Por Imazon | Após uma queda em janeiro, o desmatamento na Amazônia voltou a crescer em fevereiro. Conforme dados do Imazon, foram derrubados 325 km² de floresta no mês passado, o equivalente ao tamanho de Belo Horizonte. Essa foi a maior devastação registrada para fevereiro em 16 anos, desde que o instituto de pesquisa implantou seu sistema de monitoramento por imagens de satélite.
Com isso, o acumulado do ano ficou como o segundo maior desde 2008, atrás apenas de 2022. Em janeiro e fevereiro deste ano, a Amazônia perdeu 523 km² de floresta, o equivalente a quase 900 campos de futebol por dia.
Coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, o pesquisador Carlos Souza Jr. afirma que esse aumento evidencia a necessidade das políticas de combate ao desmatamento anunciadas pelo governo federal serem colocadas em prática de forma urgente e em parceria com os estados nas florestas sob maior risco de derrubada. “Através da ciência e da tecnologia, inclusive da inteligência artificial, conseguimos identificar em cada estado quais são as áreas sob maior ameaça de devastação e disponibilizamos essas informações à toda a sociedade por meio do site da plataforma PrevisIA. Os governos podem intensificar e direcionar os esforços de fiscalização para salvar essas florestas”, explica.
Quase metade (48%) do desmatamento registrado em fevereiro ocorreu apenas em Mato Grosso. No estado, a destruição passou de 96 km² em fevereiro de 2022 para 157 km² no mesmo mês de 2023, um aumento de 64%. Com isso, Mato Grosso ficou pelo segundo mês consecutivo no topo do ranking de devastação entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal.
“Em fevereiro, a derrubada aumentou principalmente na metade norte, em municípios como Feliz Natal, Aripuanã e Peixoto de Azevedo. Em Mato Grosso, o desmatamento está em grande parte associado à expansão agropecuária, então não basta apenas fortalecer as políticas públicas de combate ao desmate ilegal. Também é preciso criar medidas de incentivo à produção sustentável e ao aumento da produtividade nas áreas já derrubadas”, comenta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.
Pará e Amazonas seguem no topo do ranking dos estados com as maiores áreas derrubadas. No Pará, foram perdidos 63 km² de vegetação nativa, 19% do total na Amazônia, e no Amazonas 55 km², 17% do total.
Em solo paraense, a devastação segue avançando em municípios críticos como Altamira e São Félix do Xingu. Juntos, eles somaram 44% (28 km²) de todo o desmatamento registrado no estado. Além disso, cinco das 10 unidades de conservação mais desmatadas ficam no Pará. Juntas, elas concentram 90% (22 km²) de toda a devastação ocorrida nesse tipo de território na Amazônia, sendo 75% (18 km²) apenas dentro da APA Triunfo do Xingu.
Já no Amazonas, a derrubada tem se concentrado no Sul do estado, na divisa com Acre e Rondônia, uma região de expansão agropecuária chamada de Amacro. É lá que está localizado Apuí, o município que mais desmatou a Amazônia em fevereiro: 24 km², 44% de toda a devastação registrada no Amazonas. Além disso, ficam localizados no estado seis dos 10 assentamentos que mais desmataram na Amazônia. Juntos, eles concentram 40% de toda a derrubada ocorrida nesse tipo de território na região.
“Outro problema foi o avanço do desmatamento nas terras indígenas do Amazonas. Em fevereiro, cinco dos 10 territórios indígenas mais desmatados na Amazônia ficam no estado. Somada, a destruição dentro dessas áreas representou 60% de toda a devastação ocorrida em terras indígenas amazônicas”, informa Bianca.
Apesar de apresentarem áreas desmatadas menores do que outros estados, por serem o sétimo e o oitavo em extensão territorial na Amazônia, Roraima e Acre apresentaram altas superiores a 100% no desmatamento em fevereiro. Em Roraima, a devastação passou de 9 km² em fevereiro de 2022 para 19 km² no mesmo período de 2023, um aumento de 111%.
“O estado vem apresentando um aumento expressivo na derrubada da floresta nos últimos meses. Números que podem estar relacionados à dispersão de muitos garimpeiros que fugiram da Terra Indígena Yanomami após o início das operações federais na região, gerando um risco ainda maior a outras áreas protegidas e agravando conflitos por terra em Roraima”, comenta Bianca.
Já no Acre, a derrubada passou de 3 km² em fevereiro de 2022 para 7 km² no mês passado, um crescimento de 133%, a maior alta entre os estados. A destruição avançou pela metade leste, inclusive dentro da Resex Chico Mendes. Esse território protegido foi a terceira unidade de conservação mais desmatada da Amazônia, com uma área devastada equivalente a 40 campos de futebol.
Este texto foi originalmente publicado pela Imazon de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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