Discrepâncias entre metas climáticas e vontade popular revelam desafios na luta contra mudanças climáticas

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Enquanto governos de todo o mundo estabelecem metas ambiciosas para reduzir emissões de gases de efeito estufa, a disposição dos cidadãos em contribuir financeiramente para a proteção do clima não segue o mesmo ritmo. Essa discrepância, revelada por um estudo recente liderado pelo economista ambiental Heinz Welsch, da Universidade de Oldenburg, na Alemanha, expõe um desafio complexo na implementação de políticas climáticas eficazes. Publicado na revista Ecological Economics, o estudo analisou dados de 123 países e entrevistou quase 130 mil pessoas, mostrando que fatores como renda, emissões per capita e temperatura média influenciam tanto as metas governamentais quanto a disposição popular.

A pesquisa comparou as Promessas de Redução de Porcentagem (PRPs) dos países com a Disposição para Contribuir (WTC) dos cidadãos, medida pela aceitação em destinar 1% da renda mensal para ações climáticas. Os resultados indicam que países com maior renda per capita e maiores emissões tendem a estabelecer metas mais ambiciosas, mas suas populações são menos propensas a apoiar contribuições financeiras. Por outro lado, nações com temperaturas médias mais altas, onde os impactos das mudanças climáticas são mais evidentes, apresentam maior disposição popular para investir na proteção do clima.

Um exemplo emblemático é a Alemanha, que ocupa a 12ª posição no ranking de ambição climática, com uma meta de redução de 39,7% nas emissões até 2030. No entanto, apenas 67,9% dos alemães declararam-se dispostos a contribuir com 1% de sua renda, colocando o país na 74ª posição nesse quesito. Apesar de 86% dos entrevistados alemães concordarem que o governo deveria fazer mais pelo clima, a disposição em assumir custos pessoais é menor do que em países mais pobres ou mais quentes.

Welsch destaca que essa divergência reflete um conflito entre princípios éticos e cálculos de custo-benefício. Enquanto a ética climática das Nações Unidas defende responsabilidades comuns, mas diferenciadas, os cidadãos de países ricos e mais frios tendem a subestimar os impactos das mudanças climáticas em suas regiões e temem os efeitos negativos de medidas protetivas sobre a economia. Além disso, o estudo revela uma correlação entre a discrepância entre metas e vontade popular e menores níveis de satisfação com a democracia. Países onde as metas governamentais superam a disposição dos cidadãos em contribuir tendem a ter populações menos satisfeitas com o sistema democrático.

Para enfrentar esse dilema, Welsch sugere a criação de instrumentos políticos que reduzam o impacto econômico e social das medidas climáticas. Uma proposta é a implementação de um fundo climático, financiado por impostos sobre emissões, que redistribua recursos para as camadas mais vulneráveis da população. Essa abordagem poderia equilibrar a ambição das metas climáticas com a justiça social, mitigando resistências e promovendo maior engajamento popular.

O estudo serve como um alerta para a necessidade de alinhar políticas climáticas com as realidades socioeconômicas e as expectativas dos cidadãos. Sem esse equilíbrio, o avanço na luta contra as mudanças climáticas pode enfrentar obstáculos significativos, especialmente em sociedades democráticas onde a satisfação popular é fundamental para a estabilidade política

Equipe eCycle

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