A desinformação é parte do nosso cotidiano. Ela se manifesta de diversas formas, nos mais variados contextos, e pode se referir tanto a ações deliberadas de determinados grupos, com interesses particulares, como a um fenômeno espontâneo, resultante da precariedade educacional de uma sociedade com altos índices de desigualdade social e pouco acesso à informação.
Ainda que tenha ganhado força e alcance com a popularização da internet, que possibilita a qualquer pessoa publicar o conteúdo que bem desejar nas mais variadas plataformas on-line (redes sociais, blogs, YouTube, aplicativos e outros), a desinformação está longe de ser novidade na história humana.
No inglês, existem dois termos para descrever a desinformação, com significados semelhantes, mas ligeiramente distintos: misinformation e disinformation. Misinformation é um tipo “mais inocente” de espalhar a desinformação. Compartilhar uma notícia falsa em sua rede social por ingenuidade, sem a intenção de manipular os seus contatos, é um exemplo de misinformation – um tipo de disseminação de desinformação não deliberada.
Disinformation, por outro lado, se refere a um processo muito mais complexo de manipulação da opinião pública, a partir da divulgação massiva e orquestrada de boatos e/ou distorções da realidade. Temos um exemplo de disinformation quando grupos poderosos contratam agências especializadas em campanhas de disseminação de fake news (ou notícias falsas) para espalhar mentiras em prol dos próprios interesses.
Essas campanhas são coordenadas por equipes contratadas especialmente para disseminar boatos com o intuito de, por exemplo, manchar a reputação de um candidato político para favorecer outro. Alguns recursos dessas agências incluem sistemas automatizados (bots, ou robôs), que postam e compartilham informações falsas nas redes sociais como se fossem pessoas reais.
O maior problema da misinformation – uma prática que todos nós estamos sujeitos a cometer, por ingenuidade, falta de familiaridade com a checagem de informações ou pura desatenção – é que ela pode se transformar, em última instância, em disinformation, quando disseminada em massa por leitores desavisados que acreditam no material recebido.
As consequências negativas desse processo são, às vezes, muito difíceis de se reverter. Em maio de 2014, Fabiane Maria de Jesus, moradora do Guarujá (SP), foi confundida com uma suposta criminosa que sequestrava e assassinava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
Sua foto foi compartilhada na internet à exaustão, acompanhada da denúncia de que ela seria a responsável pelos crimes. Aos 33 anos, Fabiane foi espancada até a morte por um grupo de moradores da cidade que haviam tido acesso à informação falsa. Quando a “confusão” foi desfeita, Fabiane já tinha se tornado uma vítima fatal dos danos que as fake news podem causar.
A agnotologia é uma área de estudo que se concentra em analisar o fenômeno da produção de falsas informações por grupos poderosos, com interesses particulares, que obtêm benefícios políticos, econômicos, religiosos e/ou culturais a partir da manipulação da opinião pública. O termo foi cunhado em 1995 por Robert Proctor, professor de História da Ciência da Universidade de Stanford, para definir o estudo da produção política e cultural da ignorância.
Segundo Proctor, a ignorância se espalha quando muitas pessoas não entendem um conceito específico ou quando grupos, como empresas ou políticos, se esforçam para criar uma confusão coletiva sobre temas de seu interesse.
A agnotologia nos revela que a desinformação não é uma consequência do advento da internet e, definitivamente, não é um fenômeno que surgiu com ela. No entanto, é inegável que as mídias digitais aceleraram o processo de disseminação de notícias falsas e boatos, elevando o alcance da desinformação a níveis jamais vistos.
Afinal, a internet é território fértil para a produção de conteúdos sem embasamento científico, já que não exige referências e fontes sólidas para publicar material.
As redes sociais, por sua vez, não só publicam conteúdos falsos como também permitem seu compartilhamento. Assim, mentiras, boatos e fake news são replicados à exaustão, atingindo milhares de pessoas diariamente.
Na era das mídias digitais, até mesmo os grupos poderosos que historicamente têm controlado os meios de comunicação e a produção da “ignorância social” parecem ter perdido o domínio sobre falsos conteúdos propagados hoje.
