Ecopsicologia reúne ecologia e psicologia, estudando, assim, a relação entre o ser humano e a natureza. A partir dessa abordagem, espera-se reconectar o indivíduo com o ambiente ao seu redor, trazendo uma relação mais pacífica e recíproca. Defensores da ecopsicologia acreditam que essa é uma forma de mudar as pessoas para que, consequentemente, elas mudem sua relação com o ambiente a sua volta.
O termo “ecopsicologia” surgiu em 1989 a partir de um grupo de estudiosos da Universidade de Berkeley, composto por Robert Greenway, Elan Shapiro, Alan Kanner, Mary Gomes e Theodore Roszak. Anos mais tarde, em 1992, Roszak lançou o livro “The Voice of The Earth: An Exploration of Ecopsychology” e, em 1995, Gomes e Kanner publicaram “Restoring the Earth, Healing the Mind“, os dois livros que foram responsáveis por difundir o movimento da ecopsicologia mundialmente.
A ecopsicologia reúne ecologia (que estuda o meio ambiente) e psicologia (que estuda o ser humano) funcionando como uma abordagem da psicologia que busca entender as conexões psíquicas com o mundo natural. Essa é uma perspectiva que ajuda a entender melhor a si mesmo e o mundo que nos rodeia, reconhecendo que a natureza não é algo separado do ser humano, isto é, não somos seres independentes. Na verdade, fazemos parte da natureza e, junto a ela, formamos uma unidade.
A relação entre o ser humano e o meio ambiente está presente na reflexão e produção de diversos pensadores. Freud, por exemplo, em “O mal-estar na civilização” (1929) discutiu as tensões entre civilização e indivíduo, reconhecendo a interconexão entre o mundo interno da mente e o mundo externo do meio ambiente. Freud aponta que nosso sentimento de ego “é apenas um resíduo encolhido de um sentimento muito mais inclusivo – na verdade, um sentimento abrangente que correspondia a um vínculo mais íntimo entre o ego e o mundo ao seu redor.”
Carl Jung também aborda, em sua produção teórica, uma relação entre o ser humano e o mundo natural. Na teoria junguiana, o ser humano é natureza, está conectado com suas raízes e precisa desse relacionamento com a natureza.
Theodore Roszak, um dos precursores da ecopsicologia, por sua vez, define o objetivo dessa abordagem como a superação do “histórico e persistente abismo entre o psicológico e o ecológico, para ver as necessidades do planeta e as da pessoa como um continuum.” E completa dizendo que “o grito da Terra por ajuda contra o peso punitivo do sistema industrial que nós criamos é o nosso próprio grito por uma vida em escala e qualidade que liberte a cada um para tornarmo-nos a pessoa completa que, sabemos, nascemos para ser”.
Theodore Roszak, em suas contribuições para a ecopsicologia, propôs alguns princípios para a base da abordagem. Segundo o acadêmico, a ecopsicologia, assim como outras terapias, considera a vida da criança como o estágio crucial do desenvolvimento. Por isso, ela busca recuperar a experiência animista (relativo a sua essência espiritual) inata da criança em adultos que estão “sãos” para criar um ego ecológico.
O chamado ego ecológico amadurece à medida que se desenvolve um senso de responsabilidade ética com o planeta que é vivenciado de forma tão vívida quanto nossa responsabilidade ética em relação a outras pessoas.
A ecopsicologia se baseia também em algumas questões do ecofeminismo e da espiritualidade feminista com o objetivo de desmistificar estereótipos. Essas questões ajudam a reavaliar certos traços de caráter “masculino”, que dominam as estruturas de poder política e que levam a humanidade a dominar a natureza igualmente como se ela fosse simplesmente um reino estranho e sem direitos.
Além disso, a ecopsicologia afirma que existe uma interação sinérgica entre o bem-estar planetário e o bem-estar pessoal, no sentido de que as necessidades do planeta também são necessidades do indivíduo e os direitos do indivíduo também são os direitos do planeta.
A partir dessa visão, acredita-se que o ser humano e a natureza estão intimamente ligados. Segundo a psicóloga Kelly Bôlla, eles possuem uma relação de complementaridade e a perda do vínculo entre eles produz desequilíbrio e destrutividade a todos. Por outro lado, a reconexão entre o homo sapiens e a natureza pode promover equilíbrio e bem-estar.
A ecopsicoterapia é o olhar psicoterapêutico da ecopsicologia. Enquanto outras terapias procuram analisar e ajudar em relações entre pessoa e pessoa, pessoa e família, pessoa e sociedade, a ecopsicoterapia busca entender a relação entre pessoa e o meio ambiente.
Essa abordagem faz bastante sentido ao se pensar no surgimento de problemas como a eco-ansiedade. A eco-ansiedade é um sentimento generalizado de medo crônico ligado à crise ambiental. Há, ainda, quem chame de eco-medo, por se tratar muitas vezes de um medo e uma insegurança profunda em relação ao futuro do planeta.
O prefixo “eco” em palavras como essas justifica a preocupação dos eco-ansiosos. “Eco” vem do grego “oikos” que quer dizer casa. Se nossa casa está ameaçada, é normal que surjam sentimentos de medo, insegurança, preocupação e tristeza. Do ponto de vista da ecopsicologia, que entende a relação primordial e complementar entre a humanidade e a natureza, a eco-ansiedade é uma resposta natural a uma situação que prejudica uma parte importante para o ser humano: a natureza.
Na prática, a ecopsicoterapia inclui diferentes métodos como terapia assistida com animais, terapia horticultural, mindfulness verde e trabalho ecológico. Ela é realizada, geralmente, em contato com ambiente natural e faz perguntas visando trazer de volta a consciência de reciprocidade entre meio ambiente e ser humano.
Com isso, acredita-se que é possível mudar as pessoas, conectando-as de volta com o planeta, aumentando seu bem-estar e, ao mesmo tempo, colaborando para que a natureza sobreviva ao excesso de consumo da humanidade.
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