Economia biocircular verde: o que é e como funciona

Economia biocircular verde (originalmente bio-circular green economy) ou economia BCG (sigla do termo em inglês) é um modelo econômico que tem o objetivo fomentar o desenvolvimento de bioprodutos e a reutilização de resíduos para o desenvolvimento de sociedades sustentáveis. 

A economia BCG está pautada no equilíbrio entre três elementos: a bioeconomia, a economia circular e a economia verde.

O modelo da economia biocircular verde foi proposto pela Tailândia em 2022, durante o evento da Asia-Pacific Economic Cooperation (Apec). A Apec é um bloco econômico intergovernamental, formado por 21 países, que cooperam entre si. Integrar os conceitos de economia e responsabilidade ambiental é a maior meta desse modelo econômico.

O desenvolvimento desse conceito surgiu, principalmente, por conta das consequências da pandemia de Covid-19 que, entre outros fatores, também causou recessão econômica em nível mundial.

Conceito da economia biocircular verde

O conceito da economia biocircular verde foi elaborada, considerando:

  • a Bioeconomia (B);
  • a Economia Circular (C, de Circular economy, em inglês);
  • e a Economia Verde (G, de Green economy, em inglês).

Conheça a definição de cada um desses conceitos a seguir.

Qual o conceito de bioeconomia?

A bioeconomia é um método de produção industrial, que implementa tecnologia e inovação, com o uso de recursos biológicos, como insumos da agricultura, por exemplo. Dessa forma, é possível encontrar soluções sustentáveis, a partir de recursos renováveis, para diversos processos produtivos, agregando valor para as matérias primas.

A bioeconomia pode ser aplicada em diversos setores. Alguns exemplos envolvem o desenvolvimento de plástico biodegradável, a criação de bioinsumos para plantações, substituindo pesticidas e até na geração de energia renovável, entre muitas outras aplicações.

O que é economia circular?

A economia circular tem como lema “reduzir, reutilizar e reciclar”. Portanto, utilizar esse método, durante a produção e consumo de bens, é uma forma de aumentar a vida útil das matérias primas e reduzir a geração de resíduos.

Ao contrário do que ocorre na economia linear, em que as matérias primas são sempre extraídas do meio ambiente, a economia circular torna os processos produtivos mais sustentáveis, diminuindo também a dependência de recursos naturais e a consequente exploração ambiental.

Gerenciar e reutilizar recursos, de forma eficiente, favorece práticas sustentáveis para um desenvolvimento econômico positivo. Além disso, a prática ajuda a diminuir riscos ambientais, seja pela exploração de recursos ou pelo descarte de resíduos.

Como funciona a economia verde?

O conceito de economia verde foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). É um conceito que considera que o crescimento econômico deve ocorrer a partir de atividades pautadas no desenvolvimento sustentável, utilizando economias de baixo carbono e promovendo a inclusão social.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a economia verde é propulsora para investimentos públicos e privados, em diversos setores, que utilizam os recursos naturais de forma apropriada, com o objetivo de reduzir a poluição, regular o uso de energia, aumentar a eficiência energética, além de conservar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

Numa economia verde, a empregabilidade e a geração de renda, a promoção da igualdade social, o combate às mudanças climáticas e a melhoria do bem estar da humanidade são consequências desses investimentos, que não são baseados apenas em lucro.

O desenvolvimento de produtos com economia biocircular verde

Muitos países têm buscado soluções pautadas na economia biocircular verde. De acordo com pesquisadores da Tailândia e do Reino Unido, os avanços nas estratégias para a eliminação de resíduos e a utilização de recursos renováveis são essenciais para o bem estar humano.

Nesse contexto, a economia biocircular verde, baseada em recursos renováveis, é uma alternativa também para a mitigação dos efeitos da emissão de CO2. Isso porque o modelo pode ser empregado em todos os setores e atividades da economia de uma comunidade ou país.

Além disso, a ciência já tem encontrado resultados promissores.

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Produtos verdes a partir de poluentes

Pesquisadores do Japão e da Tailândia têm pesquisado os efeitos da lentilha d’água (duckweed, em inglês) na aplicação de bioprodutos sustentáveis, há mais de dez anos, desde 2010. 

Lentilha d’água, ou Lemna minor, é uma espécie de planta aquática, presente em várias partes do mundo. Essas plantas são bioindicadores de qualidade da água e são utilizadas em testes de toxicidade, por serem sensíveis às substâncias tóxicas. 

Lentilha d’água (Lemna minor) / Foto de Mokkie, sob CC BY-SA 3.0 DEED no Wikimedia Commons

Algumas espécies da lentilha d’água são palatáveis e apresentam altos teores protéicos. Uma dessas espécies, conhecida como Wolffia globosa, é um alimento tradicional tailandês e uma fonte importante de aminoácidos, antioxidantes, minerais e ainda, de vitamina B12 não animal. 

Além de ser utilizada como alimento, a lentilha d’água é considerada uma fonte de biotecnologia para a aplicação em produtos relacionados ao desenvolvimento de biorremediação (degradação de produtos tóxicos), à produção de biocombustíveis e bioplásticos

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Purificação da água

Outro exemplo de aplicação está relacionado a poluição da água, principalmente em centros urbanos. 

Em águas residuais de indústrias, poluentes como nitrogênio e fósforo costumam estar presentes. Esses elementos funcionam como fertilizantes para a espécie vegetal, que se desenvolve em abundância nessa condição, como explicam os pesquisadores. Nesse caso, as lentilhas realizam a purificação da água.

De acordo com a publicação, assim como os humanos apresentam uma colônia de bactérias no intestino e na pele, essencial para a vida humana, as plantas também são habitat de microrganismos. As lentilhas d’água são formadas por pequenas áreas e tem seu microbioma formado por microrganismos que habitam suas superfícies. 

No caso da espécie Lemna minor, essa associação entre colônia e planta é chamada de holobionte, que foi o principal foco do estudo. Segundo os pesquisadores, o crescimento dessa planta pode ser altamente influenciado por esses microrganismos, principalmente por uma bactéria, chamada de P23. A P23 foi capaz de aumentar a biomassa das plantas em até 2.3 vezes, em uma semana de cultivo.

Além disso, em temperatura ideal, o holobionte da lentilha d’água pode se desenvolver o ano inteiro. 

Biocombustíveis e bioplásticos

Os pesquisadores também apontam para o teor de amido presente na planta. Esse elemento é fundamental para sua utilização na criação de biocombustíveis ou bioplásticos, considerando que esses processos poderiam ser considerados, em grande parte, neutros em carbono, uma vez que a própria planta absorve o CO2 durante a fotossíntese.

A lentilha d’água também é destacada por pesquisadores brasileiros, por sua capacidade de produzir etanol alternativo. Isso porque a espécie apresentou um nível de sacarificação (conversão do amido, presente na planta, em açúcares fermentáveis, processo conhecido como hidrólise) maior do que a cana-de-açúcar, que é a principal matéria prima do bioetanol brasileiro.  

A lentilha d’água, assim como outras espécies vegetais, é um potencial recurso renovável, que se enquadra como alternativa sustentável para diversos setores, incluídos na economia biocircular verde.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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