No Brasil, as eleições de 2018 foram marcadas pelas polêmicas em torno da campanha de Jair Bolsonaro, cuja equipe é investigada pela CPI das Fake News. Nos Estados Unidos, muitos se perguntam como Donald Trump assumiu, em 2016, a cadeira da presidência da “maior democracia do mundo”, mesmo tendo mentido tanto para seu eleitorado. Alguns acreditam que o segredo esteja, justamente, nos esforços que o candidato empreendeu para disseminar desinformação durante sua campanha.
Fake news é um termo em inglês que significa, literalmente, “notícia falsa”. Notícias falsas são uma invenção, uma mentira ou uma distorção de um determinado fato que assume a aparência de uma notícia real com o objetivo de enganar as pessoas.
Aliás, é importante ter em mente que as fake news parecem verdadeiras, embora sejam falsas. Notícias falsas costumam ser cuidadosamente elaboradas, a fim de que tenham impacto e convençam o público-alvo. Por isso, pode ser difícil identificá-las – e é justamente essa dificuldade que leva à sua divulgação massiva.
Assim como as informações verdadeiras têm muitas faces, as notícias falsas também podem vir em muitas formas, de diversas fontes e sobre vários assuntos diferentes – de política até doenças e religiões.
Tradicionalmente, recebemos nossas notícias de fontes confiáveis, jornalistas e veículos de mídia que são obrigados a seguir rígidos códigos de prática. No entanto, a internet possibilitou uma forma totalmente nova de publicar, compartilhar e receber informações e notícias com muito pouca regulamentação ou padrões editoriais.
Com essa nova ferramenta, circulam nas redes diversas informações virais cuja credibilidade é baixa, mas que alcançam milhares de pessoas todos os dias. A sobrecarga de informações e uma falta geral de entendimento sobre como a internet funciona pelas pessoas também contribuíram para um aumento no número de notícias falsas ou histórias de boatos. As redes sociais podem desempenhar um grande papel no aumento do alcance desse tipo de história.
O Google e o Facebook adotam medidas para lidar com notícias falsas com a introdução de relatórios e ferramentas de sinalização. Organizações de mídia como a BBC e o Canal 4 também estabeleceram agências de fact checking, ou checagem de fatos, disponíveis para acesso público. Aqui no Brasil, grandes veículos de mídia, como a Globo, o Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo também contam com plataformas dedicadas a combater a desinformação.
Confira algumas agências de checagem de fatos para procurar informações, caso você receba uma notícia cuja veracidade não esteja confirmada:
Há uma série de atitudes que você pode tomar ao receber uma notícia aparentemente duvidosa. Aliás, a primeira dica é sempre duvidar. Ouse questionar e não acredite em tudo o que você lê na internet. Afinal, embora seja uma ferramenta maravilhosa de pesquisa e informação, qualquer pessoa pode escrever e publicar o que quiser em um site, blog ou rede social. Desconfie!
Sempre verifique a fonte da notícia que você recebe. Você reconhece o site? É uma fonte confiável e segura? Uma rápida pesquisa no Google pode ser muito esclarecedora.
Verifique todo o artigo, porque muitas notícias falsas usam manchetes sensacionalistas ou chocantes para chamar a atenção. Frequentemente, as manchetes de novas histórias falsas estão em caixa alta e usam pontos de exclamação.
Há outras notícias e meios de comunicação respeitáveis relatando a história que você recebeu? Existem fontes na história? Em caso afirmativo, verifique se eles são confiáveis ou se existem.
Histórias com informações falsas geralmente contêm datas incorretas ou cronogramas alterados. Também é uma boa ideia verificar quando o artigo foi publicado.
Sempre se pergunte: os seus próprios pontos de vista ou crenças estão afetando seu julgamento de uma notícia ou reportagem? Você está lendo a notícia que recebeu com o máximo de isenção e parcialidade? Até que ponto o seu senso crítico está sofrendo interferência da opinião prévia que você já tem sobre aquele assunto? Antes de analisar uma notícia, analise a si mesmo!
Os sites satíricos são muito populares na web, e nem sempre fica claro se uma história é apenas uma piada ou paródia. Verifique se o site em que você viu a notícia é conhecido pela sátira ou pela criação de histórias engraçadas antes de compartilhá-la.
Tenha cuidado para não considerar uma opinião uma notícia falsa só porque você discorda dela. Um político, sempre que é criticado, pode ficar tentado a dizer que está sendo alvo de fake news, mas isso é desonesto. Primeiro você deve se perguntar se a crítica é baseada em fatos ou opiniões.
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