Parte fundamental da medicina tradicional, a dietoterapia chinesa é uma prática que entende a alimentação como essencial para o equilíbrio da energia vital (Qi)
A dietoterapia chinesa é uma prática da medicina tradicional chinesa que entende a alimentação humana como ponto importante no tratamento e na prevenção de doenças. A terapia alimentar chinesa, ou dietoterapia, difere em vários quesitos dos ensinamentos dietéticos ensinados pela medicina ocidental, e entende certos conceitos de forma mais abstrata.
No ocidente, a energia adquirida por meio da ingestão dos alimentos é calculada matematicamente utilizando a quantidade ingerida de carboidratos, proteínas e gorduras. Porém, na dietoterapia chinesa, as coisas são totalmente diferentes.
Qual é a base da alimentação chinesa?
A medicina chinesa prega o equilíbrio do corpo através do Qi (energia vital), sendo assim, a energia consumida por meio da comida contribui para o equilíbrio da força vital. Além disso, os alimentos são divididos em diversas categorias, como quentes, frios, mornos e gelados, o que representa a forma que eles se manifestam no organismo humano.
Equilíbrio entre Yin e Yang
Diferente de conceitos como carboidratos e proteínas, a dietoterapia chinesa utiliza o conceito de energias yin e yang. Desta forma, todo o alimento que se encontra no campo energético yin é frio, refrescante e tranquilizante, enquanto aqueles que são yang tem características quentes, de aceleração e energizantes.
Cada alimento tem seu efeito positivo no corpo, quando consumido de maneira correta, o que ajuda a manter o equilíbrio do Qi. O objetivo da busca pela manutenção da energia vital é evitar ou minimizar os sintomas de doenças, sejam elas físicas ou psicológicas. A classificação da comida é feita da seguinte forma, segundo sua capacidade de fornecer yin ou yang:
Quente: todo alimento que fornece energia o mais próximo possível do yang (exemplo: anis-estrelado, licor, malte de cevada e melaço);
Morno: energia moderadamente próxima ao yang (arroz branco, baunilha, chocolate, couve-de-bruxelas e damasco);
Neutro: alimentos utilizados para neutralizar e gerar harmonia na energia do organismo (exemplo: alface roxa, ameixa, batata-doce e grãos verdes);
Frio: fornece energia yin moderada (exemplo: agrião, alface lisa, salsa, broto de feijão e chá de hibisco);
Gelado: tem uma energia yin muito alta (acelga, broto de bambu, carambola, ricota e tomate);
Como funciona a dietoterapia?
A teoria do yin e do yang na dietoterapia chinesa é apoiada pela teoria dos cinco elementos — madeira, fogo, terra, metal e água. Segundo os ensinamentos medicinais chineses, esses elementos são fundamentais para a formação do universo, e, portanto, para o equilíbrio da energia vital humana.
Na hora de equilibrar sua alimentação utilizando os princípios da dietoterapia chinesa, é essencial que se leve em consideração as características dos cinco elementos. Assim, será possível saber qual é o melhor momento para comer certo prato, o que é bom para a sua condição; e qual sabor pode gerar harmonia aos órgãos (Zang) e às vísceras (Fu).
Lembrando que os sabores básicos da dietoterapia chinesa são: amargo, azedo, picante, doce e salgado. E que esses cinco sabores estão intrinsecamente ligados aos cinco principais sistemas do corpo: coração, fígado, rim, baço/pâncreas e pulmão, e as energias yin e yang.
Como aplicar o conceito dos cinco elementos?
Elemento madeira: relacionado ao sabor azedo e ao fígado e à vesícula biliar, quando a energia da madeira se desequilibra, recomenda-se uma alimentação rica em pratos neutros, frios e gelados. A melhor época do ano para investir na saúde deste elemento é durante a primavera;
Elemento fogo: ligado ao coração, intestino delgado, pericárdio e triplo aquecedor, está ligado a sabores amargos. Considerado o elemento da alegria e da felicidade duradoura quando equilibrado, pode ser desestimulado por ressecadores e exposição ao calor, como o uso de cigarros. A melhor época para cuidar deste elemento é durante o verão. Se recomenda o consumo de alimentos neutros, frios e gelados;
Elemento terra: está relacionado ao sabor doce, e está ligado ao baço-pâncreas e estômago. A melhor época para seus cuidados é no final do verão. O desequilíbrio desse elemento pode gerar impedições do indivíduo de seguir seu fluxo vital. Os alimentos recomendados são quentes, mornos e neutros.
Elemento metal: melhor estação do ano para preparação da energia é no outono, ele tem sabor picante e corresponde às regiões do pulmão e intestino grosso. Os alimentos recomendados são quentes, mornos e neutros;
Elemento água: conserva a energia vital no inverno, e tem sabor salgado. Esse elemento corresponde a regiões do corpo como os rins e a bexiga, e para fortalecê-lo basta incluir à dietoterapia chinesa alimentos quentes, mornos e neutros.
Quem pode trabalhar com dietoterapia chinesa?
Para trabalhar com a dietoterapia chinesa, é preciso ter uma especialização no método ou na medicina tradicional chinesa. Se você tiver interesse em adotar a prática da sua vida, entre em contato com profissionais que fazem o uso de medicinas tradicionais para pedir conselhos e indicações. A dietoterapia só deve ser aplicada por um profissional da área.
Curiosidades importantes
A dietoterapia não diz respeito apenas sobre o que comer, e sim como comer e quais são os hábitos de alimentação adequados. Os profissionais de medicina chinesa indicam que o paciente deve priorizar refeições em locais calmos, mastigar de forma lenta, evitar distrações e adotar o mindfulness na hora de comer — prestando atenção nos cheiros, nas texturas e nos sabores.
Outro ponto importante é valorizar comer certos alimentos em algumas épocas dos anos. Para os chineses antigos, a sazonalidade de certos vegetais não era coincidência e sim um sinal. Logo, comer um aspargo em época de aspargo pode ser mais benéfico para a sua energia vital do que em qualquer outro momento do ano.
Coma com moderação. Mesmo que sua dietoterapia chinesa diga para comer alimentos neutros e frios para melhorar problemas em seu estômago, não monte um prato apenas com isso. Certifique-se de colocar um pouco de outros ingredientes, para não sobrecarregar demais uma energia e um único sabor.
Por fim, a dietoterapia chinesa pode ser combinada com outras práticas da medicina tradicional, como a acupuntura e a massagem. Nessas vertentes da medicina oriental, o foco são os pontos dos meridianos, os sistemas corporais que precisam de cuidados (os órgãos).