A Economia Azul pode ser vista como “uma lente para ver e desenvolver agendas de políticas que melhorem o crescimento econômico e a melhoria simultânea da saúde dos oceanos, de maneira compatível com os princípios de equidade e inclusão social”.
De modo geral, ela incorpora os valores dos serviços ecossistêmicos prestados pelo oceano em todos os aspectos da economia e processos de tomada de decisão, e está relacionada ao 14º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).
As atividades produtivas baseadas nos oceanos e que dependem diretamente dos serviços ecossistêmicos prestados pelos ecossistemas costeiros e marinhos possuem relevante participação na economia global. Com base em dados referentes ao ano de 2010, dez atividades produtivas baseadas nos oceanos contribuíram com US $1,5 trilhões de dólares, cerca de 2,5% da economia global e foram responsáveis pela geração de 31 milhões de empregos diretos, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
No entanto, de acordo com dados da Agenda 2030, cerca de 40% dos oceanos estão sendo afetados por atividades humanas, como poluição e pesca predatória, o que resulta na perda de habitat, introdução de espécies invasoras, acidificação e branqueamento dos corais. Os micro e nanoplásticos presentes nos oceanos também são grandes problemas – há 13 mil pedaços de lixo plástico em cada quilômetro quadrado de oceano.
Economia é a ciência que analisa a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços. Do ponto de vista social, o termo se refere ao conjunto de estudos científicos sobre a atividade econômica, com a criação de teorias e modelos. Estes, por sua vez, podem ser aplicados à gestão econômica, que é o lado prático da economia.
A palavra “economia” é usada genericamente para se referir à situação econômica e às ações tomadas por um país para aumentar sua riqueza ou diminuir sua pobreza. No entanto, sua origem está na junção dos termos gregos oikos, que significa casa, e nomos, que significa gerir ou administrar.
Assim, o “cuidado da casa” é a base da economia. Isso aponta para a necessidade de buscarmos modelos econômicos que cuidem da casa do ser humano, a Terra, a fim de que nossa espécie possa se desenvolver de modo sustentável. A economia azul pode ser vista como um exemplo disso.
Os oceanos têm a importante função de absorver CO2 da atmosfera, o principal gás responsável pelo aquecimento global. Além disso, eles são uma via de transporte, fornecem alimentos e têm papel crucial no equilíbrio do clima global.
Entretanto, nos últimos anos, os oceanos têm sofrido fortes ameaças ambientais. Oceanógrafos descobriram que o oceano Pacífico está diminuindo sua capacidade de absorver o gás CO2 da atmosfera, possivelmente por conta da elevação da temperatura média da Terra.
O aquecimento global também está prejudicando o funcionamento da circulação termoalina, um fenômeno que, se desregulado de modo significativo, pode causar uma queda considerável das temperaturas. Se a desaceleração continuar, a Europa e outras regiões que dependem da circulação termoalina para manter o clima razoavelmente quente e ameno, podem esperar por uma era de gelo.
Outro fenômeno que acontece nos oceanos e ameaça a vida marinha é a pesca fantasma. Essa prática ilegal é o que acontece quando os equipamentos desenvolvidos para capturar animais marinhos como redes de pesca, linhas, anzóis e outras armadilhas são abandonados, descartados ou esquecidos nos oceanos. Esses objetos colocam em risco toda a vida marinha, pois uma vez preso nesse tipo de engenhoca, o animal acaba ferido, mutilado e morto de forma lenta e dolorosa.
A pesca fantasma não movimenta a economia, afeta os estoques pesqueiros muitas vezes já esgotados e ainda permanece como uma isca viva atraindo peixes e outros animais de maior porte para a armadilha, que vêm em busca das presas menores que ficaram enroscadas no emaranhado de fios. Estima-se que, só no Brasil, a pesca fantasma afeta cerca de 69.000 animais marinhos por dia, que costumam ser baleias, tartarugas marinhas, toninhas (espécie de golfinhos mais ameaçada do atlântico sul), tubarões, raias, garoupas, pinguins, caranguejos, lagostas e aves costeiras.
