Estudo recente publicado na revista Plos One, liderado por pesquisadores do Canadá, Estados Unidos e Vietnã, revelou que abelhas asiáticas colam pelotas de cocô de outros animais em suas colmeias como uma estratégia para repelir ataques de vespas assassinas. A descoberta surpreendeu os pesquisadores, uma vez que as abelhas são conhecidas por manter altos padrões de higiene, a fim de prevenir doenças nas colmeias. No entanto, a equipe ainda não conseguiu determinar por que as pelotas de cocô causam tanta repulsa nos inimigos.
Os ataques às colmeias costumam contar com a participação de dezenas de vespas ao mesmo tempo, capazes de causar um massacre em massa de milhares de abelhas. Em seguida, as vespas se apoderam das larvas das abelhas para alimentar os próprios filhotes. Para enfrentar essa batalha evolucionária contínua, as abelhas desenvolveram mecanismos de defesa, como assobiar para espantar os inimigos ou retribuir o ataque em massa, na tentativa de sufocá-los. No entanto, a estratégia de blindagem com fezes ainda era desconhecida pela ciência.
As vespas gigantes analisadas pela equipe são parentes muito próximas das “vespas assassinas” que alarmaram apicultores norte-americanos e canadenses no ano passado. Por sua vez, outras vespas gigantes são regularmente encontradas e destruídas no Reino Unido. As abelhas que vivem na Europa e na América do Norte, segundo os cientistas, ainda não desenvolveram defesas para enfrentar seus inimigos, o que as torna alvos fáceis e suscetíveis aos massacres em massa.
A professora Heather Mattila, do Wellesley College nos Estados Unidos, que liderou o estudo, disse ter ficado surpresa com o uso das fezes como arma de defesa das colmeias, porque as abelhas costumam adotar rigorosos padrões de limpeza para manter sua comida, seus filhotes e suas casas protegidos de doenças. Matilla afirma ter ficado extremamente preocupada, a ponto de não conseguir dormir, quando as vespas gigantes atacaram colmeias na América do Norte, em 2019. Segundo ela, as abelhas da região não tinham recursos suficientes para se defender de um ataque tão brutal.
A pesquisa começou quando o Prof Gard Otis, da Universidade de Guelph, no Canadá, e um dos membros da equipe perguntaram a um apicultor no Vietnã em que consistiam algumas manchas que eles haviam notado ao redor das entradas das colmeias. A resposta? Esterco de búfalo. Após investigações, a equipe descobriu que as abelhas coletavam também fezes de gado. Experimentos posteriores mostraram que as abelhas só marcavam suas colmeias com cocô depois de receberem visitas indesejadas de vespas predadoras.
A equipe descobriu que as vespas assassinas passavam menos da metade do tempo nas entradas das colmeias que continham manchas de esterco do que nas colmeias limpas, além de 94% menos tempo tentando invadi-las. Um experimento final descobriu que as colmeias marcadas com secreções pelas vespas gigantes, para sinalizar potenciais alvos de ataques, foram rapidamente cobertas com cocô.
Depois de entrarem em contato com outros especialistas em abelhas, os pesquisadores descobriram que esse comportamento é generalizado no Vietnã e que também já foi relatado na China, Tailândia, Butão e Nepal. Algumas espécies de abelhas sem ferrão eram conhecidas por coletar fezes de animais e incorporá-las em seus ninhos, mas este foi o primeiro registro do hábito escatológico em abelhas produtoras de mel.
A razão pela qual o esterco repele as vespas ainda é desconhecido, mas outros insetos, como a lagarta da mariposa do tabaco, se cobrem de cocô para afastar predadores. Os pesquisadores disseram que a repulsa pode acontecer simplesmente por um instinto natural das vespas, que consideram as fezes “impuras”, ou por rejeição a substâncias presentes na comida dos animais. Outra possibilidade é que as pelotas de cocô ajam como uma camuflagem olfativa para as colmeias, mascarando os odores que as vespas usam para marcar os ninhos-alvo. O fato é que a estratégia funciona.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais