Em apenas 75 anos, mudanças climáticas podem extinguir 80% das espécies de anfíbios do Pantanal

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Um estudo realizado por pesquisadores do Brasil e da Suíça revela que o Pantanal e seu entorno enfrentam uma crise ambiental sem precedentes. Até o fim do século, mais de 80% das espécies de anfíbios da região podem perder suas áreas adequadas de sobrevivência, mesmo em um cenário otimista de emissões de gases do efeito estufa. A pesquisa, publicada no Journal of Applied Ecology, alerta para a necessidade urgente de ampliar as áreas protegidas e repensar práticas econômicas para evitar uma catástrofe ecológica.

A bacia do Alto Paraguai, que abriga o Pantanal e se estende por partes do Brasil, Paraguai e Bolívia, poderá ver 99% de seu território comprometido para a vida de anfíbios anuros, como sapos, rãs e pererecas. As projeções climáticas para 2100 indicam que, mesmo com a manutenção das emissões atuais, o aumento da temperatura média global em 2 °C será suficiente para causar extinções locais em grande escala. Em um cenário mais grave, com elevação de 4 °C, as perdas podem ser ainda mais devastadoras.

As unidades de conservação integral, que hoje cobrem apenas 5,85% da bacia, protegem menos de 5% da distribuição geográfica desses animais. A criação de novas áreas protegidas, especialmente em regiões que se manterão adequadas no futuro, é apontada como uma solução essencial. No entanto, os pesquisadores destacam que a expansão dessas áreas deve ser acompanhada por medidas de mitigação dos impactos de atividades agropecuárias inadequadas e pela restauração de ecossistemas aquáticos.

Atualmente, apenas 17% da superfície terrestre global é coberta por áreas protegidas, incluindo unidades de conservação e terras indígenas. A Convenção da Biodiversidade da ONU recomenda que esse índice chegue a 30% até 2030, mas o estudo mostra que, no Pantanal, as áreas existentes são insuficientes para garantir a sobrevivência dos anfíbios. Apenas 13,7% das áreas protegidas na bacia do Alto Paraguai têm potencial para abrigar mais espécies ou sofrer menos perdas em cenários futuros, sendo a maioria delas terras indígenas.

As poucas regiões que permanecerão adequadas para os anfíbios estão localizadas no norte da bacia, próximo a Cuiabá (MT), no sudeste, perto de Campo Grande (MS), e no sudoeste, na fronteira com o Chaco paraguaio. Essas áreas, que hoje já demonstram uma riqueza de espécies menor do que o esperado, podem se tornar refúgios vitais diante das mudanças climáticas.

O estudo, liderado por Matheus Oliveira Neves durante seu doutorado na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), e coordenado por Mario Ribeiro Moura, pesquisador da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), utilizou mais de 4 mil registros de ocorrência das 74 espécies de anfíbios conhecidas na região. Os dados foram cruzados com projeções climáticas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), destacando a urgência de ações globais para reduzir as emissões de carbono.

Enquanto o Acordo de Paris propunha limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C, o planeta já atingiu esse patamar em 2024. A transição para um modelo econômico menos dependente de combustíveis fósseis é vista como indispensável para mitigar os impactos da crise climática sobre a biodiversidade e a sociedade.

A pesquisa reforça a importância de políticas públicas que integrem a conservação ambiental ao desenvolvimento sustentável, garantindo a sobrevivência não apenas dos anfíbios, mas de todo o ecossistema pantaneiro, um dos mais ricos e ameaçados do mundo.

Equipe eCycle

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