O perigo senta ao lado

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Um sofá aconchegante, um colchão confortável, uma poltrona estilosa… A busca pelo conforto no lar é uma preocupação recorrente para grande parte das pessoas. A cada dia nos deparamos com novos produtos desenvolvidos para suprir essa preocupação e satisfazer os interesses do consumidor. No entanto, nem sempre o conforto fornecido pelo produto adquirido é seguro para a saúde e para o meio ambiente, podendo trazer uma série de malefícios à saúde. Considerando essa questão, um grupo de políticos, cientistas e ativistas se reuniu no documentário Toxic Hot Seat, desenvolvido pela HBO, para expor os danos provocados pelo uso de retardantes de chamas presentes em sofás e estofados em geral.

Onde há fumaça…

Os retardantes de chama são aplicados na superfície de móveis como sofás, colchões, estofados em geral e até mesmo em pijamas de crianças. E a toxicidade deles tem estado presente em diversas discussões. O grande problema é que os retardantes de chamas mais prejudiciais à saúde, como os compostos halogenados e os bromados, são também os mais comercializados, pois sua produção é mais barata. Cientes dessa questão, os produtores James Redford e Kirby Walker se engajaram em investigar a história de manipulação industrial que permitiu com que esses compostos nocivos entrassem sem ser convidados na casa das pessoas, provocando doenças no sistema imunológico, reprodutivo e neurológico.

A história se inicia em 1975. Devido ao grande número de incêndios domésticos provocados por bitucas de cigarros, o Estado da Califórnia elaborou uma lei que definia que todos os tecidos e espumas de estofados comercializados contivessem os retardantes de chamas. Aparentemente, essa medida é pertinente e uma norma de segurança inquestionável. No entanto, Hot Toxic Seat mostra que ela teve graves consequências, que não foram previstas.

O segmento da indústria química se aproveitou desse respaldo legal para comercializar retardantes de chamas halogenados e bromados. É sabido que tais compostos são gradualmente liberados para o ar e se fixam em partículas de poeira, que podem ser ingeridas. Além disso, conforme o documentário aponta, em eventuais incêndios, a fumaça emitida pela combustão desses retardantes contém substâncias cancerígenas, que teriam sido, por exemplo, responsáveis por elevar a taxa de câncer de mama em mulheres entre 40 e 50 anos integrantes do corpo de bombeiros de São Francisco, fazendo com que essa taxa seja seis vezes maior que a média nacional.

Confira o trailer do documentário.

Prova de fogo

A repercussão do documentário na imprensa tem rendido resultados bastante produtivos nos Estados Unidos. As legislações de Estados como Vermont e Maryland baniram o uso de retardantes tóxicos de chama nos móveis; o governador da Califórnia Jerry Brown propôs a revisão e possível substituição da legislação que exigia a presença de tais compostos, e, a partir do ano de 2014, o Estado da Califórnia terá um padrão de segurança contra incêndios que contará com alternativas não tóxicas para o mercado consumidor.

No Brasil, a discussão referente aos retardantes de chamas ainda não ganhou a proporção atingida nos Estados Unidos. Falta uma legislação consistente que regulamente a produção, a comercialização, o uso e o descarte dessas substâncias. De acordo com estudo da Universidade Federal da Santa Catarina, as leis brasileiras referentes aos retardantes de chamas ainda são muito vagas. Essa realidade, além de colocar em risco o bem-estar das pessoas, uma vez que permite que compostos tóxicos sejam adquiridos inadvertidamente, impede o crescimento sustentável da indústria química no país. A ausência da regulamentação dessas substâncias também dificulta o combate a incêndios, sobretudo em áreas verdes, onde são mais frequentes nos períodos mais secos do ano. Isso ocorre porque as autoridades responsáveis pelo combate ao fogo desconhecem quais retardantes de chamas podem ser usados sem provocar danos ao meio ambiente. Algumas tentativas de regulamentação já foram encaminhadas, mas sem resultados concretos. Por essas razões, uma mobilização de diferentes camadas da sociedade, como a que foi registrada no documentário, ainda se faz necessária no Brasil, para diminuir os estragos causados por incêndios florestais e impedir que a população tenha a sua saúde negligenciada ao ser exposta a substâncias tóxicas.

Equipe eCycle

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