Desnutrição na gestação e na amamentação pode dar origem à obesidade, aponta estudo da Uerj

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Por Diretoria de Comunicação da UERJ | A obesidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), caracteriza-se pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo, aumentando os riscos de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo II e esteatose hepática (gordura no fígado). Também influi no surgimento de alguns tipos de câncer e no agravamento de quadros de Covid-19. As causas desse problema vão muito além da alimentação, podendo estar relacionadas a fatores genéticos, metabólicos, psicológicos e ambientais. Um estudo do Laboratório de Fisiologia Endócrina, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag) da Uerj, aponta que a desnutrição, durante o período de gestação ou de lactação, favorece o surgimento da obesidade.

De acordo com o professor Egberto Gaspar de Moura (foto), a obesidade é uma doença ligada ao desenvolvimento humano e, na medida em que alguns países foram crescendo economicamente, doenças associadas à nutrição e a fatores ambientais foram surgindo. “Durante um período, tivemos uma redução drástica da desnutrição em nosso país. Por outro lado, pessoas que passaram fome por décadas desenvolveram um organismo muito eficiente em poupar energia, acumular gordura, e isso passou para os filhos. Crianças cujos pais e avós sofreram desnutrição tendem a desenvolver a obesidade se tiverem uma alimentação exagerada, do ponto de vista calórico”, explica o pesquisador.

O estudo, financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), tem como objetivo analisar as origens da obesidade levando em consideração a nutrição materna e questões hormonais, além de fatores ambientais, como o uso de defensivos agrícolas. A análise verificou os efeitos da restrição alimentar, proteica e calórica em ratos para avaliar quais consequências seriam trazidas para os descendentes.

Foram separadas duas mães, uma em restrição proteica e a outra em restrição calórica. Na primeira, houve um aumento na quantidade de lactose, ao passo que, na segunda, aumentaram-se os níveis de gordura como forma de compensar a baixa produção de leite. Ambas as mães tiveram mudança na composição do leite e isso impactou no desenvolvimento dos animais. Após o desmame, filhotes de mães em restrição proteica ganharam pouco peso e filhotes de mães em restrição calórica ganharam mais peso.

Apesar de comprovada a influência significativa do ambiente gestacional e da lactação para o desenvolvimento da obesidade, é possível evitá-la. “A programação metabólica nos encaminha, por meio de um mecanismo altamente eficiente, para o acúmulo de gordura. Se tivermos sido desnutridos durante o período de gestação e de lactação, tendemos à obesidade. Porém, isso não é um destino certo. Pode ser evitado”, salienta o pesquisador.

O Laboratório de Fisiologia Endócrina pesquisa há mais de 20 anos as origens da obesidade, o que garantiu à Uerj o pioneirismo ao apontar que o excesso do hormônio leptina, passado à prole pela lactação, eleva os riscos de desenvolver doenças crônicas, como a obesidade. “A leptina, que é um hormônio produzido pelo tecido adiposo, tem a função de inibir o apetite e provocar a queima de gordura”, explica o professor.

Uma pessoa com acúmulo de gordura irá produzir a leptina, que enviará ao cérebro uma mensagem informando que há excesso de energia e, então, ocorrerá a diminuição do apetite. No entanto, mesmo com os níveis do hormônio aumentados, em pessoas que continuam comendo por ansiedade ou por estresse a substância tende a perder a função, o que dificulta o emagrecimento. De acordo com a pesquisa, a superexposição durante a lactação provoca a resistência à leptina, que é um dos fatores causadores da obesidade.

Uma outra linha de pesquisa do laboratório analisa a origem do excesso de peso relacionado ao uso de agrotóxicos. Segundo a pesquisadora Roseane Miranda, professora visitante do Ibrag, o crescimento da indústria desses produtos químicos na alimentação trouxe também um aumento da obesidade. “O interesse é investigar se realmente os defensivos agrícolas estão associados ao problema e se isso pode gerar doenças crônicas, na vida adulta dos filhos de mães que foram expostas a esses compostos”, explica a pesquisadora.

Segundo Egberto Gaspar de Moura, o estresse é a próxima vertente a ser estudada. “O objetivo é avaliar de que modo os distúrbios comportamentais maternos, durante a gestação e lactação, influenciam na vida dos filhos”, finaliza o pesquisador.


Este texto foi originalmente publicado pela UERJ de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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