O Diagnóstico é um método estruturado para identificar quais são os fatores-chave de sucesso presentes localmente para que a restauração se estabeleça.
O que ações desenvolvidas no Rio de Janeiro nos anos 1800, na Dinamarca nos anos 1850, na Costa Rica em 1970 ou na Etiópia nos anos 2000 têm em comum? Em todos esses casos, projetos pioneiros de restauração florestal permitiram recuperar milhares de hectares de florestas, protegendo animais, nascentes e retirando carbono da atmosfera.
Mais do que isso, esses e muitos outros projetos históricos de restauração deixaram como legado o conhecimento gerado sobre os processos de planejamento, análise das condições ambientais e sociais das áreas, definição de estratégias, ferramentas e ações tomadas para garantir a recuperação da vegetação nativa. Juntas, essas histórias criam um corpo de informações que, sistematizadas, podem ajudar os tomadores de decisão e formuladores de políticas públicas a criar os novos projetos de restauração do futuro.
É esse o objetivo do Diagnóstico da Restauração. Uma publicação do WRI, agora traduzida para o português pelo WRI Brasil, o Diagnóstico reúne 16 casos históricos de sucesso de restauração de paisagens e florestas, além dos principais dados e fatos identificados na literatura científica sobre o tema. O resultado é uma ferramenta prática que pode ser adotada por líderes de projetos de restauração no mundo todo para garantir o sucesso de suas ações, contribuindo para acelerar e dar escala à restauração.
Mas o que é o Diagnóstico, e como ele funciona na prática?
O Diagnóstico da Restauração
O Diagnóstico é um método estruturado para identificar quais são os fatores-chave de sucesso presentes localmente para que a restauração se estabeleça. Esses fatores podem estar integral ou parcialmente presentes ou até mesmo ausentes em uma paisagem que tenha oportunidades de restauração.
Ele pode ser aplicado antes da restauração começar. Nesse caso, o método pode ajudar os tomadores de decisão a focar seus esforços nos fatores-chave mais importantes antes de iniciar investimentos e operações.
O Diagnóstico também pode ser aplicado periodicamente em projetos de restauração já em andamento. Nesse caso, ajuda os implementadores da restauração a ajustar e refinar suas práticas e abordagens, garantindo um manejo inteligente e aumentando as chances de o projeto obter sucesso e gerar os benefícios para a sociedade.
O que os casos de sucesso têm em comum
Para construir as bases do Diagnóstico, os pesquisadores do WRI buscaram compreender o que os 16 casos históricos de restauração tiveram de positivo. Essa análise identificou três temas em comum para o sucesso desses projetos:
- Motivação clara: autoridades, proprietários de terras e/ou cidadãos foram inspirados ou motivados a catalisar processos que levaram à restauração de paisagens e florestas.
- Criação de condições favoráveis: havia uma série de condições ambientais, econômicas, políticas, sociais e institucionais que proporcionaram um contexto favorável para a restauração de paisagens e florestas.
- Capacidade e recursos para implementação sustentada: capacidade e recursos foram mobilizados para implementar a restauração de paisagens e florestas de forma sustentável em cada local.
Um dos casos utilizados para ajudar a identificar esses temas é bem conhecido do Brasil: a Floresta Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, que abriga a famosa estátua do Cristo Redentor. Essa floresta foi restaurada ainda no século XIX, com a recuperação de 3,2 mil hectares de florestas densas na cidade do Rio de Janeiro, criando um dos maiores parques urbanos do mundo.
O Diagnóstico na prática hoje
Para além dos casos históricos, o Diagnóstico já está sendo usado como ferramenta para identificar fatores-chave de sucesso da restauração, no Brasil e no mundo.
O WRI Brasil, em parceria com ICV, Imazon e Suzano, vem desenvolvendo um projeto sobre regeneração natural assistida que resultou em uma publicação com casos de regeneração natural assistida no Brasil e no mundo. Essa técnica é uma estratégia de restauração que potencializa a capacidade da vegetação nativa se recuperar sozinha. Na abordagem, as pessoas intervêm para ajudar as árvores e a vegetação nativa a se recuperarem de forma natural, eliminando barreiras e ameaças a seu crescimento.
Nessa publicação, os fatores-chave de sucesso propostos pelo Diagnóstico foram adaptados e serviram de base para a análise de cada projeto mapeado, a partir de questionários e entrevistas com implementadores da regeneração natural. O resultado mostrou que a presença de alguns fatores foi fundamental para regenerar a vegetação nativa de cada projeto, entre eles o envolvimento da comunidade local, o potencial para regeneração natural de cada paisagem e a coordenação entre proprietários de terras e agentes públicos e privados.
Há outras formas de se aplicar a ferramenta no processo de planejamento da restauração, como realização de oficinas com comunidades locais e atores-chave em geral. O importante é sempre garantir que as diferentes condições existentes no local, que podem apoiar a implementação da agenda da restauração, sejam avaliadas e otimizadas, de modo a aumentar as chances de permanência e de sucesso das áreas restauradas.
Uma ferramenta importante na Década da Restauração
Desde 2021, estamos vivendo no período definido pela ONU como a Década da Restauração dos Ecossistemas. Países, governos, empresas e a sociedade se comprometeram com a restauração de centenas de milhões de hectares de vegetação nativa no mundo todo. Para que essa restauração aconteça e para que as florestas restauradas e regeneradas permaneçam, gerando benefícios climáticos e ambientais, é preciso planejamento e inteligência.
É por isso que uma ferramenta como o Diagnóstico é tão importante. Ela pode ser utilizada também em conjunto com outras ferramentas, como por exemplo a metodologia ROAM, que identifica motivações e oportunidades para a restauração em uma paisagem. Juntas, essas metodologias auxiliam gestores e tomadores de decisão a traçar o melhor planejamento para restaurar a vegetação nativa no Brasil e no mundo.
Este texto foi originalmente publicado por WRI Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.