As embalagens biodegradáveis são um verdadeiro alívio na consciência de quem se preocupa com o meio ambiente, pelo menos em um primeiro momento. Mas esse outro tipo de embalagem também tem desvantagens. Entenda os usos, os prós e os contras de cada tipo de embalagem biodegradável.
Uma embalagem é considerada biodegradável quando é possível realizar o processo de decomposição naturalmente, ou seja, sua biodegradação.
A biodegradação é realizada por microrganismos como algas, fungos e bactérias, que convertem o material em biomassa, dióxido de carbono e água.
Uma das principais vantagens da embalagem biodegradável é que a sua permanência no ambiente é menor do que a das embalagens não biodegradáveis. Isso diminui as chances de efeitos nocivos, como sufocamento de animais, entrada na cadeia alimentar, contaminação por disruptores endócrinos, entre outros.
O plástico PLA, ou plástico de poliácido láctico, é um plástico biodegradável. Ele pode ser utilizado como embalagem alimentícia ou cosmética, bem como na produção de sacolas, garrafas, canetas, vidros, tampas, talheres, entre outros.
No processo de produção do plástico PLA, as bactérias produzem o ácido lático por meio do processo de fermentação de vegetais ricos em amido, como a beterraba, o milho e a mandioca.
Além de biodegradável, a embalagem feita de plástico PLA é reciclável mecânica e quimicamente, biocompatível e bioabsorvível.
O material é obtido de fontes renováveis (vegetais), e, quando descartado corretamente, transforma-se em substâncias inofensivas, porque é facilmente degradado pela água.
Quando pequenas quantidades de PLA passam da embalagem para os alimentos e acabam indo parar no organismo, não oferecem danos à saúde, pois são convertidas em ácido lático, uma substância alimentar segura e naturalmente eliminada pelo corpo.
A desvantagem da embalagem biodegradável de plástico PLA é que, para ocorrer a degradação adequada, é preciso que os descartes de plástico PLA sejam feitos em usinas de compostagem, onde há condições adequadas de luz, umidade, temperatura e quantidade correta de micro-organismos.
O problema é que, no Brasil, a maior parte dos resíduos acaba indo parar em aterros sanitários e lixões, onde não há garantias de que o material se biodegrade completamente. E, para piorar, normalmente as condições dos lixões e aterros fazem com que a degradação seja anaeróbia, ou seja, com baixa concentração de oxigênio, gerando a liberação de metano, um dos gases que mais contribuem para o efeito estufa.
Outra inviabilidade é o alto custo de produção de embalagem biodegradável de PLA, o que torna o produto um pouco mais caro do que os convencionais.
Além disso, as normas técnicas brasileiras, europeias e estadunidenses permitem a mistura do PLA com outros plásticos não biodegradáveis para melhorar suas características e, ainda assim, enquadram o material como biodegradável.
O plástico PHA é formado a partir de estruturas semelhantes ao plástico de petróleo. Ele é produzido a partir de bactérias submetidas a condições de escassez, como privação de nutrientes. Essa produção pode ser feita a partir de fontes de carbono, contribuindo para o sequestro de carbono.
O plástico PHA é biodegradável e natural, além de ser biocompatível e ter propriedades mecânicas parecidas com o plástico comum. Por isso, ele pode ser destinado a vários usos, de embalagens sustentáveis à produção de implantes médicos.
Isso porque ele pode ser considerado um material bioativo. Os materiais bioativos são aqueles que apresentam condições semelhantes às condições do organismo, sendo compatível com ele.
Apesar de vantajoso para o meio ambiente, o custo desse material é alto, pois é preciso manter os microrganismos vivos e em boas condições. Isso pode levar à busca de outras tecnologias.
Uma alternativa de baixo custo é a produção de plástico PHB. Ele consiste em uma forma simplificada do PHA, que utiliza materiais renováveis baratos para manter as bactérias.
A partir dessa tecnologia, foi descoberto um polímero em paredes celulares de espécies vegetais terrestres. O polímero, formado pela substância lignina, permite o aumento da produção de PHB e, sobretudo, de plásticos biodegradáveis.
