Nota técnica aponta desafios da integração e traz propostas de soluções nas áreas de regulação, planejamento, operação e critérios econômicos
Por IEMA | O novo documento “Integração de energias renováveis ao sistema elétrico brasileiro”, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) em parceria com a Coalizão Energia Limpa, lançado no dia 15 de agosto, reconhece os desafios que o Brasil enfrenta para incluir o crescente volume de projetos de fontes renováveis – solar, eólica e biomassa – no sistema de energia elétrica nacional e orienta ações fundamentais para atingir esse objetivo. De modo geral, elas incluem aprimoramentos socioambientais, regulatórios, operacionais, de planejamento e de formação de preços.
O documento é resultado de encontros promovidos pelo IEMA e pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), em 2023, com especialistas do setor elétrico para discutir a transição energética e a integração de fontes renováveis variáveis no sistema elétrico. A nova nota técnica reúne os principais aspectos discutidos e apresenta reflexões para aprimorar o sistema elétrico brasileiro. “Estamos em um momento de grandes mudanças na matriz elétrica brasileira e, para que sejamos capazes de acomodar o volume de fontes renováveis oferecidas pelo mercado e projetadas no texto da COP 28, são necessários ajustes para aprimorar o funcionamento do sistema”, conta Ricardo Baitelo, gerente de projetos do IEMA e autor do estudo.
Veja os principais pontos do texto:
- Deve-se redefinir o papel estratégico das hidrelétricas. Além de sua já significativa contribuição para a oferta de energia elétrica, a operação das usinas pode ser otimizada para oferecer armazenamento de energia, potência em momentos críticos – ajudando a equilibrar a variabilidade das fontes eólica e solar – e a lidar com possíveis incidentes na transmissão de energia elétrica;
- Em relação à transmissão de energia elétrica, é necessário um planejamento com horizonte superior aos atuais cinco anos, para alinhar o crescimento das fontes renováveis à expansão das redes, como é o caso do Nordeste que tem mais de 70 GW em usinas solares com construção não iniciada;
- Além do aumento da capacidade de transmissão, os sistemas de armazenamento de energia são fundamentais para impulsionar a expansão de fontes renováveis intermitentes como solar e eólica. A instalação de bancos de baterias junto a sistemas renováveis concilia os períodos de produção da energia ao consumo equilibrando o fornecimento e diminuindo o desperdício;
- Os parques híbridos, que combinam diferentes fontes como solar e eólica ou solar e hidrelétrica, também melhoram a estabilidade da geração de energia renovável. A complementaridade das curvas de geração dessas fontes eleva o fator de capacidade – proporção entre a produção em um período de tempo e a capacidade total máxima neste mesmo período – e a disponibilidade de energia;
- A geração distribuída, por sistemas fotovoltaicos em residências ou indústrias, é a modalidade que mais cresce. A curva de carga desses sistemas se concentra durante o dia, exigindo reposição por outras fontes quando o sol se põe. Assim, novas tecnologias e métodos de armazenamento de energia podem desempenhar essa função e devem ser incluídos nas opções do operador nacional e dos operadores das redes de distribuição;
- Outra modalidade energética despachável que contribuirá para essa resiliência são as térmicas e a biomassa. Além da oferta de bagaço de cana para cogeração, há um enorme potencial ainda pouco explorado de biogás e biomassa proveniente de resíduos florestais e agrícolas.
“Projeções nacionais e internacionais indicam que sistemas elétricos com alta participação de fontes renováveis dependerão de sistemas de armazenamento, como bancos de baterias ou hidrelétricas com reservatórios”, destaca Baitelo. “A grande questão é se existe um limite para a participação das fontes renováveis na matriz energética. Fatos recentes, como o desperdício das fontes eólica e solar e o vertimento turbinável indicam que o setor elétrico deve se adaptar ao crescimento e ao perfil de geração das renováveis, visando potencializá-las em vez de limitá-las. A tendência é que tenhamos cada vez mais pressão no sistema para atender a picos de demanda decorrentes de ondas de calor”, completa.
Para tanto, é necessário um arcabouço legal que remunere adequadamente os serviços prestados pelos armazenadores de energia e demais fontes energéticas ao sistema. Por fim, deve-se aprimorar modelos meteorológicos de previsão de geração renovável e atualizar softwares de operação para atender à crescente diversidade da matriz elétrica. Essa arrumação é essencial para posicionar o Brasil em condições de realizar sua transição energética doméstica e contribuir para a transição global. A participação de fontes renováveis está alinhada ao documento final da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 28), em Dubai, que indica triplicar as energias renováveis e dobrar a eficiência energética até o fim desta década. Falta colocar em prática.