Por Diogo Paiva em Jornal da USP — A virada do ano e o verão costumam aquecer as discussões sobre a busca por emagrecimento. No entanto, se feita da maneira incorreta, essa busca pode causar danos à saúde e não atingir os resultados esperados.
Taisa Alves Silva, mestranda em Nutrição e Metabolismo pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e membro do Nepoca – Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Obesidade e Comportamento Alimentar, explica as principais motivações por trás da vontade de emagrecer: “Esta época do ano traz uma ideia de fim e início de um ciclo e é marcada por muitas reflexões sobre diversas áreas de nossas vidas, como profissional, financeira, pessoal e surge o desejo de definir metas, renovar promessas. A esperança por mudanças e a renovação de metas também acontecem em relação à imagem corporal”.
Mas não é só o desejo pessoal por mudança que está por trás dessa vontade. “Um dos fatores que intensificam essa busca é a insatisfação com o próprio corpo gerada pela propagação de padrões estéticos, principalmente pelas redes sociais, onde há imposição do ideal de um corpo magro a ser seguido, associando a magreza a valores como sucesso e felicidade.”
Taisa comenta, ainda, que as pessoas costumam expor mais seus corpos nesta época do ano, o que pode constranger quem não se encaixa no que é considerado o “padrão corporal”.
Algumas pessoas buscam emagrecer por questões de saúde. Sobre isso, a especialista adverte: “É preciso reforçar que a perda de peso não é a solução para todos os problemas e que saúde não está diretamente relacionada à magreza, mas se trata de um conceito mais amplo, que envolve o bem-estar físico, mental e social”.
“Algumas pessoas com excesso de peso não apresentam outras condições de saúde associadas, como alterações dos níveis de colesterol, triglicerídeos, glicose ou insulina, sendo consideradas metabolicamente saudáveis. Por outro lado, há pessoas com corpos magros que apresentam essas alterações. Nesse sentido, é importante investigar o motivo da busca pela perda de peso. E, caso haja outras condições clínicas oficiadas, que elas possam ser olhadas e tratadas para além do peso.” A nutricionista destaca que uma redução de 5% no peso já pode ter efeito positivo sobre a pressão arterial e sobre os níveis de glicemia.
Taisa explica como deve ser realizada a busca por emagrecimento com segurança. “O emagrecimento não acontece de uma hora para outra e não envolve apenas a ingestão alimentar e o gasto energético, mas trata-se de um processo que abrange vários fatores, como biológicos, genéticos, socioculturais e ambientais.”
A nutricionista destaca a importância de buscar profissionais de saúde capacitados, que garantam que o emagrecimento aconteça da forma correta. “A mudança de comportamento envolve um conjunto de atitudes, como, por exemplo, compreender as consequências das restrições alimentares e pressões estéticas na saúde, entender os motivos que levam a pessoa a comer — inclusive as razões emocionais, como ansiedade, tristeza, estresse — e procurar se engajar em atividades físicas que são prazerosas, não somente pela queima de calorias. Além disso, resgatar as percepções de fome, de saciedade, dormir bem e respeitar que o corpo tem uma estrutura genética própria e que todo tipo de corpo, independentemente da forma, merece respeito.”
Taisa chama atenção para os principais erros cometidos durante a busca por emagrecimento. Entre eles, está um amplamente divulgado: as dietas.
“A longo prazo, a maioria das pessoas que fazem dietas recupera todo o peso perdido ou até mais”, conta. “As restrições podem alterar o metabolismo e os hormônios envolvidos na regulação do apetite, diminuindo o gasto de energia, aumentando a fome e diminuindo a saciedade, o que acaba gerando um ciclo de restrição e comer em excesso. Além disso, é provável que a perda rápida de peso seja consequência da perda de massa muscular e líquidos, e não necessariamente perda de gordura corporal.”
A nutricionista adverte sobre o perigo de buscar informações sobre emagrecimento com pessoas que não são capacitadas para falar disso. “Geralmente, pessoas que não são especializadas e divulgam formas de emagrecimento rápido, como shakes, alimentos milagrosos, exercícios extenuantes, assim como a mentalidade de dieta, responsabilizam unicamente o indivíduo pelo emagrecimento, atribuindo como falta de força de vontade quando o indivíduo não consegue seguir determinado comportamento, e desconsidera fatores fisiológicos, ambientais e psicossociais — além de contribuírem para a idealização e valorização da magreza, a insatisfação corporal e serem considerados fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares.”
Taisa cita como norte de alimentação saudável o Guia Alimentar para a População Brasileira, que traz sugestões como priorizar alimentos in natura ou pouco processados, valorizar pequenos agricultores e compartilhar o planejamento das compras, do preparo dos alimentos e das refeições com as pessoas de casa.
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