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A reintrodução do dicamba na agricultura moderna traz consigo impactos imprevistos sobre a flora e a fauna das bordas dos campos

A deriva do herbicida dicamba, amplamente utilizado na agricultura moderna, está causando danos imprevistos a plantas daninhas que crescem nas bordas dos campos agrícolas, reduzindo a presença de polinizadores como abelhas e borboletas. Pesquisadores da Universidade de Michigan descobriram que a exposição ao dicamba, mesmo em doses baixas, altera o comportamento das plantas e diminui a visitação de polinizadores, o que pode ter efeitos em cascata sobre a biodiversidade e a produtividade agrícola.

O dicamba, desenvolvido na década de 1950, foi inicialmente substituído por herbicidas como o RoundUp, que contém glifosato, considerado menos tóxico. No entanto, com o surgimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato, o dicamba voltou a ser utilizado, especialmente após a aprovação de culturas geneticamente modificadas para resistir a ele. A reintrodução do herbicida trouxe consigo um problema antigo: sua volatilidade. Quando aplicado, o dicamba pode se dispersar pelo ar, atingindo áreas não intencionais e afetando plantas que não são alvo da pulverização.

Regina Baucom, professora de ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Michigan, liderou um estudo que investigou os efeitos da deriva do dicamba em plantas daninhas e polinizadores. A pesquisa, publicada no periódico New Phytologist, mostrou que plantas expostas ao dicamba produzem menos flores e florescem mais tarde, o que reduz a atratividade para os polinizadores. Além disso, a relação entre o número de flores e a visitação de polinizadores, comum em ambientes não expostos ao herbicida, desaparece nas áreas afetadas.

O estudo foi conduzido em parcelas experimentais, onde 11 espécies de ervas daninhas foram cultivadas. Parte das plantas foi exposta a uma dose única de dicamba, equivalente a 1% da aplicação típica em campos agrícolas. Os resultados mostraram que, mesmo com essa exposição mínima, a abundância de polinizadores foi significativamente menor nas áreas tratadas com o herbicida. Baucom sugere que o dicamba, ao imitar o hormônio vegetal auxina, interfere no desenvolvimento das plantas, afetando sua capacidade de atrair polinizadores.

Auxina, hormônio presente em todas as fases do desenvolvimento vegetal, regula desde o crescimento até a inclinação das plantas em direção à luz. Quando o dicamba interfere nesse processo, as plantas podem apresentar deformações, como folhas em formato de xícara, e alterações no ciclo reprodutivo. Essas mudanças não só prejudicam as plantas, mas também rompem a relação simbiótica entre flora e fauna, essencial para a manutenção dos ecossistemas.

A pesquisa também destacou que o impacto do dicamba varia entre as espécies de plantas. Enquanto algumas ervas daninhas sofrem redução na visitação de polinizadores, outras parecem menos afetadas. Essa variação pode estar relacionada à sensibilidade de cada espécie ao herbicida e à sua capacidade de se recuperar dos danos causados.

Os resultados do estudo levantam preocupações sobre o uso crescente do dicamba, especialmente em um momento em que o declínio global de polinizadores já é uma ameaça à segurança alimentar e à biodiversidade. Baucom e sua equipe planejam expandir a pesquisa para investigar como a deriva do dicamba afeta as faixas de pradaria, áreas cultivadas com plantas nativas que servem como habitat para polinizadores e ajudam a capturar o escoamento agrícola.

A reintrodução do dicamba, embora eficaz no controle de ervas daninhas resistentes, parece estar criando novos desafios para a agricultura e o meio ambiente. A volatilidade do herbicida e seus efeitos indiretos sobre os polinizadores destacam a necessidade de práticas agrícolas mais sustentáveis e de políticas que equilibrem a produtividade com a preservação dos ecossistemas. Enquanto isso, a ciência continua a buscar respostas para mitigar os impactos negativos de um produto que, décadas após sua criação, ainda gera controvérsias.


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