tumor e, no sistema nervoso central, também interfere em processos de proliferação e diferenciação celular, podendo ser importante para o aprendizado e memória. Nesse sentido, é possível que a maior incidência do autismo em meninos esteja relacionada a uma menor sinalização da PTEN, por exemplo. “Essa proteína também tem uma grande participação na inflamação, que é uma característica de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson”, explica. Além disso, os neurônios de animais com deleção da PTEN, estudados no laboratório, se proliferam e crescem mais do que o normal, causando tumores.

Já a Klotho é a proteína antienvelhecimento. Existe uma redução dos níveis dessa proteína ao longo do envelhecimento, principalmente na presença de doenças neurodegenerativas. “Os animais que não possuem esse gene têm um envelhecimento acelerado, vivendo no máximo três meses, além de apresentarem um déficit cognitivo e motor acentuado”, diz a pesquisadora. Dados da literatura mostram que a reposição da Klotho nesses casos melhora a cognição, a atividade locomotora e tem efeitos anti-inflamatórios.

Tratamentos individualizados

“Assim como existe a farmacogenômica, que prevê o desenvolvimento de fármacos de acordo com o genoma do paciente, também deveria existir a preocupação em desenvolver fármacos dependentes do sexo, uma vez que homens e mulheres têm suscetibilidades diferentes a determinadas doenças”, destaca a professora Elisa Mitiko Kawamoto.

Nos próximos passos do estudo, os cientistas vão buscar entender por que a expressão das proteínas PTEN e Klotho varia entre os sexos e se os hormônios testosterona ou estrógeno podem estar relacionados a essa diferença.

Mais informações: e-mail comunicacao@academica.jor.br, na Acadêmica Agência de Comunicação


Fonte: Jornal da USP


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