Ecofascismo é definido pelo historiador ambiental Michael E. Zimmerman como “um governo totalitário que exige que os indivíduos sacrifiquem seus interesses pelo bem-estar da ‘terra’, entendida como a esplêndida teia da vida, ou o todo orgânico da natureza, incluindo os povos e seus estados”. O termo foi associado à uma comunidade de pessoas com visões extremas, que remetem ao fascismo, sobre temas ambientais.
Desse modo, uma pessoa com visões ecofascistas é alguém que usa a preocupação ambiental ou retórica ambiental (como o aquecimento global) para justificar meios extremos e odiosos de suas ideologias. Assim como outros movimentos adjacentes ao fascismo, o ecofascismo é uma ideologia de extrema direita caracterizado pela crença em uma hierarquia social natural.
Ele foi popularizado pelo ecologista americano Garrett Hardin, que promoveu a “ética de bote salva-vidas”. Essencialmente, a teoria de Hardin exemplifica que, como os recursos naturais são finitos, os “ricos devem jogar os pobres ao mar e manter seu barco flutuando”. (1)
O movimento ecofascista é enraizado nos primeiros movimentos nazistas e no partido fascista na Itália. De acordo com Cassidy Thomas, estudante de doutorado sobre a interseção do extremismo de direita com a política ambiental da Universidade de Syracuse em Nova York, na Alemanha nazista, pontos discussão ambiental eram utilizados para justificar parcialmente algumas de suas principais iniciativas.
Um exemplo da origem do ecofascismo se dá pelo Ministro da Alimentação e Agricultura do Reich entre 1933 e 1942, Richard Walther Darré. Darré foi um dos líderes nazistas que defendiam a ideia de “sangue e solo” — a criação de um vínculo entre o nacionalismo e a terra que “defendiam”.
Em geral, a ideia defendida pelo ecofascismo é de que a degradação ambiental é uma resposta à superpopulação, imigração e industrialização excessiva. Ele marginaliza, principalmente, pessoas não-brancas e imigrantes não-europeus.
“A chave para entender é que o ecofascismo é mais uma expressão da supremacia branca do que uma expressão do ambientalismo”, afirmou Michelle Chan, vice-presidente da Friends of the Earth.
Por trás de discursos sobre a degradação ambiental, ecofascistas defendem um conceito de “ecologia profunda”, ou “deep ecology” — a ideia de que a única maneira de preservar a vida na Terra é reduzir dramaticamente a população humana. Assim, escondem o verdadeiro teor racista e xenofóbico de suas crenças.
Durante o ano de 2019, dois atentados contra pessoas não-brancas foram exercidos em Christchurch, na Nova Zelândia e El Paso, no Texas. Esses atos foram supostamente perpetrados por pessoas que se identificam como ecofascistas.
O nacionalista branco que matou 51 pessoas em duas mesquitas na cidade neozelandesa, descreveu a si mesmo como um “ecofascista etnonacionalista”. Em sua carta, o assassino defendia a teoria de que as mudanças climáticas eram uma resposta à superpopulação de não europeus.
Similarmente, o responsável pelo atentado em El Paso, que matou 22 pessoas e feriu mais de duas dúzias, também se descrevia como um ecofascista que estava tentando impedir uma “invasão hispânica do Texas”.
Já em 2022, 10 negros foram mortos em um supermercado em Buffalo, em Nova York, por um indivíduo de 18 anos que vinculou a migração em massa à degradação do meio ambiente como justificativa para o assassinato.
A partir da ascensão de ideais conservadores, o ecofascismo entra como uma das grandes ameaças à diversidade e ao bem-estar social. Esses movimentos violentos, além de ameaçar a vida de pessoas inocentes, também são embasados em teorias que já foram contraditas pela ciência.
De acordo com um estudo, publicado na Nature Sustainability, 10% da população é responsável por 50% das emissões de gases do efeito estufa, enquanto 50% mais pobres da população mundial representam 12% das emissões globais. Similarmente, dados da Carbon Brief, evidenciaram os Estados Unidos como um dos maiores contribuintes para as emissões de gases do efeito estufa — contabilizando 20% das emissões desde 1850.
Entretanto, o ecofascismo desconsidera essas informações, prendendo-se em conceitos errados. Ao focar nos impactos ambientais da superpopulação, esse grupo ignora o efeito da desigualdade social dentro da crise climática, algo que já foi comprovado pela comunidade científica.
Por outro lado, as teorias defendidas pelo movimento “ambientalista” também inviabilizam o racismo ambiental. O conceito criado em 1981, pelo líder afro-americano de direitos civis Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., defende que formas desiguais pelas quais etnias vulnerabilizadas são expostas às externalidades negativas e a fenômenos ambientais nocivos como consequência de sua exclusão dos lugares de tomada de decisão.
No entanto, esses grupos não contribuem para a maior parte da degradação ambiental descrita pelos ecofascistas. Isso comprova que grande parte dos ideais desse movimento são embasados em teorias falsas, mas que são usados para justificar a violência contra grupos marginalizados.
Desse modo, além de posar uma ameaça a grupos marginalizados, o ecofascismo também propaga uma onda de desinformação. Cada vez mais, ideais fascistas mascarados como movimentos ambientalistas são narrados erroneamente, contribuindo para a formação de outros ecofascistas.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais