Em uma recente entrevista ao jornal The Guardian, o renomado economista francês, Thomas Piketty, enfatizou a necessidade de colocar as luta de classes no centro da resposta à crise climática. Ele argumenta que abordar as disparidades nas pegadas de carbono entre os ricos e os pobres é crucial para evitar reações adversas às políticas ambientais.
Piketty propõe regulamentações mais rigorosas, incluindo a proibição de bens e serviços com emissões excessivas, como jatos privados, veículos de grande porte e voos de curta distância. Além disso, destaca a importância de impostos progressivos sobre o carbono nos países desenvolvidos, levando em consideração a capacidade das pessoas de reduzirem suas emissões, algo muitas vezes negligenciado pelas políticas atuais.
“Colocar a classe e os estudos da desigualdade no centro das análises dos desafios ambientais é fundamental”, afirma Piketty. Ele ressalta que o movimento ambientalista, em muitos casos, negligenciou a dimensão da classe e a desigualdade social, considerando isso um grande fracasso.
Piketty, autor de “O Capital no Século XXI” e codiretor do Laboratório Mundial de Desigualdade, alerta para a urgência da desigualdade de carbono, descrevendo-a como um dos problemas mais prementes do mundo. Ele aponta que a lacuna de desigualdade de carbono atingiu níveis não vistos desde o século XIX, contribuindo para a resistência contra as políticas climáticas.
O economista destaca que políticas energéticas mal direcionadas impõem um peso desproporcional sobre as pessoas de baixa renda, gerando reações negativas. Se as políticas climáticas não forem percebidas como justas, alerta Piketty, movimentos de protesto semelhantes aos “gilets jaunes” (coletes amarelos) podem surgir, como ocorreu na França há cinco anos.
Para enfrentar esses desafios, Piketty propõe não apenas regulamentações mais rígidas, mas também um “imposto progressivo sobre o carbono”. Ele sugere que essa abordagem, tributando de forma mais significativa atividades como voos frequentes de férias e propriedades de grande porte, seria aceitável para a população.
“É crucial convencer os grupos de renda mais baixa de que as pessoas mais ricas estão contribuindo de maneira justa. Comece do topo, com aqueles que têm jatos particulares”, enfatiza Piketty. Ele destaca a importância de criar uma nova forma de solidariedade de classe que transcenda as fronteiras nacionais.
Piketty adverte que sem reformas substanciais, enfrentaremos uma catástrofe climática, pois as políticas atuais não estão cumprindo seu papel. O Guardian consultou 15 economistas e especialistas em clima, encontrando um consenso significativo de que a lacuna entre as emissões dos ricos e dos pobres deve ser abordada por políticas mais eficazes do que as atuais.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais