Desigualdade econômica: causas e consequências

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Desigualdade econômica é a disparidade de renda e riqueza distribuída entre classes sociais. Ela fica bem nítida ao observar que uma pequena parcela da população concentra a maior parte do dinheiro. Isso enquanto boa parte da sociedade é pobre e passa por diversas consequências advindas da instabilidade financeira. Suas causas e consequências são diversas, incluindo uma relação com gênero e raça.

Sobre as desigualdades sociais no Brasil, estimativas do Banco Mundial revelam que ele é um dos dez países mais desiguais do mundo, sendo o único da América Latina na lista. Em contrapartida, acredita-se que o país mais desigual do mundo seja a África do Sul (1).

Quais são as causas da desigualdade econômica no Brasil?

A desigualdade econômica está relacionada a diversos fatores, incluindo questões políticas, sociais, de gênero e de raça. Uma das questões principais é o não interesse em uma distribuição de renda equilibrada, que leva à consequente disparidade.

Salários determinados pelo mercado

Os salários são definidos de acordo com as habilidades exigidas para um trabalho e pela demanda e oferta do mercado. Nesse sentido, se há muitos trabalhadores disponíveis para um mesmo cargo que exige certa habilidade específica, o salário oferecido será baixo. Não há, nesse caso, interesse em distribuição de renda igualitária. Isso faz com que haja desigualdade de renda que, por sua vez, impacta e influencia na desigualdade social e econômica.

Educação afeta os salários

Geralmente, grupos de pessoas com diferentes níveis de educação ganham salários diferentes. Pois o nível de educação costuma ser proporcional ao nível de habilidade – algo exigido pelo mercado. Em uma sociedade em que as oportunidades são desiguais, certa classe social poderá ascender com mais facilidade. Assim, tendo acesso à educação e, consequentemente, salários maiores.

A educação no Brasil não é ofertada de forma igualitária. Um grupo de pesquisadores analisou a infraestrutura das escolas de Educação Básica brasileiras e constatou que 44,5% é considerada elementar (água, sanitário, energia, esgoto e cozinha). Sendo que 40% têm infraestrutura básica e apenas 15,5% têm infraestrutura mais sofisticada.

Desigualdade de gênero

A desigualdade de gênero é consequência de uma sociedade patriarcal e machista que subjuga mulheres e privilegia homens. Bem como outros tipos de desigualdade, é um processo sutil e complexo, variando politicamente e historicamente de acordo com a sociedade. Essa desigualdade leva, entre outras consequências, a uma lacuna no mercado de trabalho e salários desiguais entre homens e mulheres.

Em um regime patriarcal, atribui-se tarefas domésticas às mulheres. Deixando-as distante do mercado de trabalho e com dificuldade de se inserirem nele. Quando inseridas, a desigualdade prevalece. Dados do IBGE, mostram que a taxa de frequência média no ensino médio é 10% mais alta entre mulheres do que entre homens. 

Mas no mercado de trabalho elas não se sobressaem e nem mesmo se igualam. A média salarial dos homens é de R$ 2.306, enquanto a das mulheres é de R$ 1.764 (dados dos anos de 2015 e 2016).

Desigualdade racial

Foto de Clay Banks na Unsplash

Outro fator relacionado à desigualdade econômica é a desigualdade racial. Ela é resultado de uma estrutura de poder que coloca uma etnia ou raça acima das outras de forma hierárquica. Junto à desigualdade racial há o racismo, discriminação e segregação racial. Tudo isso deriva de um processo histórico, social e político que se difere dependendo da sociedade.

O Brasil, por exemplo, é marcado pela colonização que explorou negros africanos e indígenas por meio da escravidão. Por muito tempo, as teorias científicas e sociológicas desenvolvidas no país procuraram afirmar que uma raça era melhor que a outra. A desigualdade racial ainda impera, sendo os negros e indígenas menos favorecidos. Mesmo com a ciência avançando e destruindo tais argumentos e com o estabelecimento de políticas públicas voltadas para ações afirmativas.

Refletindo esse contexto, a disparidade econômica entre raças é grande. Dados do IBGE mostram que trabalhadores brancos possuem renda 74% superior, em média, em relação a pretos e pardos. Essa diferença de renda prevalece mesmo se os indivíduos tiverem o mesmo nível de educação. 

Além disso, o IBGE afirma que a desigualdade de salário por raça é maior do que por sexo. Isso acontece devido à segregação ocupacional, oportunidades educacionais desiguais e remunerações inferiores em ocupações semelhantes. Entre os anos de 2012 e 2018, para cada R$ 1.000 recebidos por homens brancos, foram pagos R$ 758 para mulheres brancas. Sendo R$ 561 para homens pretos ou pardos e R$ 444 para mulheres pretas ou pardas.

Consequências da desigualdade econômica

Fome e pobreza

A desigualdade econômica faz com que a riqueza seja concentrada nas mãos de poucas pessoas. A concentração da renda no Brasil é uma das mais altas do mundo. 

O país está em segundo lugar em má distribuição de renda entre sua população (de acordo com dados de 2019). No Brasil, o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país. Em outras palavras, quase um terço da renda está nas mãos dos mais ricos.

Em 2020, no Brasil, o número de bilionários saltou 44%, passando de 45 bilionários para 65. Sendo que, juntos, eles detêm mais de 219 bilhões de dólares (o equivalente a 1,2 trilhão de reais). Ao mesmo tempo, nos últimos anos a fome no Brasil também avançou. 

