Em um ano, desmatamento cai 30,6% Amazônia e 25,7% no Cerrado

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Por WWF-Brasil | A taxa anual de desmatamento da Amazônia Legal para o ano 2024 foi de 6.288 km², uma queda de 30,6% em comparação ao período anterior. Já no Cerrado, houve também uma redução significativa, de 25,7%, mas o desmatamento se mantém em patamares preocupantes no bioma, com uma taxa de 8.174  km². 

Os dados são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sistema responsável por medir as taxas oficiais de desmatamento. Os números se referem ao período entre agosto de 2023 e julho de 2024 e foram divulgados nesta quarta-feira, 6,  em um evento realizado em Brasília pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), no qual também foi assinado o Pacto pelo Cerrado.

Na Amazônia, depois de aumentos sucessivos entre 2018 e 2021, as taxas de desmatamento vêm caindo desde 2022. Essa tendência de queda, caso se torne perene, poderá contribuir para uma melhora da imagem do Brasil em um mercado internacional cada vez mais exigente em relação à produção sustentável.

Essa redução recente do desmatamento está relacionada aos esforços de controle na destruição de florestas realizados a partir de 2023, com o lançamento de iniciativas como a criação de uma secretaria federal específica para o controle de desmatamento e a retomada do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), ferramenta historicamente eficaz na redução da devastação. Em contraste, a gestão federal do período anterior havia promovido um desmonte sem precedentes das instâncias de controle e governança ambiental – o que resultou em taxas anuais acima de 10 mil km² no período entre 2019 e 2022.

“Uma queda significativa no desmatamento da Amazônia pelo terceiro ano consecutivo é sem dúvida uma boa notícia, porém não é suficiente diante do tamanho dos desafios climáticos e de preservação da biodiversidade que enfrentamos”, comentou Mariana Napolitano, diretora de estratégia do WWF-Brasil. 

Segundo ela, é preciso lembrar que 2024 foi um ano de diversas tragédias climáticas no Brasil – e para evitar os piores cenários de eventos extremos no país, como o que aconteceu no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal, é preciso garantir que a queda no desmatamento seja mantida e acelerada nos próximos anos. 

“A melhor ciência disponível já alerta que precisamos reflorestar parte do que foi destruído nas últimas décadas, especialmente no caso da Amazônia que caminha para o ponto de não retorno, perdendo sua capacidade de regeneração”, disse Napolitano.

A área desmatada entre agosto de 2023 e julho de 2024 na Amazônia foi a mais baixa dos últimos 9 anos no bioma. Rondônia, com queda de 62,5%, Mato Grosso, com queda de 45,1%, Amazonas, com queda de 29% e Pará, com queda de 28,4%, foram alguns dos estados que reduziram o desmatamento no período. Os estados que lideraram a destruição no período foram Pará, Amazonas e Mato Grosso, com 2.362km², 1.143 km² e 1.124 km²  de florestas desmatadas, respectivamente. O maior aumento de desmatamento estimado foi no estado de Roraima com 53,5% a mais em relação ao período anterior.

Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil, alerta para os ataques recentes à Moratória da Soja no bioma. “Ao mesmo tempo em que podemos comemorar três anos consecutivos de queda no desmatamento da Amazônia, devemos temer pela continuidade dessa tendência. Estamos vendo um ataque sem precedentes à Moratória da Soja, que foi um dos mais eficazes instrumentos para redução na velocidade do desmatamento da Amazônia, com reconhecimento internacional”, declarou Silva.

Segundo ele, o sucesso da recente retomada do combate ao desmatamento merece ser reconhecido, mas ainda não garante o futuro sustentável que precisamos. “Estamos vendo o aumento no uso de agrotóxicos para desmatar em grande escala no Pantanal. Estamos vendo o avanço da destruição no Cerrado, onde metade da vegetação natural já foi perdida, colocando em risco áreas críticas para o vigor das nascentes de oito importantes bacias hidrográficas do nosso país, que ficam nesse bioma.”

No Cerrado, embora o desmatamento tenha caído pela primeira vez desde 2019, a devastação segue em altos níveis e a situação permanece crítica. Há um ano, o governo federal divulgou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado), mas a iniciativa ainda está em implementação. As ações para redução do desmatamento no bioma também são limitadas por outros fatores: ao contrário do que ocorre na Amazônia, no Cerrado a devastação se concentra em áreas privadas, a legislação é mais permissiva em relação ao desmatamento. 

Os estados que mais desmataram no Cerrado foram Maranhão (2.487 km²), Tocantins (2.019 km²) e Piauí (1.014 km²). Todos pertencem ao Matopiba, a mais recente fronteira agrícola do país, evidenciando a relação entre o avanço da produção de commodities e a destruição ambiental. Os estados da Bahia e do Maranhão tiveram redução de 63,3% e 15,1%, respectivamente.

“O Cerrado, savana com maior biodiversidade do planeta, corre o risco de sofrer perdas irreparáveis. A fauna e a flora desse bioma, fundamentais para a regulação climática e para a preservação de várias espécies, estão sob constante ameaça”, comentou Daniel Silva.

Segundo ele, o avanço do desmatamento não é apenas um problema ambiental, mas também uma ameaça à segurança hídrica e à qualidade de vida das populações que dependem desses ecossistemas. A devastação também prejudica as atividades produtivas, gerando um custo adicional às mudanças climáticas, com quedas de safras cada vez mais frequentes. 

“Por isso é essencial fortalecer a fiscalização, adotar políticas de incentivo ao uso sustentável da terra e promover o engajamento de todos os atores sociais, especialmente do setor agropecuário, para garantir que o Cerrado continue a ser preservado para as futuras gerações”, afirmou Silva.

Mariana Napolitano destacou a importância de lembrar que a Amazônia e Cerrado são biomas conectados e cruciais para a disponibilidade de água doce no restante do país, da qual dependemos não só para nossa segurança hídrica, mas também para a segurança energética. “É urgente, portanto, que a preservação desses biomas seja finalmente vista de maneira integrada, com políticas articuladas, de impacto nos dois territórios”, disse ela.

Este texto foi originalmente publicado por WWF Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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