Entretanto, para que a reação química ocorra, são necessários catalisadores (substâncias ativadoras) e uma grande quantidade de reagentes. Isso pode dificultar o processo de produção, aumentando a demanda de matéria-prima.
De acordo com um artigo, publicado por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), esse tipo de embalagem biodegradável é um plástico orgânico feito por meio da biossíntese de carboidratos da cana-de-açúcar, do milho, ou de óleos vegetais de soja e palma.
Assim como a embalagem biodegradável de PLA, a embalagem feita a partir do milho e da biossíntese pelas bactérias é biocompatível (não promove reações tóxicas e imunológicas) e biodegradável.
Entretanto, esse tipo de plástico não pode ser utilizado como embalagem alimentícia, pois pode contaminar os alimentos. Outra desvantagem é que ele é, em média, 40% mais caro do que as embalagens convencionais. Para saber mais sobre esse tema, dê uma olhada na matéria: “Bactérias + milho = plástico“.
Além disso, é possível um produto similar produzido a partir do amido de milho. As embalagens de amido de milho são semelhantes ao plástico convencional, porém 100% biodegradáveis e compostáveis.
Essa embalagem biodegradável feita a partir de cogumelo é uma invenção da Ecovative, uma empresa de design.
O produto é feito a partir de raízes de cogumelos crescidas em folhas mortas, húmus e uma variedade de substâncias, que levam a materiais de diferentes texturas, flexibilidade e durabilidade. Além de biodegradável, o material é comestível (mas não é aconselhável ingeri-lo).
As desvantagens da embalagem biodegradável de cogumelos são o custo elevado e o fato de ser potencialmente competitiva com recursos que poderiam ser utilizados para produzir alimentos.
Grandes empresas, como a Nestlé, dizem não investir em embalagens biodegradáveis por não quererem que sua demanda de embalagens reduza o suprimento de alimentos, principalmente em um contexto de fome global.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) desenvolveu uma embalagem plástica biodegradável, feita a partir de uma proteína do leite capaz de proteger os alimentos da ação degradante do oxigênio.
A embalagem pode ser usada em caixas de pizza, queijos ou até mesmo como pacote para sopa solúvel – e pode ser dissolvida junto com o alimento em água quente.
O produto poderia até servir como um substituto para o açúcar usado para revestir flocos de cereais, a fim de evitar que eles murchem muito rápido, e, além de biodegradável, é comestível.
A engenheira química Laetitia Bonnaillie, pesquisadora do USDA, acredita que essa versão de embalagem plástica comestível tem potencial para ter sabores ou micronutrientes adicionados a ela.
Entretanto, cabem aqui os mesmos questionamentos feitos em relação às embalagens de fungos: altos custos e impasses sobre a razoabilidade de destinar recursos para embalagens comestíveis em vez de investir diretamente em alimentos.
Além disso, pessoas com alergia à proteína do leite e aquelas preocupadas com os direitos animais, como os veganos, têm se manifestado contra a utilização do produto em larga escala.
O Wyss Institute for Biologically Inspired Engineering, em Harvard, extraiu quiitosana, um polissacarídeo do camarão e das lagostas, para desenvolver a embalagem biodegradável chamada shrilk.
A embalagem pode substituir caixas de ovos e embalagem de verduras. Entretanto, o material é caro e carrega os mesmos impasses de todas as embalagens comestíveis feitas a partir de animais: concorrência com alimentos e questionamentos sobre os direitos animais.
Cascas que sobram de tomates processados podem servir como revestimento biodegradável de enlatados. Apesar de a lata não ser biodegradável, o revestimento é, e a vantagem principal é que ele não é nocivo para a saúde como os revestimentos atuais, de bisfenóis, que são disruptores endócrinos e causam danos à saúde humana e ao meio ambiente.
Chamado Biopac Plus, o revestimento biodegradável pode ser utilizado para embalar tomates, ervilhas, azeitonas e qualquer tipo de alimento enlatado.