Segundo dados da Rede Penssan, no ano de 2020,  a segurança alimentar brasileira caiu de 77,1% para 44,8%. Em 2021, pelo menos 15% da população passou a conviver com a falta diária de ter o que comer.

A desigualdade econômica reduz a qualidade de vida e traz malefícios diversos à vida da população, pois aumenta a pobreza, a fome e afeta as condições de saúde das classes desfavorecidas. A fome, por exemplo, tem consequências na saúde física e na saúde mental, podendo causar depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Ela também aumenta o risco de doenças crônicas e causa desnutrição. Por isso, as desigualdades econômica e social andam juntas.

A ausência ou inconsistência de programas de transferência de renda agravam o problema. Assim, a fome e a pobreza aparecem junto ao aumento da criminalidade, da violência, dos prejuízos diversos às classes desfavorecidas. Mas também do impedimento do progresso econômico e social.

Criminalidade

A desigualdade econômica pode aumentar a criminalidade. Uma pesquisa realizada entre 1968 e 2000 concluiu que a desigualdade é o fator mais próximo e consistentemente relacionado ao crime.

Há várias explicações possíveis para isso. Segundo estudiosos, os indivíduos desfavorecidos têm maior probabilidade de sofrer de ressentimento e hostilidade como resultado da posição econômica, competição por empregos e recursos escassos. Além disso, a desigualdade aumenta o incentivo para cometer crimes. Os indivíduos podem se encontrar em situação de pobreza tão extrema que recorrem a formas ilegais de obtenção de recursos.

Sem progresso econômico

No âmbito econômico, há um ciclo: a disparidade de renda leva a menos investimentos em educação que, consequentemente, leva a menos progresso e desenvolvimento econômico. Um estudo, que cobriu dados de 30 anos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acompanhou o aumento da desigualdade nos 25 anos anteriores à crise econômica de 2008. Com base na análise, os pesquisadores concluíram que a desigualdade de renda tem um impacto negativo e estatisticamente significativo no crescimento subsequente.

A análise mostra que o aumento das disparidades de renda impedem o desenvolvimento de habilidades entre os indivíduos com histórico de educação parental mais pobre. Em outras palavras, há uma tendência de redução do crescimento econômico. Uma vez que as famílias mais pobres (que são grande parte da população) não investem em educação superior.

Vulnerabilidade às mudanças climáticas

Embora alguns programas ao redor do mundo contribuam para a redução da desigualdade econômica, acredita-se que as mudanças climáticas podem interromper esse progresso. De acordo com um relatório do Banco Mundial, mais de 68 a 135 milhões de pessoas poderão ser “empurradas” para a pobreza até 2030 devido às mudanças climáticas.

Adicionalmente, uma pesquisa do International Monetary Fund mostra que, se as projeções de danos económicos futuros constantes da literatura científica atual se confirmarem, as alterações climáticas reverteriam os ganhos das últimas décadas e fariam com que a desigualdade entre os países aumentasse novamente.

Enquanto os efeitos das mudanças climáticas afetam o mundo inteiro e a maioria da população mundial, inúmeros documentos científicos sugerem que os riscos climáticos afetam desproporcionalmente os países e as pessoas mais pobres, que estão mais expostos e mais vulneráveis ​​aos seus impactos.

“Nas economias mais pobres, uma grande parte da população depende diretamente de atividades que podem ser mais afetadas pelas mudanças climáticas, nomeadamente os setores agrícola, florestal e das pescas. As pessoas com rendimentos mais baixos são as que têm maior probabilidade de depender, para a sua sobrevivência, dos recursos fornecidos pela natureza. 

O aumento das temperaturas está a exacerbar as disparidades pré-existentes no acesso à água potável e aos alimentos a preços acessíveis. Na maioria das vezes, as populações mais pobres não beneficiam de mecanismos de seguros nem têm acesso a serviços básicos de saúde, o que as torna particularmente vulneráveis ​​a qualquer choque que afete os seus ativos e fluxos de rendimento.” (1)

Interessantemente, aponta-se que a maioria das contribuições humanas para o agravamento da crise climática derivam da população mais rica. Apenas 10% da população é responsável por 50% das emissões de gases do efeito estufa, aponta um estudo publicado na Nature Sustainability. Os dados analisados na pesquisa entre 1990 e 2019 evidenciam a desigualdade subjacente à crise climática.

Desigualdade econômica aumenta o tráfico de animais e a propagação de vírus

Estudos também relacionam a desigualdade econômica ao comércio de vida selvagem, uma das principais causas da perda de espécies e biodiversidade. Um artigo publicado no Science Advances, mostrou que, nas últimas décadas (1998 – 2018), aproximadamente 421 milhões de animais selvagens ameaçados foram comercializados. A rede de comércio global estava mais conectada em condições de maior desigualdade internacional de riquezas. Em um contexto que importadores ricos têm uma vantagem econômica maior sobre as nações exportadoras mais pobres. 

Os pesquisadores alertam sobre os riscos desse comércio, pois ele está diretamente relacionado à propagação de doenças como a Covid-19. Nesse sentido, eles apontam que os esforços atuais para desacelerar o comércio global não serão suficientes. Para conter o problema, é necessário diminuir o mercado pagando aos países para que protejam os animais em vez de vendê-los.

Joana Coelho

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