Tito Lotufo e Tércio Ambrizzi analisam alertas recentes do IPCC considerando as mudanças no ambiente marinho, as quais incluem até mesmo a ameaça de extinção de pinguins
O clima do planeta Terra está mudando e grande parte da culpa recai sobre os seres humanos. É o que apontou o mais novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). O aumento de 1,5ºC na temperatura da Terra deve acontecer até 2040 e os impactos da mudança aparecem também no ambiente aquático.
“Algumas espécies têm desaparecido de alguns lugares e passam a ocupar outros”, explica o professor Tito Lotufo, do Instituto Oceanográfico (IO) da USP. Com o IPCC prevendo um aumento na temperatura oceânica, o professor conta que muitas espécies passam a não conseguir mais viver em seu habitat natural pela ausência de um ambiente adequado à sua existência.
Aquecimento do planeta
A velocidade com que essas alterações de temperatura acontecem acabam ameaçando a resiliência de animais, isto é, a capacidade de espécies resistirem a essas mudanças no ambiente. “Isso gera um choque. Teremos espécies que não vão conseguir acompanhar a velocidade dessas mudanças”, explica Lotufo.
De acordo com Tércio Ambrizzi, que é professor no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, o calor excedente da atmosfera acaba sendo absorvido pelos oceanos. As correntes oceânicas, assim, acabam sendo modificadas com a maior evaporação nesses meios. A acidificação das águas, decorrente desse processo, acaba sendo maléfica à vida aquática. “O próprio oceano acaba matando muito da sua biodiversidade”, afirma.
Entre as pesquisas desenvolvidas sobre os efeitos das mudanças climáticas no planeta, ganhou destaque recentemente a supervisionada pelo professor Lotufo. Na lista de efeitos encontrados dentro do ambiente aquático, chamou a atenção de pesquisadores a perda de habitat de corais rochosos, no Atlântico tropical. Corais constituem peças importantes no funcionamento de recifes e consequentemente do ecossistema marinho.
“Os corais, sob estresse térmico, passam por um processo de branqueamento, que é a perda da sua pigmentação e a perda dos seus simbiontes, que são microalgas, às quais o coral vive associado, e de que ele depende muitas vezes para sua própria sobrevivência”, explica Lotufo.
Vida ameaçada
Quem também aparece impactada negativamente pela eliminação da biodiversidade na água é a pesca. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os estoques pesqueiros entraram em declínio nos últimos anos. Se, em 1974, 90% dos estoques estavam classificados como “biologicamente sustentáveis”, em 2017 esse porcentual caiu para 65,8%. Essa tendência só foi revertida em 2018, mas especialistas atribuíram essa mudança à pesca da anchoveta em áreas próximas ao Chile e ao Peru. Vale lembrar que boa parte desse montante está no limite máximo de captura, podendo entrar em sobrepesca a qualquer momento.
A repercussão negativa em espécies animais aparece também em populações de pinguins. De acordo com estimativas publicadas no periódico científico Global Change Biology, a população de pinguins-imperadores da Antártida deve ser reduzida até 2040, para até 2100 ter 98% de suas colônias extintas. Os motivos apontam para o encolhimento progressivo de gelo marinho causado pelo aumento da temperatura global.
“Temos que reduzir a nossa pegada no planeta e entender que tudo isso, de uma forma ou de outra, acaba se voltando contra a gente em algum momento”, aponta Lotufo. Nesse processo de adaptação, ele cita não só reduzir a emissão de gases de efeito estufa (ligada ao aquecimento global), mas também “diminuir o lixo marinho, diminuir a poluição aquática e da atmosfera”.
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