Emergência climática e comunicação

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Por Patricia Mariuzzo, do Jornal da UNICAMP | Como  tornar mais eficiente a comunicação da emergência climática? Como engajar os diversos atores em iniciativas concretas para reduzir as emissões globais de CO2? Como reunir esforços de governos, sociedade civil e setores privados para mitigar o impacto da mudança climática? Para discutir estas questões, a Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja)da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) e a rede de comunicação FervuraNoClima organizam o webinário internacional “A comunicação da emergência climática. Desafio à ciência, aos direitos humanos e à democracia”.

Com mais de 1,5 mil inscritos até o momento, o webinário acontecerá de 20 a 24 de junho, das 14 às 16h, e reunirá jornalistas, pesquisadores e ativistas. “Resolvemos realizar um evento para apresentar um campo de pesquisas ainda novo no Brasil e de importância estratégica para o combate às mudanças ambientais globais: a comunicação dos problemas ambientais”, afirma Néri de Barros de Almeida, da Cameja, uma das organizadoras do webinário. “A temperatura do mundo aumentou em mais de 1 grau, um dos acontecimentos mais importantes da história! Não há alternativa senão falar sobre o tema”, diz o jornalista norte-americano Matthew Shirts, coordenador do FervuraNoClima, plataforma de notícias dedicada à emergência climática que co-organiza o evento.

Os problemas ambientais estão bem documentados pela ciência, assim como os diversos cenários futuros correlatos às possíveis formas de enfrentá-los. No entanto, a fundamental interlocução entre ciência e sociedade ainda é um desafio. Para Néri de Barros, existem nesse aspecto dificuldades de ordem cognitiva: “como fazer as pessoas se envolverem com fatos tão dolorosos, em escala tão ampla, e tão novos em relação às ferramentas sociológicas com as quais costumamos pensar? Como promover conhecimento com convencimento e engajamento para que as mudanças sociais aconteçam na escala exigida pelo problema? No processo de educação para uma nova realidade planetária, como evitar ou minimizar formas de adoecimento que já afetam a população, como a ansiedade e o estresse climáticos, contornando o sofrimento, mas também a apatia e a inação? Por fim, como garantir espaço para a comunicação sem dar ensejo a discursos violentos e excludentes, que advogam resgatar uma suposta ordem do mundo às custas de mentira, perseguição e subjugação dos direitos da maioria? A comunicação da emergência climática lida com esses problemas”, pontua.

Urgência – Publicado em 2021, o sexto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) afirmou não restarem dúvidas de que o atual modelo de desenvolvimento é responsável pelo aquecimento do planeta, fenômeno que ameaça a continuidade da espécie humana, caso não sejam tomadas, até 2030, atitudes com resultados eficazes. As soluções contemplam ações e projetos sistêmicos em escala local e planetária. “É crucial abandonar os combustíveis fósseis, cessar o desmatamento e reduzir o consumo de carne bovina. São mudanças que exigirão investimentos financeiros e tecnológicos. Mas é igualmente importante uma boa comunicação, para que as pessoas entendam e se engajem nesse processo”, destaca Matthew. “Precisamos superar a atual postura dos governos e empresas, que têm protelado ações urgentes, mais eficazes e consequentes, e da população, que reivindica pouco e, quando age, o faz em nichos de ação. Precisamos de uma mudança radical da cultura que envolva uma visão científica abrangente. Embora a ação local seja crucial, a segurança e a efetividade das ações dependem de sua realização também em perspectiva planetária”, argumenta Néri.

Para ela, o primeiro passo é superar o negacionismo. “O pequeno produtor, assustado com os danos à sua safra pela falta ou excesso de água, frio ou calor, precisa conhecer e acreditar na produção sustentável, e os governos precisam investir recursos para viabilizar econômica e tecnologicamente essas soluções”, diz. “Nesse sentido, as universidades podem desempenhar um papel de liderança, por meio de suas comunidades, preparadas para oferecer soluções inclusivas que garantam segurança e bem-estar”, complementa.

O desafio de comunicar ciência – Ampliar a comunicação sobre as mudanças climáticas e engajar os diferentes públicos em ações concretas pressupõe a boa divulgação científica. Segundo Néri, dois elementos a dificultam. Por um lado, o avanço de uma corrente mundial antidemocrática, que promove fake news, desmoraliza a ciência, os cientistas e suas instituições e boicota a pesquisa, dificultando o acesso aos recursos. Por outro lado, há uma relação ainda distante entre ciência e sociedade. A abordagem científica da escola não garante ao cidadão autonomia para a leitura de dados, e a linguagem acadêmica é pouco acessível. “Isso tem sido transformado pelo crescente envolvimento da academia com a divulgação científica. A pandemia impulsionou essas iniciativas, pois facilitou o acesso a novos públicos, atentos ao que se passava na internet”, acredita a pesquisadora.

Um bom ponto de partida para lidar com a emergência climática está na excelente comunicação realizada pelo conjunto de jornalistas, ativistas e cientistas. Alguns deles estarão discutindo boas iniciativas no webinário. “Discutir o aquecimento global e as mudanças climáticas abre possibilidades para um mundo com menos ruído, menos poluição, e melhor do que conhecemos”, acredita Matthew. “O enfrentamento à emergência climática deve se tornar uma característica do nosso modo de vida, um objetivo e uma responsabilidade permanente. A cooperação, a participação, o diálogo, o respeito e a solidariedade em torno dessa pauta devem se tornar a tônica da atuação das diferentes sociedades do planeta”, finaliza Néri.

Serviço – O webinário internacional “A comunicação da emergência climática. Desafio à ciência, aos direitos humanos e à democracia” tem início em 20 de junho, às 14h. Conheça a programação completa e faça a sua inscrição pelo link.

Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da UNICAMP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Equipe eCycle

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