O Deserto do Saara é o maior deserto quente do mundo (e o terceiro maior deserto da Terra). Localizado ao norte do continente africano, a região tem 9.4 milhões de km² e está presente em 11 países. Seu tamanho equivale a quase todo o território continental dos Estados Unidos.
Mesmo com as condições adversas e áridas, há várias plantas e animais na região, contando com cerca de 500 espécies de plantas, 70 espécies conhecidas de mamíferos, 90 espécies de aves e 100 espécies de répteis. Além disso, o Deserto do Saara é coberto por uma poeira rica em minerais que traz efeitos positivos ao meio ambiente.
Antes do grande Deserto do Saara existir, o Norte da África tinha um clima úmido e semiárido. Para entender a mudança desse clima para o atual deserto, cientistas do Centro Bjerknes realizaram simulações da mudança climática no Norte da África nos últimos 30 milhões de anos.
Nesse estudo, eles levaram em consideração as mudanças na posição orbital da Terra, a química atmosférica e a proporção entre a terra e o oceano, impulsionada por forças tectônicas. Com isso, verificaram que a precipitação no norte da África diminuiu em mais da metade há cerca de 7 milhões de anos, causando o ressecamento da região.
Segundo os pesquisadores, isso não pode ser explicado por mudanças na vegetação, inclinação da Terra ou concentrações de gases de efeito estufa. Sendo assim, eles concluíram que a causa tem a ver com a ação tectônica.
Cerca de 250 milhões de anos atrás, uma grande massa de água denominada Mar de Tethys separou os supercontinentes da Laurásia ao norte e Gondwana ao sul. Quando eles se separaram e se embaralharam, a placa africana colidiu com a placa eurasiana, gerando os Alpes e o Himalaia, mas fechando a maior parte do mar de Tethys.
Conforme as placas continuavam se movendo, o mar continuou a encolher, eventualmente diminuindo para o Mediterrâneo. A substituição do braço ocidental do Mar de Tethys pela Península Arábica há cerca de 7 a 11 milhões de anos foi o que desencadeou a acidificação na África. A substituição da água pela terra, que reflete menos luz solar, alterou os padrões de precipitação da região e isso criou o deserto e aumentou sua sensibilidade às mudanças na inclinação da Terra.
O deserto do Saara é a principal fonte de poeira mineral no ar terrestre, comumente chamada de poeira do Saara. Desse modo, a poeira desértica, em abundância nos aerossóis atmosféricos, pode alterar os níveis de radiação solar na superfície da Terra, além de modificar as características das nuvens e interferir na circulação da atmosfera e dos oceanos, influenciando não apenas a temperatura local.
. Essa poeira é bastante utilizada em pesquisas para analisar, entender o clima antigo e encontrar evidências sobre o passado da região.
Além disso, a poeira do Saara promove a biodiveridade das plantas e reduz a atividade dos ciclones tropicais. Tempestades de poeira do Saara, caracterizadas por enormes nuvens de areia e lodo trazidas pelo vento da superfície do deserto, cruzam o Atlântico e espalham mais de 180 milhões de toneladas de poeira rica em minerais sobre a Europa, o Mediterrâneo, o Caribe e a América do Norte cada ano.
Geralmente, essa tempestade ocorre do final da primavera ao início do outono. As nuvens de poeira nascem quando as ondas tropicais se movem ao longo da borda sul do Deserto do Saara e, ao se moverem, levantam nuvens de poeira e areia no ar.
Essa poeira se acumula, forma uma massa de ar muito seca e empoeirada conhecida como Camada de Ar do Saara. Essa camada fica cerca de um quilômetro e meio acima da superfície do deserto, ficando na posição perfeita para ser varrida pelos ventos indo em direção ao mar.
A poeira do Saara é composta de vários minerais e silicatos, como o quartzo (SiO2), minerais argilosos (caulinita e ilita), carbonatos, como calcita (CaCO3), óxidos de ferro, como hematita (Fe2O3), sais e fosfatos. Os sedimentos minerais variam em tamanho, contando com grãos grandes e grossos, com mais de 10 mícrons de diâmetro, e grãos finos que medem menos de 2,5 mícrons de diâmetro.
Ao se espalhar a poeira não para pelas Ilhas Canárias, ela avança para outros lugares, como o Caribe e a floresta amazônica. Os solos da Amazônia são pobres em nutrientes, mas, segundo estudos, a poeira é nutritiva a ponto de sustentar a biodiversidade da região da América do Sul por milhões de anos, contribuindo, inclusive, para a própria história da origem da Amazônia.
No vídeo abaixo, você pode conferir as imagens, captadas por um satélite da NASA, da nuvem de poeira se espalhando:
A poeira que se espalha interage com o ar, a terra e o oceano de diversas maneiras. O ferro e fósforo presentes na poeira do Saara fertilizam as plantas terrestres e marítimas, como o fitoplâncton. Em contrapartida, muito fósforo ou ferro pode superalimentar a água salgada e as algas de água doce, levando à proliferação de algas prejudiciais.
Além disso, a poeira pode afetar o clima ao se misturar, por exemplo, com chuvas ou tempestades. Por outro lado, as condições secas e ventosas da Camada de Ar do Saara suprimem a atividade dos furacões e o forte cisalhamento da camada pode explodir a estrutura de uma tempestade.
A poeira se espalha e se mistura com a poluição urbana. A alta concentração de poluição pode ser perigosa se inalada. Um estudo publicado na revista Environmental Health descobriu que, nos dias de poeira do Saara, as visitas ao pronto-socorro por asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e infecções respiratórias aumentaram, respectivamente, em 38%, 57% e 60%. Por isso, pesquisadores ainda investigam os cuidados necessários para evitar a exposição às partículas.
Um artigo, publicado pela Springer, analisou as implicações das futuras alterações climáticas, que podem ocorrer ainda no século 21, no deserto do Saara. Foram simulados quatro cenários distintos, estabelecidos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Além de analisarem futuros níveis de emissão de gases de efeito estufa (GEE), os cenários também consideram níveis de forçamento radiativo (diferença entre a radiação solar absorvida pela superfície terrestre e a energia radiada de volta).
Segundo os pesquisadores, a temperatura média do ar na região do deserto deve continuar aumentando. Dentro dos quatro cenários analisados, a constatação é de que o aumento de temperatura do ar no deserto do Saara será maior do que a média global.
Além disso, as zonas úmidas ao norte da África devem se tornar mais quentes e secas. De acordo com o pior cenário, regiões com clima desértico, seco e quente, devem aumentar em 20.8%. Em um cenário moderado, as temperaturas extremas podem aumentar até 1.8°C até a metade do século. No cenário mais pessimista, pode haver um aumento de até 4°C.
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