As embalagens sustentáveis de fibra de coco foram desenvolvidas principalmente para embalar alimentos. Diferente de alguns tipos de plástico – como os que possuem bisfenóis –, as embalagens de fibra de coco não são nocivas ao organismo humano.
Além disso, são embalagens sustentáveis, pois não demandam muita tecnologia para serem desenvolvidas, são feitas a partir de matéria-prima nacional, podem voltar para a fábrica para serem recicladas e podem ser biodegradadas se colocadas no solo.
As embalagens de papel reciclado também são embalagens sustentáveis. Elas foram desenvolvidas principalmente para exercer a função de proteção de utensílios que precisam ser carregados.
Os principais benefícios das embalagens de papel reciclado são o aumento do tempo de vida do produto e a maximização do valor extraído das matérias-primas. Outra vantagem é a energia economizada. Porém, cada vez que o papel passa pelo processo de reciclagem perde a qualidade e, consequentemente, a possibilidade de ser reciclado.
As embalagens de fécula de mandioca também fazem parte da categoria de embalagens biodegradáveis. Elas são compostáveis, biocompatíveis e recicláveis.
No entanto, seu custo é maior que o dobro do que se paga pelo isopor e elas só podem ser utilizadas para alimentos secos ou de consumo imediato. Do contrário, ao entrar em contato com umidade por muito tempo, se desmancham.
Uma jovem catarinense criou embalagens biodegradáveis para substituir o isopor. Sayuri Magnabosco, quando ainda cursava o ensino médio, utilizou bagaço de cana-de-açúcar para fazer um material que se decompõe em apenas um mês, substituindo o isopor.
Os custos e o potencial para que o material seja implantado em larga escala, no entanto, não foram contabilizados.
A embalagem oxibiodegradável é feita a partir de plástico comum (derivado do petróleo), com aditivos pró-degradantes. Esses aditivos aceleram a fragmentação do material com ajuda da ação do oxigênio, luz, temperatura e umidade.
Entretanto, a biodegradabilidade do material gera controvérsia, pois o tempo de biodegradação do plástico fragmentado (que será microplástico) será o mesmo do plástico comum.
Combater a poluição por plástico envolve mais do que apenas procurar novos materiais.
Mesmo com o uso de uma embalagem biodegradável, ecológica ou compostável, o descarte e a má gestão desses resíduos não deve ser encorajado.
Em artigo sobre polímeros publicado na Scielo Brasil, José Carlos Pinto, professor integrante do quadro do programa de engenharia química da COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, questiona, com relação aos plásticos, a crença de que o ecologicamente correto é ser biodegradável.
Ele aponta para a urgência da percepção de que, se o material plástico se degradasse do modo como ocorre com alimentos e dejetos orgânicos, o resultante da degradação (por exemplo, metano e gás carbônico) iria parar na atmosfera e em mananciais aquíferos, contribuindo para o aquecimento global e para a degradação da qualidade da água e dos solos.
Ele acredita na reversão da poluição gerada pelo material por meio da educação ambiental e de políticas de coleta de resíduos e rejeitos.
Descreve também que o fato dos plásticos não se degradarem facilmente caracteriza um diferencial que lhes dá a possibilidade de reutilização por muitas vezes, sua reciclabilidade, fator determinante ao enorme potencial de contribuição para a redução no consumo de matérias-primas, energia e racionalização do uso dos recursos naturais disponíveis, que se aproxima do conceito de Economia Circular.
Dessa forma, as embalagens sustentáveis podem se apresentar como opções alternativas às biodegradáveis. São consideradas embalagens sustentáveis principalmente as feitas de material orgânico ou recicláveis, que não demandam muita energia e recursos naturais em sua produção e que, após o descarte, tenham impactos ambientais reduzidos, podendo ser medidos por meio da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de produtos.
Além do mais, a biodegradabilidade das embalagens não pode servir de desculpa para o descarte incorreto. Ela é apenas uma forma de mitigar os impactos ambientais dos descartes feitos de forma incorreta.
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