Para Ricardo Abramovay, cobrar valores altos pelos recursos naturais consumidos e pelos danos causados ao meio ambiente é a melhor forma de alcançar a sustentabilidade
Por Jornal da USP – A economia global enfrenta o desafio de encaixar a sustentabilidade em seus processos produtivos. Países ao redor do mundo discutem medidas para viabilizar a relação do humano com o planeta e encontram dificuldades em atingir metas como as de redução da emissão de gases poluentes ou redução da poluição oceânica.
“A sociedade vai ter que pagar pelo uso que faz da natureza”, comentou Ricardo Abramovay, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. Para o professor, a “principal maneira de sinalizar para as empresas e para as pessoas que este uso hoje é destrutivo e ele não pode continuar do jeito que está”, é cobrar valores altos pelos danos ambientais.
Abramovay destaca que, embora a responsabilidade pelos danos ambientais seja de todos, as empresas têm a maior responsabilidade. “Elas é que detêm os meios que permitem informar ao cidadão o que custa aquilo que eles estão consumindo”, conta o professor, que ainda destaca que o lucro atual das grandes corporações só se viabiliza porque não são cobrados corretamente os preços dos recursos naturais que elas consomem e dos danos ambientais que elas causam. “O sistema econômico só se viabiliza pelo uso gratuito e destrutivo que faz da natureza”, destaca.
Um problema que pode surgir através da cobrança maior pelos danos ambientais é o impacto no preço de itens como a gasolina e o diesel, que já apresentam um preço elevado. Para Abramovay, uma forma de lidar com essa questão é redirecionar o valor cobrado das empresas por esses danos para a redistribuição de renda para as populações mais atingidas pela elevação de preços decorrente da cobrança na emissão dos gases de efeito estufa.
Outra medida importante para a redução do dano ambiental e que poderia ser financiada com os recursos dessa cobrança é a transição energética, ou seja, a substituição de usinas de carvão e gás por usinas movidas a energias renováveis modernas. A transição energética também passa pela substituição de combustíveis como gasolina e diesel por alternativas sustentáveis, como a energia elétrica. Também é importante pensar em projetos como o aumento do uso de bicicletas e de transporte coletivo.
Ricardo Abramovay destaca que a luta contra a crise climática “não é um tema setorial de meio ambiente e combustíveis fósseis, é um tema que envolve uma reorganização da vida social”.