O agravante é que, muitas vezes, essas redes de pesca são feitas de plástico, um material que pode demorar centenas de anos para se decompor. Mas as redes de pesca não são a única fonte de poluição por plástico nos oceanos. O descarte incorreto, vazamentos industriais e a falta de preocupação com o pós-consumo do plástico agravam esse cenário.
A consciência do valor real dos recursos marinhos, sob a ótica dos serviços ecossistêmicos, permite a utilização eficiente e sustentável dos recursos providos pelos oceanos. A abordagem ecossistêmica deve sustentar todos os aspectos da Economia azul, incorporando inter-relacionamentos, externalidades e custos e benefícios das atividades em termos do capital natural “azul”.
A economia azul contempla atividades econômicas desenvolvidas a partir de recursos marinhos ou realizadas no ambiente oceânico de forma sustentável.
A Economia Azul é um conceito que abrange diversas atividades nos ecossistemas marinhos, como pesca, aquicultura, turismo, portos e transporte marítimo, construção naval, energia renovável, entre muitas outras. Entretanto, existem diferentes perspectivas sobre como a Economia Azul pode contribuir para o futuro do planeta e da humanidade.
Segundo Sylvia Earle, oceanógrafa e bióloga marinha, a abordagem da Economia Azul é importante pois propõe a utilização estratégica dos recursos oceânicos para impulsionar o desenvolvimento econômico de maneira sustentável. Essa visão destaca o papel dos oceanos como provedor de recursos bilionários importantes para a manutenção das atividades econômicas, sendo necessário foco no equilíbrio entre a preservação a longo prazo dos recursos marinhos e o desenvolvimento sustentável em larga escala.
O economista belga Gunter Pauli, autor do livro intitulado “A Economia Azul: 10 anos, 100 inovações, 100 milhões de empregos”, aponta que a biomimética, imitando procedimentos bem-sucedidos encontrados na natureza, é crucial para criar modelos econômicos viáveis e ecologicamente sustentáveis.
Além disso, Pauli critica a Economia Verde, ressaltando que ela gera produtos rotulados como “ecológicos” mas com preços inacessíveis para boa parte da população. Para ele, a Economia Azul deve garantir o acesso equitativo aos recursos naturais marinhos, especialmente em um mundo onde 70% da população reside à beira-mar, muitas vezes utilizando-o como depósito de lixo.
Os oceanos estão ligados, direta ou indiretamente, a todas as questões ambientais: a má gestão de recursos gera plásticos e microplásticos, derramamento de produtos químicos e disposição de lixo nos mares; a emissão de CO2 na atmosfera contribui para a acidificação dos oceanos; além disso, as práticas de extração predatória de animais marinhos gera perda de biodiversidade.
Pensando nisso, o Centro de Competência e Desenvolvimento da Economia Azul aborda a Economia Azul como sendo uma área inter e transdisciplinar, que deve abranger não apenas as questões voltadas aos oceanos, mas também ao ar, terra, espaço e ciberespaço.
Essa abordagem diz respeito ao potencial que a Economia Azul tem de integrar a si os conceitos de Economia Verde, Economia Circular, Economia Laranja, Economia Donut e Economia Ecológica. Isso se dá por conta da intrínseca relação entre o mar e a maioria das atividades econômicas e seus respectivos impactos ambientais.
Saneamento, energia limpa, reciclagem, turismo sustentável, desenvolvimento sustentável e políticas de uso sustentável dos recursos oceânicos são temas que devem fazer parte da agenda de uma economia azul sustentável. Sem essas medidas, não há como essa vertente econômica funcionar, impedindo que tanto humanos quanto todos os outros seres vivos possam exercer seu direito de existir em um ambiente ecologicamente equilibrado e saudável.
De modo geral, as propostas da Economia Azul são promover um novo sistema econômico por meio de um oceano saudável e resiliente; reforçar a ciência, a tecnologia, a inovação e a pesquisa multidisciplinar; mover-se para uma abordagem de gestão holística, intersetorial e de longo prazo; e desenvolver a capacidade humana e promover empregos sustentáveis e de qualidade, além de preservação da vida como um todo.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais